Para ganhar da alta dos preços, será necessário um sacrifício temporário: o investidor terá de suportar uma perda de parte da rentabilidade (Andersen Ross Photography Inc/Getty Images)
Marília Almeida
Publicado em 12 de janeiro de 2021 às 06h20.
Última atualização em 19 de janeiro de 2021 às 16h48.
Você tem no seu portfólio de investimentos um Certificado de Recebível Imobiliário (CRI), um Certificado de Recebível do Agronegócio (CRA) ou um título bancário que paga o equivalente a 99% do CDI e vence em até dois anos? Saiba que é melhor vendê-lo de forma a não perder para a inflação e ter um prêmio muito baixo pelo risco do título. É o que recomenda Odilon Costa, analista de renda fixa do BTG Pactual digital.
O rendimento desses títulos, vendidos até meados de 2019, foi afetado pela queda forte da taxa Selic, ao mesmo tempo em que a inflação voltou a subir. "Carregar esses títulos não faz sentido, pois eles não estão atendendo a nenhum requisito da renda fixa: estão perdendo para a inflação e o investidor está correndo risco de crédito, mesmo que seja de uma empresa triple A (nota de crédito), por um prêmio que é zero", afirma o especialista.
Para ganhar da alta dos preços, será necessário um sacrifício temporário: ao vender o título, o investidor terá de suportar uma perda de parte da rentabilidade. Isso porque ativos que antes pagavam 99% do CDI são atualmente negociados a taxas bem superiores no mercado secundário.
A taxa de mercado de alguns títulos bancários e corporativos com esse perfil gira em torno de 130% a 150% do CDI dependendo do risco de crédito, do prazo e da liquidez. A taxa aumentou porque o interesse por esses títulos curtos caiu. Essa é uma característica de títulos: preço do título e sua remuneração no mercado são inversamente proporcionais.
Mas Costa esclarece que, ao adquirir outro título mais longo indexado à inflação, a perda será recuperada em questão de apenas alguns meses. "Muitas vezes o investidor vê a taxa de venda do título e se assusta. Mas o fato é que é necessário calcular para entender."
Como o tempo de recuperação é relativamente curto, Costa avlia como atrativa a oportunidade de estancar o retorno abaixo da inflação em um título curto com a compra de papéis mais longos.
Veja abaixo os cálculos que comparam as duas situações para quem tem um título de curto prazo que perde para o CDI:
Nesse caso, a remuneração até o vencimento será de 99% do CDI (taxa contratada). Considerando a curva de juros para um ano, o retorno esperado (2,96%) é muito baixo e não remunera nem a inflação esperada para o período (3,34%).
O cálculo da remuneração esperada corresponde a:
taxa referente ao prazo (duration) na curva de DI Futuro x % do CDI na compra x duration
2,99% x 99% x 1 ano = 2,96%
Nesse cenário, o investidor tem a opção de vender o papel a 140% do CDI para adquirir um título que paga IPCA + 4% ao ano. A perda com a venda será de aproximadamente 1,23% (diferença negativa entre o preço de mercado e o preço original do título).
O cálculo simplificado desse prejuízo temporário corresponde a:
taxa referente ao prazo (duration) na curva de DI Futuro x (% do CDI na compra – % CDI na venda) x duration
2,99% x (99% - 140%) x 1 ano = -1,23%
Ao adquirir um título mais longo com uma taxa maior (exemplo IPCA+ 4%), o carrego já líquido da “perda” no primeiro ano da nova operação será de IPCA + 2,77% (IPCA + 4,00% – 1,23%). Considerando a inflação projetada até o final do ano (3,34%), o valor perdido é recuperado em aproximadamente 2 meses.
O cálculo simplificado do tempo de recuperação do investimento com o alongamento é:
perda na venda do título %CDI / [taxa do título adquirido (carrego) + IPCA projetado no período] x 12 meses
1,23/(4%+3,34%) x 12 meses = 2 meses
A perda dependerá do prazo (duration) do título e da taxa de saída. Quanto maiores, maior será a perda. No caso de uma saída com taxa de até 160% do CDI e um prazo (duration) de 1 ano, a recuperação do rendimento deixado na mesa acontece em aproximadamente 3 ou 4 meses, assinala Costa. Veja abaixo os exemplos:
Perda esperada com a venda de um título curto comprado a 99% do CDI
Prazo (duration) - anos | ||||
Taxa venda (% CDI) | 0,50 | 1,00 | 1,50 | 2,00 |
130% | -0,33% | -0,93% | -1,79% | -2,80% |
140% | -0,44% | -1,23% | -2,37% | -3,70% |
150% | -0,55% | -1,52% | -2,95% | -4,60% |
160% | -0,65% | -1,82% | -3,52% | -5,50% |
170% | -0,76% | -2,12% | -4,10% | -6,40% |
Tempo esperado de recuperação com a compra de um título longo (IPCA+) em meses
Carrego de 12 meses do título longo (IPCA+) | ||||
"Perda" na venda | 2,50% | 3,00% | 3,50% | 4,00% |
-0,50% | 1,03 | 0,95 | 0,88 | 0,82 |
-1,00% | 2,05 | 1,89 | 1,75 | 1,63 |
-2,00% | 4,11 | 3,79 | 3,51 | 3,27 |
-3,00% | 6,16 | 5,68 | 5,26 | 4,90 |
-4,00% | 8,22 | 7,57 | 7,02 | 6,54 |
Retorno esperado até o vencimento
Prazo (duration) - anos | ||||
Título | 0,50 | 1,00 | 1,50 | 2,00 |
100% CDI | 1,06% | 2,99% | 5,83% | 9,22% |
IPCA + 2,50% | 2,88% | 5,84% | 10,05% | 13,23% |
IPCA + 3,00% | 3,12% | 6,34% | 10,82% | 14,30% |
IPCA + 3,50% | 3,36% | 6,84% | 11,60% | 15,37% |
IPCA + 4,00% | 3,61% | 7,34% | 12,38% | 16,45% |