É importante pesar prós e contras antes de decidir sacar o dinheiro no fundo de previdência da empresa (fotogestoeber.de/Getty Images)
Bianca Alvarenga
Publicado em 26 de março de 2021 às 06h05.
Última atualização em 26 de março de 2021 às 15h49.
Os planos de previdência privada oferecidos pelas empresas costumam ser um bom atrativo na hora da contratação. Isso porque o fundo da aposentadoria corporativa geralmente é composto por aportes feitos tanto pelo trabalhador quanto pela empresa. Mas ao pedir demissão ou ser demitido, o funcionário se depara com uma trava: para sacar os recursos antes do prazo ele deve abrir mão de tudo ou de parte do que a empresa depositou.
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Como a regra de participação chega a ser de 50/50 (ou seja, o empregador deposita exatamente o mesmo valor que o trabalhador aplicou), a perda de patrimônio do plano chega a 50%.
Manter ou não o plano de aposentadoria do antigo empregador costuma ser um dilema, pois a maioria dos planos está atrelada a um fundo de renda fixa, cujo rendimento tem ficado abaixo do CDI. Daí surge a dúvida: vale a pena sacar a previdência corporativa, mesmo perdendo parte do saldo?
"É preciso colocar na conta o valor da contribuição da empresa que será perdido, pois essa é uma perda imediata de patrimônio que precisa ser compensada por um retorno maior no novo investimento. Quanto maior a perda, menor a probabilidade de valer a pena o resgate", explica Samuel Torres, analista de investimentos da Onze, fintech que atua no setor de previdência privada.
Ou seja: a troca só começa a fazer sentido se os recursos forem aplicados em um fundo de previdência ou outro investimento com maior risco e rentabilidade.
A pedido da EXAME Invest, a Onze fez uma simulação para calcular em qual situação valeria a pena sacar a previdência privada, mesmo perdendo parte do patrimônio.
Levando em conta uma redução de 50% do patrimônio do fundo, que costuma ser a "multa" para o saque antecipado, o novo fundo precisaria atingir um rendimento substancialmente maior para recompor o patrimônio perdido.
Não há expectativa de que a taxa Selic, que orienta o retorno dos ativos de renda fixa, vá voltar para os dois dígitos. Sendo assim, dificilmente um outro fundo conservador conseguirá prover esse rendimento anual.
Embora a maior parte dos recursos de previdência esteja aplicada em fundos de renda fixa, existem produtos de aposentadoria que alocam recursos em fundos multimercados ou fundos balanceados, que possuem um grau de risco maior.
O potencial de rendimento desses fundos em longo prazo é maior, pois eles investem em ativos como ações, juros e moedas. No entanto, tais fundos tendem a ter uma volatilidade maior e podem até ter rendimento negativo em algumas janelas de tempo.
"Fundos de ações têm um retorno esperado maior do que fundos multimercado, que, por sua vez, tendem a ter um retorno superior a fundos de renda fixa. Mas isso não quer dizer que as pessoas devam colocar toda sua previdência em fundos de maior risco", adverte o analista da Onze.
Por terem volatilidade maior, os fundos de previdência que investem em ativos de renda variável não são indicados para quem está perto de se aposentar, por exemplo. Antes de fazer qualquer troca, é importante atentar-se à adequação do investimento ao seu perfil e aos seus objetivos de vida.
Torres lembra que quem tem um horizonte de investimento curto e tem a previdência concentrada em um fundo de ações pode se ver obrigado a iniciar os resgates em um momento de mercado bastante inoportuno, realizando perdas.
Ninguém consegue prever o comportamento de ativos ao longo dos próximos anos, mas é possível fazer uma simulação do desempenho de diferentes ativos em médio e longo prazo para avaliar em qual ponto a relação de risco-retorno da troca de previdência começa a valer a pena.
Com base no desempenho dos fundos de previdência de renda fixa e multimercados entre 2015 e 2020, a Onze projetou a evolução de patrimônio desses fundos ao longo de 20 anos. Aqui vale lembrar a regra de ouro dos investimentos: rentabilidade passada não é garantia de retorno futuro. Trata-se apenas de um exercício para estimar cenários possíveis.
A simulação leva em conta uma aplicação inicial de 10 mil reais e aportes anuais de 1.200 reais. Não foi considerada a possível volatilidade dos ativos (ou seja: o rendimento usado no cálculo é uma média e, portanto, é linear).
Veja abaixo:
É importante notar como as duas curvas se distanciam cada vez mais ao longo do tempo. Para quem pensa em usar os recursos do fundo de previdência no curto prazo, o potencial ganho pode não compensar o risco de desvalorização dos ativos de maior volatilidade.
No entanto, quanto maior for o período, maior a chance de o retorno potencial valer a pena. Em 20 anos, por exemplo, um fundo multimercado pode ter um patrimônio até 60% superior a um fundo de renda fixa, como mostra a simulação.
"Investir em fundos de renda fixa de baixíssimo risco também tende a não ser uma boa opção, apesar de ser o que a maioria das pessoas faz. Isso porque esses fundos tendem a ter um retorno baixo no longo prazo, o que dificulta a acumulação de patrimônio suficiente para se aposentar com o mesmo padrão de vida", recomenda Torres, da Onze.