Instalações da Minerva em Barretos, SP (Ricardo Benichio/Exame)
Anderson Figo
Publicado em 29 de janeiro de 2018 às 05h00.
Última atualização em 29 de janeiro de 2018 às 05h00.
Os detentores de títulos de dívida emitidos pela Minerva não conseguiram aproveitar os ganhos recentes dos títulos corporativos brasileiros. Segundo investidores, os papéis do frigorífico ficaram caros demais em meio a preocupações com a alavancagem da empresa. Além disso, uma onda de emissões de títulos no mercado doméstico aumentou a concorrência nessa classe de ativos.
Os títulos da Minerva com vencimento em 2026, no valor total de US$ 1,35 bilhão, bateram recorde a 104,4 por cento do valor de face em 6 de novembro, mas recuaram desde então para 100,98 por cento. Com isso, o rendimento do bônus no mercado secundário subiu de 5,86 por cento para 6,35 por cento. Excluindo os papéis da construtora Odebrecht, é o pior desempenho entre os títulos de dívida das empresas brasileiras, que, na média, tiveram ganho de 1,6 por cento no período.
Os títulos da Minerva passaram a enfrentar maior concorrência após uma série de emissões recentes. Empresas como Oncologia Rede D’or e Hidrovias do Brasil emitiram US$ 7 bilhões em dívidas de grau especulativo, semelhantes às da Minerva, nos últimos dois meses.
Essas ofertas deram aos investidores mais oportunidades de diversificação, prejudicando títulos considerados sem potencial de valorização adicional, de acordo com Ian McCall, que ajuda a administrar US$ 190 milhões em ativos de mercados emergentes na First Geneva Capital Partners.
McCall observa que a alavancagem da Minera é elevada e deve permanecer assim por mais algum tempo após a aquisição, no ano passado, de ativos da JBS no Paraguai, Uruguai e Argentina. "A companhia repetidas vezes indicou que iria diminuir a alavancagem e consistentemente não entregou o prometido", disse McCall.
A Minerva, entre os concorrentes globais, é quem gasta a maior fatia dos lucros operacionais com o serviço da dívida, de acordo com dados compilados pela Bloomberg. Os recentes investimentos em expansão levantaram dúvidas sobre a sua capacidade de reduzir a alavancagem. Atualmente, a dívida líquida da empresa equivale a 4,2 vezes o lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (EBITDA).
A Minerva continuará queimando caixa neste ano devido ao aumento da necessidade de capital de giro após a expansão recente em meio a um cenário menos favorável do que o esperado para o custo com a aquisição de boi gordo, afirmou Gustavo Gregori, analista de renda fixa do Bradesco BBI, em relatório enviado a clientes na quarta-feira.
"Acreditamos que a Minerva vai demorar mais para se desalavancar", afirmou o analista, que rebaixou para neutra a sua recomendação para os títulos da Minerva. Em dezembro, a Minerva emitiu US$ 500 milhões em títulos com vencimento em 2028 e rendimento de 6,13 por cento para abater dívidas mais caras e ampliar prazos.
Desde então, os títulos caíram para 96,68 por cento do valor de face, elevando o rendimento para 6,32 por cento. A Minerva se recusou a comentar sobre o desempenho dos títulos.
Na semana passada, a companhia anunciou que o diretor financeiro Edison Ticle, que assumiu o cargo em 2010, vai sair no fim do mês. O fato de a empresa não ter explicado as razões para a saída ou nomeado um sucessor causou apreensão entre os investidores, o que também pode ter prejudicado o desempenho dos títulos, disse Soummo Mukherjee, estrategista da Mizuho Securities USA.
A Minerva também se recusou a comentar sobre Ticle.Ainda assim, Mukherjee recomenda a compra de títulos da Minerva diante do cenário favorável para o setor de carnes no Brasil."Fundamentalmente ainda não vi nada pra mudar a trajetoria de melhora que sustenta minha recomendação", ele disse.