Volta ao mundo: casais de brasileiros gastaram cerca de 100.000 reais para conhecer o planeta
Gabriela Ruic
Publicado em 11 de outubro de 2011 às 20h47.
São Paulo – Quem nunca pensou em dar uma volta ao mundo nem quando era jovem? Pois saiba que, com um bom planejamento, alguém obstinado já consegue fazer uma longa viagem pelos cinco continentes sem gastar tubos de dinheiro. A vida profissional é outro grande empecilho. Afinal, ninguém quer deixar um bom cargo de lado quando a carreira começa a deslanchar. Mas essa é outra barreira que pode ser vencida.
Eder Rezende e Fabiana Guimaro são um ótimo exemplo de que é possível deixar a vida profissional em segundo plano e viajar por 460 dias. Os dois tinham empregos estáveis, carro comprado e apartamento quitado. Planejaram as finanças, pediram demissão com três meses de antecedência para evitar uma saída conturbada, venderam o carro e ainda conseguiram alugar o apartamento em que moravam para um casal de amigos recém-casados, o que ajudou a garantir uma renda mensal para manter as contas em dia.
Os dois calcularam um gasto médio diário de 80 dólares para ambos, sendo a Europa o lugar no qual foi mais difícil se manter dentro do estipulado. Com absolutamente todas as despesas, Eder e Fabiana gastaram 100.000 reais. Quando retornaram ao Brasil, Eder estava 12 kg mais magro e a Fabiana acabou recebendo uma boa proposta para retornar ao antigo emprego. Hoje ambos ainda têm tempo para tocar um blog com dicas preciosas para quem quer enfrentar essa empreitada, o Quatro Cantos do Mundo.
Outro casal que seguiu por este caminho é Claudia Oliveira e Evandro Prieto, que juntaram parte do salário durante um ano e quatro meses. Com inteligência, aplicaram a quantia para aumentar as reservas e aproveitar o máximo do que estaria por vir. “Deixamos 30% da quantia em ações da bolsa, 55% na poupança e 15% num fundo de ações”, explicou Cláudia. Quando chegaram numa quantia razoável deixaram pra trás o trabalho como gerentes de projeto num grande banco e rodaram, literalmente, o mundo.
Viajaram por 18 países e 97 cidades, em 5 meses. Por dia, gastaram cerca de 200 dólares, contando despesas com alimentação, hospedagem, transporte e, por que não, uma comprinha ou outra. Ao todo, gastaram exatos 100.909,34 reais.
Transporte aéreo
Atualmente, três grandes alianças de companhias aéreas oferecem serviços de tarifas para quem quer viajar pelos sete continentes: a Star Alliance, que no Brasil é representada pela TAM, a SkyTeam, que conta com Air France e KLM, e a One World, formada pela American Airlines e a British Airways. As chamadas tarifas de volta ao mundo (RTW, do inglês Round the World) são uma forma interessante de economizar em relação à compra de passagens avulsas. O custo total é bem variado - depende muito do itinerário desejado.
A Star Alliance foi a escolhida por Claudia e Evandro, que pagaram 14.479,24 reais no pacote, para o casal. Fizeram diversas simulações até encontrarem uma tarifa que se adequasse ao itinerário desejado e tentaram diminuir o máximo possível a distância entre os trechos que foram percorridos de avião, pois o valor dos pacotes da aliança são estipulados de acordo com a distância em milhas.
Outro viajante que também optou pela RTW da Star Alliance é Fernando Russo, que já viajou três vezes ao redor do globo. O pacote adquirido custou entre 2.400 e 3.000 dólares e lhe permitiu viajar por 12 países em 50 dias. O total gasto por ele, que na época tinha 27 anos e viajou sozinho, foi de 12.000 dólares.
Uma das desvantagens na utilização deste tipo de pacote aéreo é que o trajeto tem de ser previamente estabelecido. Apostar na remarcação ou mudança de itinerário no meio do caminho vai pesar na planilha dos gastos. Na Star Alliance, por exemplo, cada remarcação pode custar 100 dólares. Para não ficar “preso” ao pacote, Fernando usou as capitais como base e de lá, viajava para outras cidades usando outros meios de transporte.
Diferentemente da maioria, Eder e Fabiana optaram por não comprar os famosos pacotes. “Nossa viagem tinha um planejamento, mas optamos pela liberdade de escolher o nosso itinerário”, explicaram. “Preferimos percorrer trajetos curtos entre os países e usávamos avião apenas para cruzar oceanos”, explicou Eder. Durante o tempo que ficaram fora, viajaram de bicicleta, trem, ônibus, avião e até caminhão - na África.
Despesas gerais
Quando se opta por produtos oferecidos por parcerias entre empresas aéreas, por exemplo, ou parte de cadeias de hotéis, os custos com hospedagem e passagens acabam ficando mais em conta. Isso vale na hora de procurar um leito. “Cadeias de hotéis têm tarifas atrativas e, dependendo do número de viagens e utilização dos estabelecimentos, os preços caem e o viajante ainda pode participar de programas de pontuação”, aconselha Gisele Denck, gerente de operações da Carlson Wagonlit Travel.
Pra quem quer economizar ainda mais, uma saída é optar pelo uso de albergues, que, assim como os hotéis, atualmente já se organizam em alianças e já oferecem filiais em diferentes países e cidades. O HostelWorld.com é um site que abrange 24.000 estabelecimentos, entre albergues e hotéis de baixo-custo em 180 países. Foi através dele que Russo escolheu e reservou os albergues.
De acordo com ele, uma boa estratégia é planejar a quantidade de dias que vai ficar num país com base na realidade econômica local. A máxima é “países mais caros, menos dias, e países mais baratos, mais dias”.
Outra opção, recomendada por nove entre dez viajantes de todas as idades e classes é o CouchSurfing (CS), uma comunidade formada por milhares de pessoas e que está presente em 280 países diferentes. A premissa da comunidade é “um mundo melhor, um sofá de cada vez”. Os usuários cadastrados podem oferecer hospedagem gratuita, não necessariamente em um sofá, para pessoas que estiverem de passagem por uma cidade.
Para quem acha que essa é uma opção para jovens à procura de aventura, solteiros ou em grupos de amigos, saiba que este foi o sistema preferido de hospedagem dos casais entrevistados. Para Eder e Fabiana, o que soou como uma ótima ideia para enxugar os gastos de quem ia ficar mais de um ano na estrada, transformou-se em numa vivência cultural. Eles lembram com carinho das experiências com a comunidade virtual e contam que usaram o sistema em vários países.
Quando o assunto é comida, Russo diz que, por ter viajado sozinho, não se preocupou em manter um orçamento formal para alimentação e optou por comer em mercados e feiras de rua por considerar a melhor maneira de se manter próximo aos costumes dos locais que visitou.
Já Eder e Fabiana, que rodavam em média 15 km por dia, seja à pé ou de bicicleta, aproveitavam a comodidade de estarem hospedados na casa de uma pessoa, quando no CS, para cozinhar. Quando em albergues, davam preferência para os que ofereciam cozinha e lá preparavam as refeições. Na Ásia, no entanto, comer já não era tão custoso como na Europa e cozinhar também não era tarefa fácil. “Acabávamos em restaurantes pequenos, locais e que eram, por consequência, mais baratos”, contam.