Criptomoedas: (Julia Trokur/Shutterstock)
Marília Almeida
Publicado em 7 de fevereiro de 2019 às 16h10.
Última atualização em 11 de fevereiro de 2019 às 22h28.
São Paulo - Nessa semana um caso inusitado pode ter colocado muitos investidores de criptomoedas em alerta: uma corretora do Canadá, a QuadrigaCX, congelou acesso a diversas carteiras com investimento de seus clientes depois que seu fundador morreu. Os investidores ficaram impedidos de acessar 190 milhões de dólares. O motivo? Supostamente só o dono da corretora tinha a senha para acessá-las.
Outros casos como esse podem acontecer, já que as corretoras de criptomoedas não têm qualquer regulação que exija, por exemplo, que tenham senhas múltiplas para acessar as chamadas carteiras frias de clientes, que armazenam a maior parte dos ativos. "É simples criar chaves múltiplas para acessar o cofre de vidro do blockchain: há tecnologia para isso", diz Tatiana Revoredo, especialista em blockchain e autora do livro "Criptomoedas no cenário internacional".
Contudo, é difícil para o investidor saber quem oferece boas práticas de segurança, como as senhas múltiplas. Não há hoje, por exemplo, nem mesmo uma certificação que constate que a empresa usa a tecnologia.
Portanto, a recomendação de Tatiana é se precaver. "Quem transaciona criptomoedas e as deixa 'sob custódia' de uma corretora não entende o conceito desse mercado. A ideia das criptomoedas e justamente eliminar intermediários. Não há sentido em deixar o dinheiro parado em uma corretora. Dessa forma, ele está correndo riscos".
O ideal é transacionar a moeda e colocá-las em uma carteira individual, assim como se faz em corretoras de moedas tradicionais, aconselha Tatiana. "Ele compra ou vende a moeda e depois transfere os recursos para a sua carteira virtual. Essas carteiras são acessíveis, podem ser gerenciadas pelo celular e são seguras. Caso contrário, a própria QuadrigaCX não estaria tendo problemas para acessá-las".
A opinião é compartilhada por Felipe Trovão, sócio da bolsa da corretora Foxbit responsável pela área de compliance. "Você busca uma corretora para comprar e vender moedas. Não tem por quê deixar o ativo custodiado nela. Realizar essa transferência já reduz bastante os riscos".
Para ter uma carteira própria de criptomoedas, basta baixar um software e criar uma senha. Caso ela seja gerenciada pelo celular, é aconselhável criar uma senha para acessá-lo.
Boas práticas
Trovão ressalta que na Foxbit ao menos três pessoas têm acesso às senhas das carteiras, e uma delas mora no exterior. Por conta disso, a corretora não teve problemas quando seu fundador, Guto Schiavon, morreu em dezembro. "Se um avião cai hoje em cima da Foxbit e todo mundo morre, ainda haverá alguém que tem a senha lá fora. Além disso, somos bastante discretos e procuramos não divulgar quem tem as senhas, e também não fazer com que ambos vão a um evento juntos".
Ainda assim, se uma das pessoas detentoras das senhas morre, a parceira da Foxbit, que detém a tecnologia de chaves, criará mais uma senha automaticamente para a próxima pessoa de uma lista fornecida pela corretora.
Ou seja, apesar de não haver regulação sobre a segurança da custódia, Trovão conta que os modelos de boas práticas são acessíveis. "Empresas sérias utilizam modelos semelhantes aos nossos. Eles estão disponíveis: basta pesquisar".
Caso o investidor insista em deixar os ativos em uma corretora, Trovão aponta que há indícios que podem demonstrar que uma corretora usa o programa de multi assinaturas. "Quando ele fizer uma primeira transação, vai receber um documento. Caso ele inclua mais de uma assinatura, há grandes chances de que esse programa utiliza o recurso de segurança, que torna o sistema uma espécie de 'conta conjunta'. A não ser que uma das assinaturas seja uma fraude, mas isso é mais difícil de acontecer".
O cliente pode perder o acesso a ativos não apenas em casos como os da morte do fundador da corretora. mas também caso o dono do negócio tenha um problema com o servidor, por exemplo, e perca as chaves. Corretoras que tenham serviço de custódia terceirizados também estão sujeitas ao fim do serviço de um dia para outro, e quem concentra as chaves em um único país corre o risco de um governo impedir que o negócio continue a funcionar. "Todos esses casos já aconteceram e deixaram os investidores na mão".
Carteiras próprias também evitam problemas com ataque hackers, que frequentemente atinge corretoras, mais visadas pela maior quantidade de ativos.