Uma boa análise de ações envolve a observação do cenário macroeconômico (Vertigo3d/Getty Images)
Beatriz Quesada
Publicado em 5 de fevereiro de 2021 às 06h00.
Última atualização em 5 de fevereiro de 2021 às 06h59.
A forte queda do Ibovespa no mês de janeiro, quando chegou a se desvalorizar 8% em pouco mais de duas semanas, deixou em muitos investidores o receio de que a bolsa pudesse entrar em uma trajetória mais acentuada de queda e a dúvida subsequente: afinal, qual o momento mais adequado para se desfazer de uma ação?
Para lucrar com a venda de uma ação, é preciso que o papel tenha valorizado desde o momento da compra. Em linhas gerais, o investidor precisa seguir a velha máxima do mercado financeiro: “vender na alta e comprar na baixa”. O problema é aplicar o ditado na prática. Afinal, como saber se uma ação está cara ou barata?
Antes de tudo, é preciso entender qual é o tipo de investidor que está fazendo a operação. Alguns, como os day traders, utilizam a análise gráfica para tomar decisões de compra e venda. O gráfico em questão é o “sobe e desce” do home broker que mostra o movimento dos preços das ações em tempo real.
O objetivo é lucrar com a flutuação, interpretando a variação de temperatura na bolsa. Para sair bem-sucedido, o trader deve observar quais ações estão sendo cobiçadas pelo mercado para comprá-las e revendê-las quando o preço subir. É uma visão de curto prazo, caracterizada pela especulação.
Existe um segundo tipo de análise chamada de fundamentalista, que busca carregar as ações no longo prazo. Como o próprio nome indica, o método envolve o estudo de diversos fundamentos da empresa -- como lucro e Ebitda -- além de indicadores setoriais.
Análise técnica e fundamentalista: aprenda duas formas de analisar ações
Por meio dessa análise, o investidor consegue calcular o valor real da companhia. Esse número é dividido pelo total de ações em circulação, e assim é estabelecido um valor para cada papel. Para saber se um papel está barato ou caro, basta comparar o preço de negociação no mercado com o número extraído da análise.
Neste caso, a hora de vender a ação e “colocar o lucro no bolso” é quando o papel atinge ou ultrapassa o valor tido como ideal. Suponha que uma ação foi comprada por 5 reais, mas vale 10 reais segundo a análise fundamentalista. Se a tese estiver correta e o papel se valorizar, o investidor consegue vender a ação e realizar o lucro.
Não é preciso, porém, desinvestir completamente do papel. Se a companhia continua mostrando boas perspectivas, o investidor pode embolsar parte dos ganhos e manter uma porcentagem ainda investida, pensando no futuro.
“Dificilmente alguém realiza completamente a posição pensando no lucro. A venda total dos papéis normalmente acontece quando o investidor percebe um movimento especulativo em cima de uma ação já comprada, o que poderia levar a uma correção do preço para baixo”, comenta Paulo Bilyk, CEO e diretor de investimentos da gestora Rio Bravo.
Outro ponto de atenção é a necessidade de reformular as teses de investimento com alguma frequência. “Se a empresa está sendo capaz de gerar mais valor, o primeiro preço-alvo calculado já pode ter ficado conservador, desatualizado. É preciso, então, rebalancear o investimento”, explica Bruno Lima, analista da Exame Research.
Lima aconselha que o investidor examine sua carteira pelo menos uma vez ao mês, e reserve seu olhar mais atento para as temporadas de balanços. A cada três meses, as companhias abertas divulgam seus resultados ao mercado, fornecendo novos números de comparação para a análise -- tanto da própria empresa quanto de outras do mesmo setor.
Vale lembrar, porém, que os balanços não são absolutos. “Os resultados são importantes, mas não é apenas um trimestre bom ou ruim que decide a trajetória da empresa. O investidor precisa se ater à sua tese de investimento para o longo prazo e olhar para as perspectivas que a companhia mostra para o futuro”, afirma Lima. No universo das ações, o longo prazo equivale a uma janela entre 5 e 10 anos.
Uma boa análise também envolve a observação do cenário macroeconômico. “Uma mudança de conjuntura pode fazer a diferença no contexto do país, indicando quais setores e companhias saem ganhando ou perdendo”, afirma Henrique Esteter, analista da corretora Guide Investimentos.
A recomendação de Esteter é que o investidor esteja diariamente atento às notícias do universo econômico. “Quem investe a longo prazo também precisa estar de olho nos fluxos de mercado. Ainda que isso não se reflita em uma tomada imediata de decisão, é importante sempre manter a economia no radar”, diz.
As estratégias de rebalanceamento de carteira valem igualmente para o cenário oposto. Se a empresa não apresenta bons resultados e não tem boas perspectivas, é hora de pensar em vender as ações.
Para escolher o momento ideal de saída, o investidor pode definir um piso mínimo a partir do qual a ação não vale mais a pena. “Através da análise fundamentalista, é possível definir qual o prejuízo máximo de cada papel e a partir daí, desinvestir completamente”, diz Bilyk.
Um erro comum nesse momento é segurar a ação na esperança de zerar as perdas antes de vender. “A regra de ouro nesses casos é: ‘o menor prejuízo é o primeiro’. Ou seja, se a empresa não tem chances de mudar de trajetória, o melhor a fazer é vender. Desinvestimento não é só para depois do lucro”, completa Lima.