Tesouro Direto: Número de investidores cresceu mais de 60% em 2019 e bateu recorde (Tesouro Direto/Reprodução)
Juliana Elias
Publicado em 6 de janeiro de 2020 às 05h21.
Última atualização em 6 de janeiro de 2020 às 06h21.
São Paulo - Mesmo com a queda livre dos juros e a atratividade cada vez menor da renda fixa, o Tesouro Direto chega ao fim de 2019 batendo recordes. O número de pessoas investindo nos títulos públicos chegou a 1,17 milhão em outubro (62% mais que um ano antes) e o valor total aplicado somou 59 bilhões de reais, alta de 13% ante outubro de 2018 – nos dois casos, marcas inéditas na história do Tesouro.
Isso significa que muitos desses investidores estão lá pela primeira vez e podem ter dúvidas na hora de decidir com qual título ficar. O Tesouro oferece três tipos básicos de títulos – pós-fixado, prefixado e atrelado à inflação -, com várias opções de vencimento e que podem ou não pagar juros semestrais.
Cada uma dessas opções é mais ou menos adequada para cada perfil e para cada tipo de objetivo. Além disso, as vantagens de cada título podem mudar conforme a economia – quando os juros estão subindo, por exemplo, o pós-fixado pode ser interessante, mas, quando os juros ficam baixos, como agora, perdem rentabilidade.
EXAME conversou com o planejador financeiro Roberto Agi, certificado pela Planejar, e com o gerente sênior de marketing da corretora Easynvest, Anderson Paiva, para explicar quais as particularidades de cada título público e as recomendações para distribuí-los, hoje, na carteira, dado que os juros não só estão baixos como tudo indica que ficarão assim por um bom tempo.
Os títulos podem ser comprados por valores que partem de 30 a 60 reais e há cobrança de imposto de renda sobre o rendimento (veja ao fim). Todos os títulos podem também ser resgatados a qualquer momento, mesmo antes do vencimento, mas, em alguns casos, o investidor pode sair com perdas. Veja cada um deles:
É a única opção pós-fixada, isto é, que tem a remuneração atrelada a um índice que muda ao longo do tempo, embora seja sempre positivo. Ele remunera exatamente a Selic, a taxa básica de juros da economia (a Selic está atualmente em 4,5% ao ano e pode ser acompanhada na página do Banco Central ou no noticiário).
É considerado o mais conservador dos títulos, porque é o único que o investidor pode resgatar antes do vencimento sem risco de perder parte do dinheiro. Por isso, tem uma única opção de vencimento, para 2025, que é quase simbólica. Na prática, é o substituto imediato da poupança, já que rende sempre um pouco mais que ela - e, quanto maior o tempo da aplicação, maior fica essa vantagem (veja aqui quanto rendem 5.000 reais em diferentes aplicações).
"Todas as pessoas precisam de uma reserva de emergência, e o Tesouro Selic funciona muito bem para isso, para ser um dinheiro em caixa, e não tanto para o longo prazo", disse Agi, da Planejar.
O prefixado tem juros fixos definidos na hora da compra, o que permite saber desde o primeiro dia quanto será resgatado no último (no site do Tesourou há calculadora para fazer essa conta ). Atualmente tem opções com vencimento em 2022, 2025 e 2029, algumas com e outras sem juros semestrais, com remunerações que variam de 5,4% a 7% ao ano - quanto mais longa a data, sempre maiores os juros.
Qualquer dessas remunerações é maior do que a Selic hoje (4,5%). A desvantagem é que, diferentemente do que acontece no Tesouro Selic, que é pós-fixado, o valor aplicado em um prefixado pode oscilar antes do vencimento, conforme as condições de mercado (entenda aqui o que faz o preço dos títulos flutuar).
O resultado é que, sim, o investidor que quiser ou precisar fazer um resgate antecipado de seu prefixado antes do vencimento pode sair tanto com mais quanto com menos do que investiu, e por isso são títulos considerados ligeiramente mais arriscados que o Tesouro Selic. Os investidores que carregam o investimento até a data final não sofrem essa oscilação e recebem exatamente o que contrataram, sem perdas.
Por essa razão, são indicados para os objetivos de médio e longo prazo, de acordo com as datas de validade disponíveis, e para quem planeja fazer o resgate apenas da data final.
Pagam uma parcela menor de juro prefixado acrescido da inflação do período, que é medida pelo IPCA, o indicador oficial de preços do país. O investidor também pode sair com mais ou menos dinheiro do que aplicou caso resgate o título antes do vencimento, exatamente como acontece nos Prefixados.
O IPCA+ é a categoria com o maior número de opções e com os prazos mais longos: oferece hoje seis papéis com vencimentos de 2024 até 2050, alguns com e outros sem pagamento de juros semestrais. As remunerações oferecidos além da inflação estão entre 2,4% e 3,5% ao ano.
É, em geral, a opção preferida para os objetivos de longo prazo, como a aposentadoria ou a faculdade do filho pequeno. "Ele dá sempre a garantia de remunerar a inflação, acrescido de uma taxa pré", disse Paiva, da Easynvest. "Em um horizonte de 10, 15 anos, não dá para saber qual será a inflação. Se houver um choque e os preços ficarem completamente descontrolados, isso não vai afetar seu patrimônio", afirma. Se a inflação cair, por outro lado, a remuneração total também cai.
Como não dá para saber o que vai acontecer com a inflação, a recomendação é mesclar na carteira um pouco de IPCA+ (que protege dos momentos de alta de inflação) com os Prefixados (que ganham mais margem nas remunerações pagas quando a inflação cai).
Os títulos com cupons semestrais fazem o pagamento dos juros ao longo do tempo de aplicação do investimento, sempre duas vezes ao ano, em vez de pagar tudo de uma vez ao fim. Como os rendimentos são pagos ao longo da vida do título, o resultado é que, na data final, o investidor pega de volta basicamente apenas o valor que investiu.
É a opção para quem quer uma renda recorrente a partir de seus investimentos, como aposentados, por exemplo. Também serve para quem gosta de ter uma cesta diversificada e quer ir reinvestindo os ganhos em outros ativos ou no próprio Tesouro.
A opção pelos adiantamentos semestrais, entretanto, tem um lucro final um pouco diminuído, por conta do imposto de renda: ele é cobrado proporcionalmente de cada parcela de juro semestral paga, mas o IR é regressivo e, ao longo dos dois primeiros anos da aplicação, é maior (22,5% a 17,5%). Nos títulos sem o pagamento semestral, todo o dinheiro é devolvido só ao fim da aplicação, e paga a menor alíquota do imposto de renda (15%).
Para quem tem como principal objetivo a acumulação e aumento de capital, os especialistas recomendam as opções sem juros semestrais. "A opção sem cupom semestral favorece a rentabilidade e, para quem não precisa desse fluxo semestral, faz mais sentido", disse Paiva, da Easynvest.
Todos os títulos públicos têm cobrança de imposto de renda sobre os rendimentos, ou seja, sobre o lucro, e não o valor total. Ele é regressivo, descontado apenas no resgate ou no pagamento de juros, e segue a seguinte tabela:
Até 180 dias - 22,5%
Até 360 dias - 20%
Até 720 dias - 17,5
Acima de 720 dias - 15%