"Pão-durismo" excessivo dificulta fazer boas escolhas financeiras (MARCELO SPATAFORA/MEMÓRIA ABRIL)
Da Redação
Publicado em 18 de junho de 2012 às 11h32.
Dúvida do internauta: Tenho um filho de 19 anos que já está trabalhando há dois anos em uma empresa, com um bom salário, mas percebo que ele não gasta em nada. Até hoje, se precisa comprar uma roupa ou cortar o cabelo, sempre me pede dinheiro. Eu como mãe me sinto até na obrigação de dar porque vejo essa atitude como um aprendizado para ele, e acho que é o jeito dele mesmo. Sempre foi assim, ele economizava toda a mesada e pedia mais dinheiro para o lanche e eu sempre incentivei. Até hoje nunca me incomodei com isso, gosto de vê-lo poupar, mas tenho dúvidas sobre se essa atitude está correta. Será que eu não o estou prejudicando sem saber?
Resposta de Cássia d'Aquino*:
Com tanta gente perdulária, endividada e imprevidente batendo perna e esvaziando o bolso por ai, não é de surpreender que existam pais que confundam “pão-durismo” com sensatez.
Quando ouço pais comemorando a sovinice dos filhos, me preocupo. Afinal, todo pão-duro sofre. Pior, transborda seu sofrimento para a vida de quem ama e até de quem nem ama mais. Uma amiga, profissional bem sucedida, cansada da obsessiva e desnecessária contenção de gastos imposta pelo marido, criou coragem e bateu asas rumo ao divórcio. Anos depois, ela ainda se sente culpada cada vez que arrisca um gasto que o ex-marido não aprovaria. A avareza dele, disfarçada de sensatez, até hoje dita as escolhas que ela faz.
Uma pessoa bem educada em relação ao dinheiro não sofre por gastar. Ao contrário, gasta com prazer em aquisições que atendem suas necessidades e, o que é igualmente importante quando há verba disponível, não se priva dos consumos que atendam ao prazer.
Em se tratando de dinheiro, como em quase tudo na vida, a virtude está no meio. Filhos que não gastam e, o que é ainda pior, são estimulados pelos pais a manterem esse comportamento, estão deixando de exercitar uma capacidade fundamental no manejo adequado do dinheiro: a de fazer escolhas financeiras.
Sem praticar essa habilidade, a educação financeira dos herdeiros restará “manca”. Muito mais saudável seria se os pais incentivassem os filhos a usufruir do dinheiro sem a condenação, tão triste quanto desnecessária, da culpa.
Com delicadeza, converse com seu filho sobre o assunto. Abra o jogo sobre suas preocupações. Não tenha receio em admitir que, durante a infância, talvez ele tenha sido exageradamente estimulado a se tornar um poupador. Faça-o perceber que assumir a responsabilidade pelos próprios gastos é parte de se tornar um adulto. Inclua-o na elaboração do orçamento doméstico, convidando-o a assumir alguns dos gastos da família. Mesmo que sejam gastos apenas simbólicos, de pequena monta, esse já será um passo importante para seu filho.
*Cássia D’Aquino é autora de diversos livros sobre educação financeira e consultora em projetos do Banco Central, Banco Nacional de Angola, BM&FBovespa, Febraban e United States Agency for International Development (USAID).
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