Warren Buffett: "gosto de comprar em liquidações" (Getty Images)
Da Redação
Publicado em 18 de agosto de 2011 às 08h00.
São Paulo – Presidente-executivo da lendária holding de investimentos Berkshire Hathaway e integrante assíduo do clube dos mais ricos do mundo, Warren Buffett costuma fazer declarações que ecoam até pelos cantos mais longínquos do planeta. Suas aparições recentes ganharam as páginas de jornais e blogs esta semana. Além de publicar um artigo no New York Times defendendo o aumento de impostos para os milionários americanos, o megainvestidor reforçou esta e outras ideias no programa de entrevistas do apresentador norte-americano Charlie Rose.
Para quem analisa friamente, o discurso é praticamente o mesmo que o proferido pelo bilionário no mesmo programa há três anos. Se Buffett é tão prolixo, por que tanto gente o escuta? O sucesso acumulado por Buffett nos investimentos realizados ao longo da vida é parte da resposta. Mas também chama a atenção a calma que ele consegue inspirar mesmo nos momentos em que todo mundo no mercado parece ter entrado em pânico. Entre recomendações de compra na baixa e frases que emanam patriotismo, veja como o discurso do Oráculo de Omaha sobre a crise que abalou o mercado nos últimos dias se assemelha ao proferido por ele no mesmo programa de TV depois da quebra do Lehman Brothers, em 2008.
Na cola dos super ricos
Na visão de Buffett, o Congresso deveria parar de afagar os multimilionários norte-americanos. "A renda de ninguém subiu mais rápido do que do 1% da população que está no topo da pirâmide. E não há nada de errado em pedir um pouco da ajuda de todos para diminuir a dívida pública", afirmou o octogenário. Buffett já havia expressado o descontentamento no jornal New York Times, sustentando que, do alto dos seus bilhões, ele lidara com uma carga tributária de 17% sobre os seus vencimentos em 2010, enquanto para os 20 funcionários do seu escritório a mordida fora muito maior, oscilando entre 33% e 41%.
A cruzada não vem de hoje. Em 2008, a mesma reivindicação marcou presença no bate-papo entre o megainvestidor e o apresentador Charlie Rose. "Estou pagando hoje a taxa de impostos mais baixa que eu já paguei na minha vida. Isso é uma loucura. O estímulo deve ir para pessoas de baixa e média renda, e não para quem está na lista da Forbes como eu", disse na época.
A crença inabalável nos Estados Unidos
Para Buffett, é inevitável que as recessões aconteçam de tempos em tempos. "Quando alguém vê o vizinho ficando mais rico, começa a evolução natural da bolha. Bastam três coisas para sua formação: os inovadores, os imitadores e os idiotas. Todo mundo caminha junto", afirmou na entrevista ao jornalista Charlie Rose de 2008. Mas ainda que a concessão irrestrita de crédito habitacional nos EUA tenha desencadeado a quebra do sistema financeiro mundial, Buffett nunca deixou de manter seu otimismo em relação à capacidade do país de se levantar.
"A confiança vai voltar", sentenciou há três anos. "Tivemos a Grande Depressão, duas guerras mundiais, passamos por choques do petróleo, mas alguma coisa no sistema americano desencadeou um incrível potencial de capacidade produtiva. Agora o atleta está no chão. Mas ele é um super atleta."
O horizonte continua turvo na terra do Tio Sam. Mas a crença do bilionário permanece a mesma. "A decisão do Federal Reserve (o Banco Central americano) de manter as taxas de juros perto de zero é uma meta muito dura. O anúncio mostra que eles acreditam que a economia não vai andar tão bem até essa data. Mas eu acho que há chances de eles estarem errados e os Estados Unidos se recuperarem antes disso", afirmou no programa de entrevistas desta semana. "O sistema americano funciona e funciona maravilhosamente bem", afirmou.
A hora é de comprar ações
Desde dezembro de 2008 o S&P 500, índice que lista as 500 companhias mais importantes dos EUA, não sofria uma queda tão vertiginosa quanto a registrada no dia 08 de agosto. Mas foi justamente neste dia que o bilionário Warren Buffett fez a sua maior aposta no mercado de ações. "Eu gosto de comprar nas liquidações", disse. "Naquele dia, gastamos mais dinheiro com compras do que em qualquer outra ocasião este ano."
O octogenário também foi às compras em outubro de 2008, investindo tanto sua fortuna pessoal como o dinheiro da Berkshire Hathaway nos papéis do banco Goldman Sachs e da General Electric. Para ele, os fundamentos das companhias não são alterados com os solavancos do mercado. "Estou familiarizado com o banco, sua estrutura e administração. E também entendo do negócio que eles tocam. Em relação à General Electric, eu acho que esta é a ação mais longeva do índice Dow Jones industrial. E ela deve permanecer assim pelos próximos 100 anos", justificou na época. “Há momentos em que o dinheiro compra mais, e esta é uma dessas vezes.”
A importância dos líderes em tempos de crise
Nesta semana, Buffett usou mais uma das suas metáforas para criticar o comportamento dos republicanos no estabelecimento de um novo teto para a dívida pública do país. "Vamos dizer que eu e você fôssemos para uma pista de corrida com nossos carros, você para um lado e eu para o lado oposto. No meio do caminho, haveria uma linha e qualquer um que hesitasse em atravessá-la perderia seu patrimônio líquido para o outro. Você toparia jogar este jogo?", perguntou Buffett.
Para o Oráculo de Omaha, os republicanos embarcaram nesta aposta de risco, armando, contudo, para que o presidente Obama começasse o jogo sem o volante do carro. O avanço da linha pelo outro lado, portanto, seria impossível do ponto de vista prático. “Os republicanos fizeram as pessoas acreditarem que não iam concordar com nada a menos que conseguissem o que pleiteavam.”
Mas o acordo em questão colocou o resto do mundo em suspense, temendo os efeitos de um possível calote dos EUA. “Para nos recuperarmos é preciso que confiemos de novo nos nossos políticos. E eles devem nos dar razão para isso.”
Segundo Buffett, as pessoas querem ver alguma ação para reestabelecerem sua confiança na economia. “Se você voltar a setembro de 2008, nossos líderes estavam nos dizendo que iriam fazer tudo que fosse necessário. E eu acreditei neles porque sabia que eles tinham o poder para tanto”, afirmou.