Homem preocupado (Divulgação)
Da Redação
Publicado em 30 de dezembro de 2013 às 10h07.
São Paulo – Apesar da máxima mais batida do mercado financeiro recomendar a compra na baixa e a venda na alta, muitos investidores fizeram exatamente o contrário na crise de 2008. Mas quem se desfez dos ativos na esteira do pessimismo reinante realizou um considerável prejuízo e ainda deixou de embolsar a subida de mais de 80% registrada pelo Ibovespa em 2009.
Desta vez, o imbróglio fiscal na zona do Euro também está penalizando os papéis brasileiros. Do começo do ano até setembro, o tombo do índice já chegou a 24,5%. Por sua vez, as pessoas físicas novamente estão fugindo da renda variável: mais de 15.000 CPFs foram descadastrados da bolsa até agosto.
É verdade que a resolução da crise não deve aparecer no curto prazo. O governo já incorporou uma expectativa de piora generalizada na economia global na decisão de diminuir a Selic, acreditando que a desaceleração lá fora ajudará a conter a inflação por aqui. Para muitos analistas, o fundo do poço será ainda mais baixo que o atingido há três anos.
Ainda assim, o consenso entre os que defendem a aplicação em ações é que no longo prazo o investidor que segurar seus ativos voltará a ser remunerado. Por que então o desconto sofrido pelos papéis até agora não convence o brasileiro a apostar nas companhias de capital aberto?
Para Clayton Calixto, estrategista de investimentos pessoais da Santader Asset Management, acertar a hora certa de aplicar em ações não deixa de ser um mito. "O retorno anualizado do Ibovespa de janeiro de 99 a abril de 2008 foi de 28%. Sem os dez maiores pregões de alta, o percentual caiu para 16%, abaixo dos 16,8% entregues pelo CDI no mesmo período", diz. Perdendo 10 dias na bolsa em um horizonte de quase 10 anos, portanto, o investidor já embolsaria um rendimento mais modesto que o da renda fixa.
Além disso, pontua Calixto, a pessoa física tende a reproduzir um comportamento de manada. "A ganância impera na alta e o medo na baixa. Todo mundo se sente muito confortável ao comprar o que está todo mundo comprando e vender o que está todo mundo vendendo, pensando que errar em conjunto é melhor que errar sozinho", afirma.
No estudo “Comportamento dos investidores na crise: uma análise para o Brasil no período de 2005 a 2009", três pesquisadoras da Universidade Federal de Juiz de Fora investigaram a performance das ações antes e depois do furacão que derrubou os mercados com a quebra do Lehman Brothers, em 2008.
O resultado não chega a surpreender: em períodos de estabilidade econômica os investidores ficaram confiantes e compraram de olhos fechados. Como manda a lei da oferta e da procura, a demanda elevou o preço dos papéis, fazendo com que o valor de mercado das empresas do Ibovespa superasse e muito seu patrimônio líquido.
A tendência se inverteu nos momentos de incerteza, quando os investidores ficaram com temor de adquirir mais ações, venderam seus ativos e acabaram pressionando os preços para baixo.
Para quem acredita que o exemplo ensina que é chegada a hora de garimpar pechinchas, o estrategista do Santander faz um alerta. "Só é razoável investir uma pequena parcela em papéis defensivos, como de telecom e energia elétrica", sustenta. Em geral, o comportamento destas empresas se distancia do desempenho do Ibovespa, fazendo com que elas sofram menos nos momentos de aversão ao risco. Não por menos, os setores foram os grandes destaques nas carteiras recomendadas por 16 corretoras para outubro.
Na visão de Calixto, a bolsa continuará andando de lado até o final de 2011 e uma recuperação efetiva só virá em dois a três anos. "O momento para fazer uma tacada maior será definido pelo socorro aos países europeus", acredita. "Ainda estamos vendo planos superficiais, sem grandes estudos. Mas quando for anunciado um pacote de execução viável, este será o grande gatilho para comprar ações e aproveitar a alta dos anos seguintes."