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Por que dividir a compra em dois cartões de crédito é uma cilada

Sites de grandes redes varejistas permitem realizar uma compra com dois cartões de crédito. Entenda a operação e veja quais cuidados tomar

Usar dois cartões para a mesma compra "aumenta" limite e o risco de calote (Stock.Xchng)

Usar dois cartões para a mesma compra "aumenta" limite e o risco de calote (Stock.Xchng)

Marília Almeida

Marília Almeida

Publicado em 13 de janeiro de 2017 às 16h06.

Última atualização em 13 de janeiro de 2017 às 16h32.

São Paulo - Em busca de uma flexibilidade de pagamento que já existe em lojas físicas, grandes sites como Walmart, Ponto Frio, Netshoes e Ricardo Eletro permitem dividir o valor de uma compra em dois cartões de crédito diferentes.

A opção geralmente é feita ao final da transação. Basta apontar qual o valor que deseja colocar no primeiro cartão para que o sistema do site coloque o restante no outro. Dessa forma, também é possível parcelar a compra. Cada parcela será dividida proporcionalmente entre os dois cartões ao longo do tempo, conforme o desejo do consumidor.

Na prática, a forma de pagamento permite que o consumidor aumente o seu limite de crédito e consiga fazer compras de maior valor. Mas o problema, de acordo com consultores financeiros, é que o risco de superendividamento aumenta.

Isso porque cada banco concede limites de crédito proporcionais à renda do consumidor. Se uma pessoa tem diversos cartões de crédito, é como se sua renda se multiplicasse quando, logicamente, isso não acontece.

Atualmente não há qualquer norma que faça com que os bancos concedam crédito com base no histórico de valores que já foram disponibilizados a um cliente por outras instituições financeiras. Também não há norma sobre a prática de permitir o pagamento com dois cartões, segundo o Banco Central.

“Muito se fala em uso consciente do crédito. Mas deveríamos também falar sobre responsabilidade na concessão, ainda mais em um momento no qual o cartão de crédito é alvo de medidas como a que deve reduzir os juros pagos no crédito rotativo, cobrados quando o consumidor atrasa ou não quita o valor da fatura”, diz Ione Amorim, economista do Instituto de Defesa do Consumidor (Idec).

Portanto, não é recomendável utilizar dois cartões no pagamento. “Como o consumidor está comprometendo mais do que 30% da sua renda, qualquer imprevisto pode provocar um grande descontrole no orçamento. Ainda que não haja imprevistos, é necessária muita disciplina para acompanhar gastos em mais de um cartão, ainda mais se forem parcelados”.

Quem deixa de pagar o valor total da fatura, alerta a economista, contrai uma dívida que cresce rapidamente e, portanto, pode ficar além da capacidade de pagamento pessoal.

O mais indicado é quitar as compras já existentes no cartão para aumentar o limite de crédito disponível até que o valor seja suficiente para realizar a aquisição, diz Ione.

Em situações de emergência e em casos nos quais o trabalhador tenha um limite de crédito em determinado banco que é inferior a 30% da sua renda, a economista indica negociar um aumento do crédito disponível com a administradora do cartão ao invés de lançar mão desta modalidade de pagamento.

Compra não aprovada pode dar dor de cabeça

Além de disciplina financeira, usar dois cartões de crédito para efetuar uma compra exige conhecimento das regras e, principalmente, que o consumidor saiba exatamente qual o limite disponível em cada plástico.

É possível encontrar diversas queixas de consumidores em sites como o Reclame Aqui que mencionam problemas com a devolução do dinheiro quando um cartão é aprovado e o outro não por falta de limite de crédito.

No site da Ricardo Eletro, por exemplo, no momento em que a compra não é aprovada em um dos cartões é possível utilizar outro cartão ou alterar a forma de pagamento. No entanto, isso pode ser feito apenas uma vez, por meio de um link enviado por e-mail ao cliente.

Caso a alteração não seja feita, o pedido é automaticamente cancelado e o limite retido no cartão no qual a compra foi aprovada somente será restabelecido após cinco dias úteis. “Caso o consumidor necessite usar o valor de crédito comprometido neste período, terá problemas”, completa Ione.

Foco de regulação é dar informação, diz Banco Central

Procurado, o Banco Central diz, em nota, que sua ação regulatória tem sido no sentido de que os clientes tenham mais informações para uma decisão consciente quando o assunto é crédito. Dessa forma, o BC acredita que os consumidores consigam administrar suas finanças pessoais de forma mais adequada.

O BC tem exigido que as instituições financeiras adotem, em relação aos seus clientes e usuários, medidas de transparência, de oferta de produtos adequados ao perfil do cliente, de prestação das informações necessárias à livre escolha e à tomada de decisões por parte de clientes e usuários.

A autarquia ressalta que, se autorizado pelo cliente, as instituições financeiras emissoras de cartão de crédito, no seu processo de concessão de limite de crédito, podem utilizar as informações do Sistema de Informações de Crédito (SCR), no qual são registrados os limites de crédito de cada cliente no cheque especial e cartões de crédito, bem como as garantias assumidas pelas instituições em favor de seus clientes, na forma de avais e fianças, entre outras informações.

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