Jovens da Geração Z enfrentam aumento de dívidas de cartões de crédito enquanto buscam equilíbrio entre estilo de vida e estabilidade financeira. (Getty Images/Getty Images)
Redator na Exame
Publicado em 5 de dezembro de 2024 às 07h54.
Timothy Danikowski, aos 27 anos, é um exemplo de como a Geração Z tem lidado com o uso de cartões de crédito. Após conseguir seu primeiro emprego como contador e se mudar para Seattle, ele abriu seu primeiro cartão de crédito, planejando usá-lo apenas em emergências. Em poucos anos, no entanto, sua rotina de consumo e viagens resultou em uma dívida de US$ 15 mil (R$ 90,75 mil) espalhada por três cartões, com juros de até 28%.
Danikowski não está sozinho. Um estudo da TransUnion, divulgado em reportagem da Business Insider, mostrou que, ajustado pela inflação, o saldo médio de crédito de jovens entre 22 e 24 anos ao final de 2023 era de US$ 2.834 (R$ 17144,84), um aumento de 26% em relação aos millennials na mesma faixa etária dez anos atrás. O estudo também destacou que a Geração Z está mais confortável com o uso de cartões do que gerações anteriores, acumulando dívidas mais rapidamente e utilizando cartões para diversas despesas, desde compras até viagens.
A pandemia desempenhou um papel significativo nos hábitos financeiros da Geração Z. Restrições sociais, inflação e altas taxas de juros impactaram essa geração justamente quando estavam iniciando suas carreiras. Com cartões de crédito mais acessíveis entre 2021 e 2022, muitos jovens viram nesses produtos uma solução para suas dificuldades financeiras.
Além disso, empresas de cartões de crédito facilitaram a aprovação para consumidores com menores pontuações de crédito, o que levou a um aumento no número de jovens que adquiriram cartões durante o período. A combinação de "gastos por vingança" — buscando compensar o tempo perdido durante a pandemia — e estratégias de fidelização, como programas de pontos e recompensas, também impulsionaram o uso desses cartões.
Embora o uso de cartões de crédito ofereça vantagens, como construção de histórico de crédito e acesso a benefícios de recompensas, ele também representa riscos para jovens consumidores. Uma das principais preocupações é o impacto a longo prazo das dívidas acumuladas precocemente.
De acordo com dados da Credit Karma, entre março de 2022 e fevereiro de 2024, o percentual de membros da Geração Z com crédito subprime (pontuação abaixo de 600) aumentou de 25% para 33%. Já a pontuação média de crédito caiu de 671 no primeiro trimestre de 2024 para 659 no segundo trimestre. Dívidas mais altas podem dificultar financiamentos futuros para a compra de imóveis, carros ou outros investimentos significativos.
Danikowski não é o único a enfrentar dificuldades. Nico, de 27 anos, acumula cerca de US$ 20 mil (R$ 121 mil) em dívidas no cartão de crédito após se mudar para Chicago em 2021. Ele usou seu cartão para despesas básicas, como aluguel e alimentação, enquanto tentava construir uma vida social na nova cidade. Embora tenha conseguido um emprego com salário maior, ele ainda luta para reduzir a dívida, com pagamentos mensais que mal cobrem os juros.
Outra história é a de Emmaline, também de 27 anos, que acumulou US$ 6 mil (R$ 36,3 mil) em dívidas enquanto fazia um curso intensivo de programação. Embora o cartão de crédito tenha sido essencial para manter as despesas básicas durante o curso, a dívida causou ansiedade e vergonha até que ela conseguiu pagá-la com a ajuda da família.
Especialistas aconselham que jovens evitem ao máximo dívidas de altos juros. Além disso, recomendam que consumidores parem de usar a linha de crédito enquanto tentam quitar suas dívidas, transferindo saldos para empréstimos pessoais com taxas mais baixas, se possível.
Outro passo importante é organizar as finanças. Criar uma planilha listando todas as dívidas, pagamentos mínimos e opções de consolidação pode ajudar a ter uma visão clara do cenário financeiro e planejar melhor os próximos passos.
O maior risco para a Geração Z é que o uso desenfreado de crédito comprometa sua estabilidade financeira a longo prazo. Com as taxas de inadimplência em alta entre jovens, o Federal Reserve Bank de Nova York destacou que os detentores mais jovens de crédito são os mais propensos a atrasar pagamentos, o que pode impactar negativamente suas finanças no futuro.
Apesar disso, histórias como a de Danikowski mostram que muitos jovens ainda preferem manter seus estilos de vida mesmo com dívidas crescentes. Enquanto ele reflete sobre suas escolhas, reconhecendo que nem sempre foram as melhores decisões, ele também valoriza as experiências adquiridas.