Notas de vinte reais: juros mais altos não favorecem o crescimento econômico, mas são bons para a renda fixa conservadora (Dado Galdieri / Bloomberg)
Da Redação
Publicado em 14 de fevereiro de 2014 às 18h20.
São Paulo – O ano de 2014 vai ser ainda mais difícil para o investidor que quer ganhar um bom dinheiro no mercado financeiro, em função de um cenário econômico e político complicado. Em compensação, vai ser mais fácil ganhar um rendimento razoavelmente bom nas aplicações mais conservadoras e seguras - nesse sentido, um cenário melhor do que em 2013.
“Há um ano, o mercado contava com aumento do crescimento da economia e redução da inflação. Mas essa expectativa foi abandonada para o próximo ano. Já é consenso que o crescimento será muito baixo, pior do que o de 2013, e o nível de inflação será mais alto”, diz Paulo Bittencourt, diretor técnico da Apogeo Investimentos.
Cenário bem difícil para ganhar dinheiro com investimentos, mas propício para investimentos seguros e conservadores.
Veja a seguir de que forma cada investimento será afetado pelos desafios econômicos de 2014 e quais as melhores alternativas para o investidor:
Caderneta de poupança
O investimento mais popular do Brasil deve ser prejudicado pela inflação em patamar mais alto. Com taxa básica de juros acima de 8,5% ao ano, a remuneração da poupança fica estagnada em 0,5% ao mês mais Taxa Referencial, o que dá algo em torno de 6,17% mais TR ao ano.
Acontece que no ano que vem a inflação deve ficar mais próxima do teto da meta – 6,5% ao ano – do que do centro da meta, que é de 4,5% ao ano. O que deveria ser um limite vem se tornando um padrão na economia brasileira.
“A meta praticamente virou 6,5%. A exceção virou a regra”, diz Paulo Bittencourt, diretor técnico da Apogeo Investimentos.
Os analistas ouvidos pelo último Boletim Focus, do Banco Central, esperam que a inflação oficial (IPCA) termine 2013 em 5,72%, e 2014 em 5,97%. Com isso, é possível que, em alguns meses, a poupança perca para a inflação.
Alternativa:
O próximo ano será especialmente propício para os investimentos em renda fixa mais conservadora, justamente por conta do cenário econômico difícil.
Nesse sentido, destaca-se o Tesouro Direto. As Letras Financeiras do Tesouro (LFT), títulos públicos atrelados à taxa Selic, são os investimentos ligados à taxa básica de juros mais rentáveis, podendo inclusive servir de substitutos para a poupança como investimento conservador de curto prazo.
Com a Selic a 10,00% ao ano e com perspectiva de chegar a 10,50%, investir em aplicações atreladas a ela pode ser interessante para deixar a inflação para trás.
Além disso, as NTN-Bs, títulos públicos que pagam um juro acima da inflação pelo IPCA, se tornaram especialmente atrativas. Primeiro porque protegem o dinheiro da inflação; segundo porque o juro que elas pagam acima do IPCA está na casa dos 6% e pode vir a aumentar ainda mais, o que é bem interessante.
Contudo, o investimento nesses títulos requer certo cuidado. É aconselhável comprá-los aos poucos e carregá-los até o vencimento, pois a taxa Selic ainda pode ter novas altas, levando a parte pré-fixada da remuneração desses títulos a aumentar. Assim, quem comprou NTN-Bs com taxas pré-fixadas mais baixas pode ver perdas.
Para Paulo Bittencourt é importante ainda evitar aplicações que deixem o dinheiro “preso” por muito tempo, de prazos muito longos.
Ernesto Leme, sócio responsável pela área de gestão de patrimônio da Claritas Investimentos, também vê com bons olhos os títulos pré-fixados, como NTN-Fs e LTNs. Esses títulos pagam um juro acordado no ato da compra, mas sem a proteção da inflação. A esses papéis também se aplicam os mesmos cuidados das NTN-Bs, pois seu funcionamento é semelhante.
Ações
O investimento em ações deve continuar difícil no ano que vem, em função de fatores como o baixo crescimento econômico projetado para o Brasil, a retirada dos estímulos à economia norte-americana, a possível elevação da taxa de juros nos EUA e, para algumas empresas, a esperada alta do dólar.
O Boletim Focus do Banco Central projeta um crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) de 2,30% em 2013 e de apenas 2,00% em 2014. A projeção do crescimento econômico brasileiro vem sendo paulatinamente revisada para baixo.
Com a inflação alta, o Banco Central elevou diversas vezes a taxa básica de juros ao longo de 2013, o que sacrifica ainda mais o já cambaleante crescimento.
O crescimento econômico fraco é o principal fator a impactar negativamente a Bolsa de Valores como um todo, pois o desempenho das ações acaba sendo um reflexo dos maus resultados das empresas brasileiras.
Some-se a isso o mau desempenho das contas públicas em 2013, que podem culminar com a perda do grau de investimento do Brasil no ano que vem, o que seria danoso para a economia do país.
A retirada dos estímulos à economia americana, por sua vez, pode ter um efeito bom no longo prazo – uma vez que mostra que os EUA estão se recuperando bem da crise – mas o efeito imediato não deve ser muito positivo para a bolsa brasileira.
Com menos dinheiro circulando no mercado e uma possível alta de juros nos EUA, o capital estrangeiro mais especulativo pode deixar o Brasil, o que geralmente resulta em quedas na Bolsa.
“Os reflexos positivos desse movimento só devem começar a aparecer do meio de 2014 para frente. Se algum capital relevante se desviar do Brasil, sem dúvida seremos sacrificados”, diz Bittencourt.
A consequência da retirada dos estímulos e do crescimento norte-americano será uma alta ainda maior do dólar, o que deve prejudicar as empresas que dependem de importações ou que têm grande parte da dívida denominada em dólares.
Empresas exportadoras e pouco endividadas na moeda americana, ao contrário, se beneficiam da situação. Enquanto o dólar deve terminar 2013 no patamar de 2,30 reais, a projeção para o fim de 2014 já se aproxima do patamar de 2,50 reais.
Além de tudo isso, o mercado de bolsa deve ter um sobe e desce radical no ano que vem, em função das eleições presidenciais.
“Devemos ter uma eleição muito disputada no ano que vem. E eleições concorridas, a história nos mostra, trazem volatilidade para os mercados. Além disso, provavelmente o governo não fará o ajuste fiscal necessário, por se tratar de um ano eleitoral”, diz Ernesto Leme, da Claritas.
Alternativa:
Para Leme, o cenário do ano que vem não estará propício a ativos de risco. A solução, para quem ainda assim quiser ter um pouco de Bolsa na carteira, é optar por bons gestores de fundos não atrelados ao Ibovespa.
“A Bovespa como um todo não está muito barata. Há papéis específicos que podem ter um bom desempenho. É importante contratar bons gestores que possam fazer uma boa seleção de papéis”, observa Leme.
Outra opção nesse cenário, na visão de Ernesto Leme, seriam os fundos multimercados macro, que investem em diversos tipos de ativos – tanto renda fixa quanto variável – de forma a se aproveitar da melhor forma do cenário econômico do momento.
Fundos imobiliários
Os fundos imobiliários ficaram espremidos na situação difícil da economia brasileira. Se em 2012 o investimento estava na moda, pois foram lançados muitos fundos e a taxa básica de juros estava em queda, em 2013 essas aplicações sofreram.
Justamente por causa da moda, diz Paulo Bittencourt, muitos investidores aplicaram boa parte de seu patrimônio nesses fundos. Com a desvalorização das cotas que se seguiu, venderam suas cotas para tirar o dinheiro do investimento que agora não se revelava tão bom assim, ao menos naquele momento. O que se seguiu foi mais desvalorização.
A alta da taxa básica de juros e o baixo crescimento econômico em 2013 sacrificaram os fundos imobiliários da Bolsa brasileira. Ficou difícil competir com a renda fixa mais conservadora, e a perspectiva para 2014 não é muito melhor.
Afinal, mesmo com aluguéis isentos de imposto de renda para a pessoa física, passou a não valer mais a pena correr o risco do investimento em imóveis para ganhar a mesma rentabilidade ou menos que os títulos do Tesouro Direto, por exemplo.
Com juro alto e crescimento modesto do PIB no horizonte, possivelmente o mercado imobiliário verá menos empreendimentos, menos crédito imobiliário e projetos mais seletivos, acredita Paulo Bittencourt.
“Agora está difícil para esses fundos competir com a alta taxa de juros. Quem investiu uma parte pequena de seu capital em fundos imobiliários, não tem por que se preocupar, pois não precisa vender suas cotas. Mas quem botou muito dinheiro neles, caiu em uma armadilha e vai acabar realizando prejuízos”, afirma o diretor técnico da Apogeo.
Alternativa:
O ano de 2014 vai continuar não sendo muito propício para os fundos imobiliários, a não ser para alguns específicos, que invistam em ativos de boa qualidade.
Para Paulo Bittencourt, a saída é a diversificação. Ele não aconselha mais do que 15% da carteira em fundos imobiliários. Se for possível compensar as perdas na venda das cotas com os ganhos já obtidos com aluguéis, acredita que quem tem mais do que este percentual deveria reduzi-lo a este patamar.