Almir Barbassa: lucro do pré-sal só estaria ameaçado por desastre mundial (Agência Petrobras)
Da Redação
Publicado em 27 de setembro de 2011 às 17h42.
São Paulo - A megaoperação de capitalização da Petrobras terminou há praticamente um ano, reforçando o caixa da empresa em 120 bilhões de reais. Na época, analistas sentenciaram que o resultado para o investidor chegaria no longo prazo. Passados 12 meses, a expectativa permanece a mesma, mas a cotação dos papéis, não. Do fim da operação até agora, as ações já mergulharam mais de 20%.
Em entrevista à EXAME.com, o diretor financeiro e de relações com investidores da Petrobras, Almir Barbassa, avalia as consequências da capitalização, reforça que o pré-sal só deixará de ser lucrativo com um desastre mundial e afirma que quem mantiver os papéis na carteira por três a cinco anos “pode dormir sossegado e nem se preocupar com a crise”.
EXAME.com - O acionista poderia esperar resultados mais satisfatórios depois da operação de capitalização da Petrobras?
Almir Barbassa - Acho que não podemos misturar as coisas. Se o mercado está ruim, esta não é uma consequência da capitalização. Também não podemos deixar de considerar que o investimento em ações é uma aplicação de risco, sujeito a flutuações muito maiores que as da renda fixa. No caso da Petrobras, estas flutuações decorrem também da capitalização, na medida em que ela foi a maior do mundo, requerendo um período para ser absorvida pelos mercados.
EXAME.com - De que maneira a operação efetivamente ajudou a Petrobras?
Barbassa - O fundamental é que o processo deu músculos e liquidez para a empresa, o que nos dá o conforto de continuar implementando o nosso projeto neste momento de turbulência. Este era um dos principais objetivos da capitalização: trazer fôlego para a companhia e espaço para ela continuar tocando um plano que é de médio e longo prazo. Ao mesmo tempo, a operação trouxe recursos para aquisição dos 5 bilhões de barris do pré-sal.
EXAME.com - Houve algum tipo de consequência negativa para o investidor?
Barbassa - Os riscos decorrentes de uma operação assim são os riscos normais do mercado. A diluição da participação, que todo mundo avaliou de antemão, teve como consequência a realocação dos papéis entre diversas mãos. De certa forma, este movimento se misturou a uma situação que está fora do controle da Petrobras: as variáveis macroeconômicas de caráter global que estão afetando a economia.
EXAME.com - Como a empresa pode ser afetada pela alta do dólar?
Barbassa - Infelizmente, a principal característica do câmbio flutuante é que ele flutua. Com isso, ele agrega ou tira resultado do balanço. É como se eu estivesse precificando a minha dívida no mercado. E hoje, 70% da dívida está diretamente em dólar ou indexada à moeda norte-americana. Embora o impacto da variação cambial não tenha um reflexo financeiro, já que a variação não representa fluxo de caixa, ela afeta o resultado contábil. No segundo trimestre [com o real valorizado], tivemos um resultado financeiro razoavelmente grande. A depender da taxa que vigorar no final desta semana, a correção pode sim contribuir para um balanço negativo. Mas eu diria que a própria capitalização trouxe recursos suficientes para criarmos um certo hedge a esse tipo de flutuação. A empresa está muito bem preparada para enfrentar o momento sem descontinuar seus projetos, que não visam ampliar a oferta de petróleo para hoje ou amanhã, mas para o longo prazo.
EXAME.com - Então quem tem ações da Petrobras pode contar com o lucro do pré-sal?
Barbassa - O lucro vai depender do preço do petróleo. O importante é que o pré-sal paga todos os seus custos, inclusive os de capital, com o petróleo em uma faixa de preço de 40 dólares o barril. Nesta situação, ele é um produto muito bem colocado porque o petróleo marginal que vem para o mercado chega a custar 70 dólares o barril. A Petrobras está construída sobre um hedge natural de baixo custo e o pré-sal é mais um produto que tem esta característica. Seremos lucrativos com o petróleo a qualquer preço acima dos 40 dólares. E só com um desastre mundial ele ficaria sustentado abaixo deste nível.
EXAME.com - O que o investidor pode esperar daqui para frente?
Barbassa - Eu diria que o cenário é muito bom por conta do conjunto de projetos que a Petrobras dispõe. O principal ativo para uma empresa de petróleo são seus campos. Um terço de todas as descobertas de petróleo feitas nos últimos cinco anos está no Brasil. Isto significa que um terço dos achados mundiais está nas mãos da Petrobras, a parcela mais relevante do mercado. As demais empresas de petróleo não tiveram a oportunidade que temos hoje e estão buscando alternativas de produzir em reservas não convencionais. Nós temos um portfólio ímpar. E o petróleo é um produto dificilmente substituível a médio e longo prazo. Em 2030, as pessoas continuarão abastecendo seus carros com gasolina.
EXAME.com - Quando o investidor pode esperar retornos baseados nesta perspectiva?
Barbassa - O acionista não pode investir em Petrobras pensando em comprar de manhã e vender à tarde. Quem investiu com a tranquilidade de não mexer nas ações por um período de três a cinco anos pode dormir sossegado e nem se preocupar com a crise.
EXAME.com – Quanto a empresa ainda precisa captar no mercado para fazer frente aos seus projetos de expansão?
Barbassa - Temos uma meta de captar entre 60 e 90 bilhões de dólares em cinco anos, dos quais 12 a 13 bilhões já foram captados em 2011. Nós temos várias fontes de financiamento. Temos os bancos parceiros da Petrobras, que nos dão linhas de crédito, e fazemos emissões no mercado de capitais. Como já captamos em dólares este ano, não voltaremos para este mercado agora. Podemos vir a emitir [papéis] para outras moedas dependendo da condição e do momento. O importante é frisar que temos uma posição de caixa muito tranquila, que nos permite fazer operações quando de fato elas forem as melhores alternativas. Não precisamos sair correndo atrás de recursos porque temos que pagar uma conta amanhã. Este é o principal aspecto da gestão financeira da Petrobras: criar yn colchão que dá conforto para administrar os investimentos e acessar novas captações quando elas forem convenientes.