Investimentos: Para não perder dinheiro, é só manter os títulos até o prazo final (SIphotography/Thinkstock)
Júlia Lewgoy
Publicado em 20 de junho de 2018 às 05h00.
Última atualização em 20 de junho de 2018 às 11h54.
São Paulo - Nem só os investidores da Bolsa sofrem com a turbulência do mercado. Até quem investe em títulos do Tesouro Direto ou em fundos de renda fixa, considerados de baixo risco, está assustado com rentabilidades negativas. Mas como isso é possível e o que fazer neste momento?
O nome “renda fixa” pode confundir. Quem investe em renda fixa conhece a forma como o seu dinheiro será remunerado, mas não necessariamente sabe quanto dinheiro vai sacar no final.
Isso acontece porque o preço dos títulos ou da cota dos fundos que investem nesses papéis muda constantemente com a chamada marcação a mercado —mecanismo que atualiza diariamente o valor do título pela diferença entre a taxa de juro do momento e a taxa do dia em que o investidor comprou o papel.
A ideia da marcação a mercado de um título é atribuir o valor daquele papel na data atual, mesmo que ele só tenha vencimento numa data futura. O mecanismo define qual seria o valor de um determinado título que um investidor possui se ele resolvesse vendê-lo imediatamente.
Desde maio, a percepção de piora do cenário político e econômico derrubou os preços dos títulos públicos prefixados e dos indexados à inflação. A queda surpreendeu investidores de títulos no Tesouro Direto e de fundos de renda fixa.
Em junho, o Índice de Mercado Anbima (IMA - Geral), uma referência que mostra a variação dos preços dos títulos públicos, acumula uma queda de 0,73%. Os títulos com as maiores baixas são os atrelados à inflação com prazos mais longos, que desvalorizaram 2,24% no mês.
Essa desvalorização acontece porque, no cenário de hoje, investidores preferem aplicar seu dinheiro no exterior, com a melhora da economia nos Estados Unidos e as incertezas no cenário político e econômico no Brasil.
Por causa desse pessimismo, também esperam que a taxa de juros volte a subir no Brasil. Assim, para ganhar no futuro, preferem comprar títulos indexados aos juros em vez de prefixados ou atrelados à inflação, que pagam o IPCA mais uma taxa prefixada . É por isso que o preço dos títulos e cotas dos fundos cai.
“Essa marcação a mercado é normal. Não houve nada de diferente na mecânica dos fundos de renda fixa. O que aconteceu foi uma rápida reversão no sentimento do mercado, que derrubou a projeção de queda de juros”, explica o gestor da Ativa Investimentos Arnaldo Curvello.
Segundo Curvello, a volatilidade deve seguir, no mínimo, até outubro, quando acontecem as eleições.
A economista Juliana Inhasz, professora do Insper, lembra que os investidores dos fundos de renda fixa sofrem mais com as variações negativas do que quem investe em títulos públicos. “Os gestores não esperavam essa volatilidade nessa proporção”, explica.
Mesmo que o título se desvalorize, o investidor só corre o risco de ter prejuízo se vender o título hoje, antes do prazo de vencimento. Por isso, deve deixar o dinheiro investido até o final para não sofrer com a volatilidade do preço e, assim, ter o retorno fixado no momento da compra, como aconselha o diretor da Órama, Thiago Villela.
No caso dos fundos de renda fixa, quem decide quando comprar ou vender os títulos é o gestor do fundo. Assim como no Tesouro Direto, no longo prazo, a tendência é que a desvalorização seja compensada futuramente. Por isso, vale a pena manter o dinheiro aplicado se o investidor tiver paciência para esperar.
Já para quem pretende resgatar seu dinheiro no curto prazo ou não tem estômago para acompanhar a flutuação das cotas, a recomendação é sacar e investir em aplicações que pagam somente a taxa de juros, como um título do Tesouro Selic, um CDB ou um fundo DI.
Quem for investir agora pode diversificar suas aplicações financeiras em títulos pós e prefixados, para se defender da turbulência do mercado.