Carros do filme Cars: Mesmo se preciso, carro não deve ser dado de mão beijada (Patrick Wymore/Disney Parks via Getty Images)
Da Redação
Publicado em 28 de maio de 2014 às 16h33.
São Paulo - Dar um carro de presente para o seu filho com certeza será muito mais divertido do que desistir dessa ideia. Mas, se você realmente se preocupa com o futuro dele e com sua independência financeira, a segunda hipótese faz muito mais sentido.
Ainda que presentear o filho com um carro aos 18 anos seja um rito de passagem para muitas famílias, ao fazer isso os pais podem prejudicar a educação financeira dos filhos, mesmo se tiverem as melhores das intenções.
Essa é a opinião de Cássia D’Aquino, consultora em projetos de educação financeira do Banco Central, Banco Nacional de Angola, BM&FBovespa, Febraban e United States Agency for International Development (USAID).
Segundo a especialista, os jovens devem ter alguma participação na compra do carro, assim como em outras despesas da família - sempre que possível e mesmo que não seja necessário-, para que eles aprendam a se responsabilizar pelas suas finanças.
Ela acredita que muitos pais presenteiam o filho com um carro não só para agradá-los, mas para agradar a si mesmos. “Eles pensam: ‘Olha como eu sou uma super mãe’. Mas, talvez a lógica mais correta seja: 'Eu amo tanto meu filho que eu quero que ele consiga conquistar a vida dele e que ele sinta nessa conquista o reflexo do meu amor”, diz a consultora.
Quando o carro é necessidade
É claro que existem situações e situações. Para filhos que estudam longe, em cidades com transporte público precário, ter um carro pode ser uma questão de necessidade e não mero capricho.
Ou pode ser de interesse dos pais dar um carro ao filho para não precisar se responsabilizar por buscá-los e levá-los a seus compromissos.
Se para seu filho o carro for uma questão de necessidade, provavelmente você não vai querer deixá-lo a pé por uma questão de educação financeira.
Mas, é importante avaliar como fazer isso da melhor forma, mostrando as reponsabilidades que a posse de um veículo envolve, não só financeiramente falando, mas também apresentando as consequências legais que um uso irresponsável pode trazer.
Para ajudar o filho sem que isso represente um incentivo à sua acomodação, uma boa dica seria pedir sua colaboração para pagar as parcelas do financiamento do carro, ou para arcar com parte dos gastos.
“Mesmo quando o carro é dado, é fundamental que os pais façam o jovem assumir algum encargo, seja o pagamento do combustível, do IPVA ou do seguro. O carro não deve ser dado com um tapinha nas costas, é essencial que haja uma conversa que indique as responsabilidades que o filho irá assumir”, diz Cássia.
Quando o carro é um mero desejo de consumo
Por outro lado, se o filho realmente não precisa do carro, de fato a ideia de presenteá-lo pode ser um tiro no pé.
Caso os pais estejam cientes de que ter um carro não é necessário, mas o filho é quem insiste na ideia, a ordem é não ceder, segundo as "regras de etiqueta" da educação financeira.
“Os pais que cedem por insistência são do tipo que vêm cedendo desde que o filho tem um ano e meio”, diz Cássia D'Aquino, que acrescenta que esse tipo de posicionamento é extremamente prejudicial, inclusive para o sucesso profissional do filho no futuro.
Em outras palavras, realizar todas as vontades do filho pode ser mais simples, mas com certeza prejudica sua independência financeira.
“Meu filho passou na Escola Politécnica da USP e não ganhou um carro. Ele já sabia que isso não aconteceria desde os três anos de idade. O primeiro carro dele foi comprado com uma poupança que ele fez a partir dos seus estágios. Tudo isso o levou a valorizar mais o que ele estava conquistando”, comenta Cássia.
De qualquer forma, como a escolha de ter um carro ou não cabe ao filho, caso ele insista na ideia, resta aos pais dizer que ele terá que se esforçar para isso, encontrando meios de bancar o carro por conta própria.
Dessa forma, os pais educam o filho não apenas para que ele saiba lidar com dinheiro, mas com suas responsabilidades.
Independentemente da escolha do filho, vale reforçar que o carro não funciona como um investimento, apenas como um objeto de consumo. “O fato de o carro ser tomado como investimento é uma ideia tão absurda que até dói na alma”, brinca a consultora.
Lembrar que as parcelas do carro poderiam ser usadas para comprar um apartamento, ou combinar com o filho que, se ele desistir do carro, os pais podem ajudá-lo a financiar um imóvel pode ser uma estratégia bastante convicente, além de ser uma jogada muito mais inteligente.
A especialista ressalta ainda que, além da questão financeira, não ter um carro e utilizar o transporte público pode ser algo muito construtivo para que o jovem desenvolva seu senso de cidadania.
“À medida que o jovem passa a usar o transporte público e passa a ver o carro como um agente poluente, ele também se interessará mais pelas políticas públicas e se tornará um cidadão melhor ”, finaliza Cássia D'Aquino.
Veja no vídeo a seguir porque carros não são investimentos:
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