Usina da Cemig: para a corretora XP, as ações ordinárias são mais vantajosas aos investidores (Divulgação)
Da Redação
Publicado em 14 de dezembro de 2011 às 06h36.
São Paulo – A enorme presença de ações preferenciais (sem direito a voto) é uma peculiaridade do mercado acionário brasileiro. Nas última décadas, muitos empresários decidiram buscar capital com a venda de ações em bolsa, mas, para evitar o risco de perder o controle da companhia, optaram por não realizar ofertas públicas de ações ordinárias (com direito a voto). Prova disso é que alcança 48% a participação ponderada das ações preferenciais no Ibovespa, o principal índice do pregão paulista.
O que é interessante para o controlador, no entanto, nem sempre é bacana para os acionistas minoritários. Em um relatório divulgado nesta semana, a corretora XP defende que os investidores deem preferência para os mesmos papéis detidos pelo controlador na hora de investir em Petrobras, Vale, Gerdau, Itaú e Cemig. Para seguir a recomendação, o minoritário deveria trocar PETR4 por PETR3, VALE5 por VALE3, GGBR4 por GOAU4, CMIG4 por CMIG3 e ITUB4 por ITSA4.
Há três justificativas básicas para a troca. Apesar de as ações preferenciais terem, como diz o nome, preferência no pagamento de dividendos, a XP afirma que muitas vezes são as ordinárias que recebem os proventos mais polpudos. O segundo argumento leva em consideração os preços de mercado. A crise levou muitos investidores estrangeiros a se desfazer de posições no Brasil. Como o estrangeiro tradicionalmente prefere os papéis ON porque já está habituado a eles em seu próprio país, a diferença entre ordinárias e preferenciais está em níveis historicamente baixos.
Por último, a corretora diz que é mais “conveniente e seguro” investir nos mesmos papéis que os acionistas controladores, principalmente em um país cheio de incertezas societárias como o Brasil. Quem compra ações ON ganha o direito de “tag along” – ou seja, de receber ao menos 80% do valor oferecido ao controlador em caso de aquisição da empresa. Já as preferenciais muitas vezes não garantem nenhum direito.
No caso da Petrobras, a troca de PETR4 por PETR3 seria justificada pelos resultados piores das ações ordinárias em bolsa neste ano.
Petrobras ON tem sido negociada com um prêmio inferior à média história sobre a PN. A corretora acredita que não há riscos de liquidez nessa troca, uma vez que a ação ON, ainda que seja menos negociada, movimenta uma média de quase 120 milhões de reais por dia. As mesmas justificativas são utilizadas pela corretora para a troca de VALE5 por VALE3.
Já no caso da Gerdau, os motivos são diferentes. A XP recomenda a troca das ações preferenciais da siderúrgica (GGBR4) pelos da Metalúrgica Gerdau (GOUAU4), os papéis da holding que controla a empresa. Em primeiro lugar, a distribuição dos dividendos é historicamente mais farta para quem detém GOAU4.
Como a Metalúrgica Gerdau é o veículo utilizado pela família Gerdau para controlar a empresa, o minoritário ficaria mais alinhado ao majoritário. “Isso é um diferencial importante em casos de sucessão, aquisições ou mesmo qualquer evento de natureza societária”, diz a XP.
Os mesmos argumentos de maior distribuição de dividendos e alinhamento aos interesses do controlador foram utilizados pela corretora para a troca de das ações preferenciais do Itaú Unibanco (ITUB4) pelas da holding Itaúsa (ITSA4), veículos dos controladores do banco.
Já no caso da Cemig, só há vantagens em trocar CMIG4 por CMIG3. Nos últimos cinco anos, os dividendos pagos aos acionistas ordinários foram bem maiores. O detentor desses papéis tem direito a voto. A ação ON ainda dá direito a 80% de “tag along” em caso de venda da companhia. A única restrição é a liquidez, já que o volume negociado diariamente em ON é de apenas 2,3 milhões de reais.