Preço do ouro subiu nos últimos 12 meses, mas pode cair se Bolsa voltar a subir (Bruno Vincent/Getty Images)
Da Redação
Publicado em 18 de maio de 2012 às 11h23.
São Paulo - O ouro costuma brilhar mais aos olhos de investidores em momentos de crise e pressão inflacionária. Por funcionar como uma reserva de valor, ele é tido por muitos como um porto seguro nestas situações. Como o preço desse metal varia com base nos fatores de oferta e procura, quando o mercado volta a se estabilizar, aplicações mais práticas e rentáveis atraem os investidores e ele pode sofrer desvalorização. Por causa desta volatilidade, é importante entender bem como funciona o investimento antes de entrar nesta aplicação.
Alexandra Almawi, economista da Lerosa Investimentos, explica que a aplicação em ouro é indicada para o investidor individual apenas se ele tiver sensibilidade para compreender os movimentos do mercado. “O pequeno investidor tem que ter conhecimento do mercado para entrar quando está barato e se aproveitar de momento de crise para vender. Tem que entender que a subida do ouro não é uma trajetória constante”, diz..
O quadro de incertezas - composto por valorização do dólar, crise europeia, quedas no juro e na Bolsa - tem ocasionado a valorização do ouro nos últimos meses. No Brasil, o ouro negociado na BM&F teve alta de 4,21% em 2011 e de quase 25% nos últimos 12 meses. O ouro pode se valorizar ainda mais, mas quando a aversão ao risco ceder, a queda deve acontecer porque os investidores se dirigem a aplicações mais rentáveis. “Em termos factuais o número de barras vai continuar lá, mas o investidor irá perder valor com a queda na procura”, avalia.
O célebre investidor americano e ex-sócio de George Soros, Jim Rogers, acredita que o preço do ouro deve recuar de 40% a 50%, caso a Índia pare de importar o metal ou se os europeus decidirem vender suas reservas. Segundo ele, a situação está piorando porque a dívida dos países ricos está alcançando novos tetos.
Sílvio Alface Neto, consultor financeiro e parceiro da corretora Socopa, afirma que, além de questões ligadas ao mercado, a cotação do ouro pode ser influenciada por outros fatores. “Todo final de ano aumenta a demanda pelo produto. Por causa da compra de joias a demanda aumenta e isso gera alta. Ou ainda, se chove muito, a extração nos garimpos é dificultada e o ouro volta a subir", explica
Observando apenas esses fatores, fica claro que o investimento em ouro envolve certa complexidade. Jurandir Macedo, consultor de finanças pessoais do Itaú Unibanco e professor da UFSC, não recomenda este tipo de aplicação para o pequeno investidor. Segundo ele, comprar ouro é apenas fazer uma reserva de valor, e é muito diferente da compra de uma ação de empresa, porque não gera riquezas. “A maior parte das pessoas investe sempre no que era bom. Ouro esteve bom nos últimos dois três anos”, conclui.
Como funciona a aplicação
No Brasil, a forma mais comum de investir em ouro é por meio da Bolsa de Mercadorias e Futuros. Para comprar ouro na BM&F, o investidor deve procurar uma corretora listada na Bolsa. A negociação mínima é de um contrato, que pode ser o lote-padrão de 250g ou os contratos fracionários de 10g e de 0,225g, que têm preços mais acessíveis, mas têm menor liquidez.
“Quando o cliente compra o ouro através de uma corretora na Bolsa, ele tem uma série de garantias. É mais seguro para o investidor, tanto pelo sistema de negociação, liquidação dos negócios, como pela qualidade do ouro negociado”, ressalta Alface Neto.
A cotação do ouro é feita em reais por grama. Pelo preço fechado nesta quinta-feira, a 101,30 reais, o lote-padrão sairia por 25.325 reais. O preço do ouro aqui é atrelado à cotação do ouro na bolsa de Nova York, que é feita em dólares por onça (medida que equivale a aproximadamente 31 gramas). Nesta quinta-feira, por exemplo, a onça fechou a 1.547 dólares, com isso depreende-se que cotação a da BM&F está 1,8% acima da paridade de Nova York, fato que decorre da alta demanda por ouro no mercado nacional.
Por meio da BM&F, além da compra à vista existem também os contratos nas modalidades futuro, termo e opção de compra e venda, mas elas são mais indicadas para investidores com mais experiência.
O investidor pode também comprar o ouro pelo mercado de balcão, no qual a mercadoria é entregue fisicamente e é vendida por fundidoras credenciadas pelo Banco Central. Existem ainda outras maneiras de investir em ouro, como pela compra de joias, pelo mercado informal, ou em um fundo de capital protegido.
O ouro percorre um caminho longo até ser negociado na Bolsa. Depois da extração, ele é refinado e transformado em barras. Elas são lacradas e embaladas e só então são entregues a uma instituição financeira. Estas instituições são bancos credenciados pela BM&F, que mantêm as barras de ouro sob custódia, armazenando-as em cofres gerenciados.Todo esse processo é atestado pela Bolsa.
Caso o investidor queira levar o ouro físico para casa, ele deverá procurar a sua corretora e solicitar a retirada das barras junto à BM&F, indicando em qual banco custodiante pretende retirá-las. Porém, quando isso acontece, o ouro deixa de ter padrão de negociação em ambiente da Bolsa e deixa de ser um ativo, passando a ter o valor de um produto como qualquer outro.
Taxas
A Bolsa faz a cobrança da taxa de custódia e a repassa para o banco custodiante. São cobrados 0,07% ao mês, calculados diariamente sobre a posição mantida pelo investidor, de acordo com a seguinte metodologia: Taxa de Custódia ao dia = (preço máximo do ouro no dia x 0,07% x saldo em gramas)/ 30 dias.
Quando negociado como ativo financeiro, o ganho de capital do ouro é isento de Imposto de Renda sempre que o valor total dos contratos não superar 20.000 reais em um único mês.
A aplicação está sujeita ainda à cobrança de taxa de corretagem, que varia de acordo com a corretora contratada. Geralmente, a taxa fica na faixa de 0,2% sobre o valor total envolvido na transação.