Minhas Finanças

Para Freakonomics, só educação financeira não adianta

Autor de um dos livros de economia de maior sucesso dos últimos anos não acredita que as pessoas possam evitar problemas com dinheiro apenas com alfabetização financeira

Stephen J. Dubner, coautor de "Freakonomics": só educação financeira não é suficiente para que as pessoas tomem as decisões corretas (Divulgação)

Stephen J. Dubner, coautor de "Freakonomics": só educação financeira não é suficiente para que as pessoas tomem as decisões corretas (Divulgação)

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Da Redação

Publicado em 16 de março de 2012 às 18h34.

São Paulo – Lançado em 2005, “Freakonomics” se transformou rapidamente em um dos livros de economia mais lidos e vendidos da década passada. A mistura de estatística aplicada com textos ágeis para comprovar a relação improvável entre diversos fatos fez tanto sucesso que a dupla de autores, o jornalista Stephen J. Dubner e o economista Steven D. Levitt, decidiu abrir uma consultoria e criar subprodutos, como um DVD, um site, um blog e outro livro.

No mais recente programa de rádio disponível no blog, Dubner entrevista duas especialistas em finanças sobre a importância da educação para livrar as pessoas de enrascadas com dinheiro. A conclusão, pouco óbvia como sempre, é que somente estudos e leituras não adiantam e que as pessoas, infelizmente, precisam ser protegidas, de alguma maneira, do risco de se meterem em problemas financeiros.

O depoimento mais contundente é de Lauren Willis, professora de direito da Loyola Law School Los Angeles. Para ela, dar apenas um pouco de educação financeira para as pessoas pode deixá-las com a sensação de que já estão em condições de tomar sozinhas complexas decisões financeiras. O excesso de confiança pode levar uma pessoa geralmente prudente a assumir riscos desnecessariamente.

A professora afirma que não há estudos nem evidências de que as pessoas que estudaram um pouco de finanças foram capazes de tomar melhores decisões que as demais. Ensinar matemática em profundidade para a população, por outro lado, faria uma enorme diferença. “Há estudos que comprovam que quem tem conhecimentos matemáticos toma melhores decisões financeiras, mas não há evidências que alguém que saiba a diferença entre uma ação e um título de dívida faria algo melhor só porque isso lhe foi ensinado.”

Ela vai além. “É como se começássemos a ensinar todo mundo um pouco de medicina para que as pessoas comecem a ser seus próprios médicos. (...) Isso não é somente ineficiente como também reforça a cultura de culpar o próprio consumidor [pelos seus reveses]”, afirma. Para Lauren, o consumidor não pode começar a procurar problemas nele mesmo quando foi incentivado a investir na bolsa, perdeu dinheiro e não anteviu essa possibilidade.

A professora afirma que as pessoas precisam reconhecer que os produtos financeiros costumam ser realmente complexos, ainda que muitos deles sejam bons. Quem não tem capacidade de optar pelo produto correto para seu perfil e necessidades deveria consultar conselheiros financeiros que estejam aptos a assessorá-lo e que sejam isentos e não recebam comissões de corretoras ou fundos para vender determinados produtos.


Ela usa como exemplo as hipotecas. Para comparar adequadamente os prós e contras de um financiamento imobiliário com taxas fixas com outro com juros variáveis, é necessário ter conhecimento de índices, margens, descontos, taxas de aluguel, formas de pagamento, condições de amortização e regras para refinanciamento. Alguém com conhecimentos básicos de educação financeira não faria, portanto, muito melhor que um taxista dirigindo um carro de Fórmula 1.

Lauren afirma que, com seus próprios conhecimentos, não se sente confortável em tomar decisões financeiras. Por isso, ela procura fazer escolha apenas dentro do cardápio de opções que lhe são oferecidas pela própria empresa onde trabalha, como plano de aposentadoria ou seguro de vida.

A outra entrevistada do programa tem uma opinião completamente diferente. Para Annamaria Lusardi, professora de Economia da George Washington University School of Business, não é possível viver e trabalhar de maneira eficiente sem alfabetização financeira. Para defender que esse passe a ser uma das disciplinas escolares em colégios de ensino médio americanos, ela cita alguns dos resultados de uma pesquisa que realizou com pessoas de mais de 50 anos – supostamente aquelas mais experientes financeiramente.

Nas entrevistas, eram feitas três perguntas. A primeira era bastante simples. Imagine alguém que tem 100 dólares investidos com uma taxa de juros de 2% ao ano. Após cinco anos, essa pessoa terá mais de 102 dólares, exatamente 102 dólares ou menos do que isso? A segunda pergunta era relacionada à inflação. Se seu investimento rende 1% ao ano e os preços em um país sobem em média 2%, você será capaz de comprar mais coisas, o mesmo ou menos que hoje no dia que resgatar o dinheiro?

Na última pergunta, o entrevistado precisava apenas responder em “sim” ou “não” a essa pergunta: comprar a ação de uma única empresa é menos arriscado do que investir em um fundo de ações? Apesar de as três perguntas serem bastante óbvias, apenas um terço das pessoas conseguir acertar todas. Os resultados a levaram a defender que as escolas passem a oferecer aulas de educação financeira.

“As pessoas sempre me dizem que é caro adquirir educação financeira. Eu acho que ainda mais caro é não tê-la”, diz Annamaria. “Imagine o que aconteceria se qualquer pessoa pudesse dirigir sem tirar uma habilitação de motorista?” Seria mais ou menos isso que acontece hoje no mundo das finanças.

Dubner, autor de “Freakonomics”, conclui o programa de rádio dando razão às duas debatedoras. Devem haver esforços para universalizar a educação financeira como forma de ajudar as pessoas a tomar as decisões corretas, mas também é necessária a contratação de especialistas para identificar e explicar os riscos de produtos financeiros mais complexos. “O analfabetismo financeiro é um problema difícil de resolver, que requer muito conhecimento, um pouco de força de vontade e também certa criatividade”, conclui.

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