(./Divulgação)
Marcelo Sakate
Publicado em 13 de outubro de 2020 às 06h00.
Última atualização em 13 de outubro de 2020 às 08h37.
Os efeitos da grave crise provocada pela pandemia sobre a saúde financeira dos brasileiros continuam a ser conhecidos aos poucos. O total de brasileiros que disseram que nunca tomaram crédito diminuiu 10 pontos percentuais na comparação com os resultados de um ano atrás, revela um novo estudo recém-concluído pela empresa de pesquisas Plano CDE a pedido do Banco PAN, com brasileiros de todas as classes de renda.
Quatro em cada dez brasileiros (44% do total) cuja renda familiar vai até 4.999 reais afirmaram que nunca pediram um empréstimo; um ano atrás -- antes da pandemia do novo coronavírus --, esse percentual superava a metade desse universo, com 54% dos brasileiros. Essa renda compreende famílias das classes D e E e de parte da classe C.
A mesma queda percentual de brasileiros que disseram que nunca tomaram crédito foi verificada entre aqueles com renda familiar acima de 4.999 reais, ou seja, que pertencem à parte de cima da classe C e às classes A e B. Três em cada dez brasileiros (31%) se enquadraram nessa situação, dez pontos percentuais abaixo dos 41% de 2019.
O aparente paradoxo de haver mais brasileiros que já tiveram dívidas na metade de cima da pirâmide de renda do que na base se desfaz em parte com as informações sobre quais as modalidades de crédito mais recorrentes para cada estrato de renda.
Para mais da metade (54%) dos brasileiros com renda familiar de até 4.999 reais, a tomada de empréstimo serviu para pagar dívidas. Esse percentual cai para 34% no caso de pessoas com renda média acima de 4.999 reais. Na metade de cima da pirâmide, 39% utilizaram o crédito como forma de financiamento para a aquisição de imóveis (18%) e carros (21%).
Por outro lado, apenas 16% dos brasileiros na base da pirâmide acessaram financiamento com essas duas finalidades -- apenas 6% para comprar um imóvel. A razão é a dificuldade de obtenção de crédito de médio e longo prazo para brasileiros nessas classes.
"Chama a atenção que o público de menor renda esteja com foco em pagar a dívida ou fazer a troca de uma dívida mais cara por outra com taxas menores", afirma Pedro Poli, superintendente do Banco PAN. "É um sinal de que a comunicação massiva do mercado e a agenda de educação financeira do próprio Banco Central começam a surtir efeito."
Mas, apesar da preocupação bem-vinda em evitar dívidas, ainda há um caminho a percorrer em educação financeira. Um em cada sete consumidores (14% do total) com renda familiar de até 4.999 reais ainda se endivida na modalidade mais cara do mercado, o cartão de crédito, em que os juros médios superam a casa de 300% ao ano. A modalidade mais comum é o crédito pessoal, com 42% dos pedidos de empréstimo.
Entre as pessoas com renda familiar acima de 4.999 reais, a taxa de dívidas no cartão cai pela metade. Para esse estrato da pirâmide, o crédito consignado acaba sendo a modalidade mais recorrente, com 35% do total. Depois vem o crédito pessoal (33%).
Para Pedro Poli, além da esperada melhora da economia e, consequentemente, do nível de emprego nos próximos anos, há outros fatores que podem contribuir para a melhor gestão financeira das famílias de baixa renda: "A chegada do open banking e o advento dos bancos digitais podem ajudar essas pessoas a organizarem melhor suas contas. A democratização dos dados vai permitir a oferta de linhas de crédito com taxas mais competitivas e soluções que se adequem à sua situação", afirma o executivo do PAN.
Para cerca da metade dos entrevistados com renda familiar de até 4.999 reais, a crise provocada pela pandemia afetou de alguma forma o rendimento mensal: 30,5% disseram que houve uma pequena queda, e 18,7% mencionaram uma grande redução.
Nas duas metades da pirâmide, as pessoas reduziram seus gastos de forma concentrada em três categorias: lazer (cinema, shows etc.), roupas e sapatos e serviços de beleza. A pesquisa foi realizada em junho com 1.529 pessoas com renda familiar de até 10 mil reais.