Mina da Vale: agora mais eficiente, mineradora é uma das preferidas da Empiricus para o ano que vem (Agência Vale/Divulgação)
Da Redação
Publicado em 11 de dezembro de 2013 às 17h24.
São Paulo – Em evento voltado para investidores pessoas físicas nesta terça-feira, os analistas da casa de análise Empiricus apresentaram suas perspectivas para a economia brasileira em 2014 e seus investimentos preferidos para o ano que vem. Acreditando que o cenário econômico será o de uma “tempestade perfeita”, os analistas admitem que será mais difícil escolher bons investimentos, notadamente na Bolsa.
As oportunidades devem se concentrar em ativos de renda fixa conservadora que se beneficiem da taxa básica de juros (Selic) alta, como os títulos atrelados à inflação negociados via Tesouro Direto; nas ações de empresas que se beneficiam da alta do dólar, uma vez que a moeda americana deve se apreciar ainda mais em 2014; e em algumas poucas ações que não costumam estar muito no radar de analistas e investidores.
Para os analistas da casa, a maior parte da carteira de investimentos de um investidor pessoa física (que pode ser de 90% a 95% para os mais conservadores) deve estar concentrada em ativos de renda fixa bem conservadora. O restante em ativos de mais risco e grande potencial de valorização, como ações mais voláteis.
Veja a seguir as recomendações da Empiricus para o ano que vem:
Renda fixa
A inflação deve ficar em segundo plano em 2014, pois o foco maior do governo deve ser a briga contra a excessiva desvalorização do real frente ao dólar. A perspectiva para a taxa básica de juros, a Selic, por isso, é de alta. Hoje em 10,0% ao ano, o juro pode terminar o ano que vem em 10,5%, segundo a Empiricus, podendo inclusive subir mais. Novos cortes, portanto, são muito improváveis.
Ativos que se beneficiam do juro alto se destacam nesse cenário. Para a Empiricus, as Notas do Tesouro Nacional-série B (NTN-B), títulos públicos atrelados à inflação negociados via Tesouro Direto, são a grande oportunidade na renda fixa. Com baixo risco de calote e de fácil acesso para o pequeno investidor, esses papéis pagam um juro acima da inflação, acordado no ato da compra. Atualmente oferecem mais de 6% ao ano acima da inflação.
Segundo Roberto Altenhofen, não é impossível que os juros reais (acima da inflação) pagos pelas NTN-B cheguem a 7% ou até a 8% no ano que vem. Ainda assim, o patamar atual já é muito bom. “Trata-se de uma oportunidade raríssima, ideal para alocar aquela parte maior do seu patrimônio, voltada para ativos seguros”, diz o analista.
Ele alerta, no entanto, que quem comprar uma NTN-B agora, com esse juro real de mais de 6%, deve carregá-la até o vencimento. Se a Selic subir mais, quem tiver NTN-Bs que paguem 6% em mãos perceberá que elas vão perder um pouco o valor. Se resolver vendê-las antes do vencimento, pode ter perdas de rentabilidade e até do principal. Assim, se a Selic subir mais, o ideal seria comprar novas NTN-Bs, que ofertem juros reais mais altos, sem abandonar aquelas compradas a juros reais mais baixos.
Fundos imobiliários
Verdadeira febre em 2012, os fundos imobiliários deixaram os investidores bastante frustrados em 2013. O Índice de Fundos de Investimentos Imobiliários (IFIX), índice composto pelos principais e mais negociados fundos imobiliários da bolsa brasileira, amarga, até agora, uma perda de 13% no ano.
Como os fundos imobiliários costumam ser comparados com a renda fixa – notadamente a NTN-B – eles se tornam, de forma geral, menos atrativos em cenários de juros altos (e crescentes). Isso ocorre porque eles normalmente são ativos geradores de renda, tornando-se interessantes quando é possível comprá-los a um preço baixo em relação aos aluguéis pagos, e se esses aluguéis forem mais atrativos que o retorno da renda fixa, que tem bem menos risco.
Em função disso, a Empiricus recomenda alocação relativamente pequena neste setor, que não deve ser muito promissor em 2014. O foco do investidor deve estar nos fundos com carteiras diversificadas (com muitos imóveis de qualidade), fundos que investem em papéis de renda fixa atrelados ao setor imobiliário (como Certificados de Recebíveis Imobiliários – CRIs e Letras de Crédito Imobiliário – LCIs) e em garimpar eventuais exageros do mercado, que pode punir demais certos fundos.
Os preferidos da casa de análise são o BC Fund e o Fator Verità. O primeiro por ter uma carteira de imóveis comercial de qualidade e um bom histórico de aquisições no setor imobiliário, o que o tornaria mais blindado a uma eventual bolha imobiliária que atingisse, talvez, o setor de imóveis corporativos. Por ser o maior fundo imobiliário listado em bolsa (com valor de mercado de cerca de 2,5 bilhões de reais), a liquidez de suas cotas é alta para esse mercado. Além disso, tem um caixa de 1,2 bilhão de reais alocados em CRIs e LCIs.
Já o Fator Verità é um “fundo de papel”, isto é, investe em títulos como CRIs e LCIs de médio e longo prazo, o que lhe confere uma certa previsibilidade de receitas. Por se tratar de títulos de renda fixa indexados, seus ganhos são acima da inflação e apresentam proteção contra o aumento da Selic. Além disso, como os rendimentos dos fundos imobiliários são isentos de IR para a pessoa física, seus proventos se equiparam aos da renda fixa tributada.
Ações
Para a Empiricus, a Bolsa brasileira “viu o bonde passar”, perdendo a oportunidade de crescer. Enquanto as bolsas dos países desenvolvidos sofriam com a crise, abrindo oportunidade de crescimento para os emergentes, a bolsa brasileira caiu. Agora, com a recuperação das economias desenvolvidas e de suas respectivas bolsas, o Brasil sofre, pois o mundo prefere os portos mais seguros e em crescimento.
“Se o resto do mundo voltar a cair, nós vamos sofrer ainda mais”, diz Roberto Altenhofen, que alerta que quedas em 2014 podem ser muito amplas, mas eventuais altas serão modestas. “Não apostaria em uma grande alta, mesmo com a nova metodologia do Ibovespa”, diz o analista. A Empiricus ainda considera que a Bolsa brasileira está cara em relação à média histórica.
O cenário, assim, se mostra muito complicado para o investidor, que vai ter dificuldade de escolher ações. Para os analistas, as ações acabam divididas em três grupos: as empresas que podem sofrer intervenção do governo, as boas empresas que já estão caras (mas que podem se valorizar ainda mais) e os ativos ruins – que podem até estar baratos, mas não têm bons fundamentos para o longo prazo.
Como o câmbio será a maior briga do Brasil no ano que vem, vão se destacar as ações de empresas que se beneficiam da alta do dólar, por serem exportadoras e terem suas receitas denominadas na moeda americana. É o caso, por exemplo, de Braskem, Embraer, Fibria, Gerdau, Minerva e Vale.
A Vale, aliás, é uma das ações preferidas da Empiricus para o ano que vem. Os analistas estão entusiasmados com o ganho de eficiência operacional da empresa após a reestruturação que focou nos ativos mais rentáveis.
Com o esgotamento do modelo baseado em consumo dependente de crédito, que vem sacrificando também as incorporadoras imobiliárias, a Empiricus recomenda ações do setor de consumo defensivo (aquele que não depende de crédito e está pouco correlacionado com questões econômicas e de renda), como Ambev, Grendene, Cielo e farmácias, notadamente a RaiaDrogasil. O setor de infraestrutura também é uma boa alternativa, com Arteris, Triunfo e ALL.
Entre as elétricas, a Empiricus gosta de Taesa, cujos contratos são de longo prazo e não serão atingidos pela revisão tarifária, além de ser boa geradora de caixa e pagar bons dividendos; de Coelce, por sua eficiência, exposição a um mercado do Nordeste (Ceará), volumes crescentes e altos dividendos; e de Equatorial, também pela exposição a Nordeste e por ser controlada pela Vinci Partners, que tem experiência em reestruturação de empresas.
Entre as ações descontadas e com potencial de bons ganhos, a Empiricus destaca a JHSF, que vem se destacando mais por sua atuação no ramo de shopping centers (como a compra de uma fatia do bem-sucedido Shopping Pátio Higienópolis, em São Paulo) do que no de incorporação imobiliária.
Já a Valid, outra das ações preferidas da Empiricus para 2014, é um caso de ação que pode ganhar muito e, se não ganhar, perder pouco. O potencial de ganhos está no sucesso do seu braço internacional – inclusive a empresa está descontada em relação aos pares internacionais. Como o investimento já foi feito, se não der certo a empresa fica no zero a zero. Além disso, a companhia paga 50% dos lucros em dividendos, é bem administrada e conta com barreiras à entrada de concorrentes em seu mercado.
Finalmente, a Empiricus destaca dois papéis que costumam estar fora do radar dos investidores e até dos analistas, ou que só agora começam a ser olhados. Um deles é o da companhia de vestuário Grazziotin, que não tem dívida, tem 87 milhões de reais em caixa e margens boas e estáveis para o setor. A outra é a fabricante de autopeças Tupy, que conta com uma estrutura de capital enxuta, boa administração, e que detém a melhor tecnologia de blocos de motor e cabeçotes do mundo. Ambas contam com grandes investidores institucionais entre os acionistas.