Para a compra de imóveis, o pagamento parcelado é altamente recomendável (Divulgação)
Da Redação
Publicado em 22 de maio de 2012 às 14h31.
São Paulo - O romance do brasileiro e suas suaves prestações continua a todo vapor. Uma pesquisa realizada pela Associação Nacional das Instituições de Crédito, Financiamento e Investimento (Acrefi) e pelo Instituto Data Popular revelou que 61% da população economicamente ativa divide as compras em prestações, enquanto 39% prefere comprar à vista.
Com tanto parcelamento, resta a dúvida: pelas regrinhas básicas de saúde financeira, é recomendável financiar as compras ou pagar à vista? Quais são os "bons" e os "maus" parcelamentos?
O consultor de finanças pessoais do Itaú e professor da UFSC, Jurandir Macedo, resume que o bom parcelamento é aquele que melhora a vida. “Muitas pessoas acabam com a vida usando o mau crédito, por isso predomina essa impressão de que o crédito é ruim. Mas a verdade é que se a compra for consciente, se o consumidor souber que terá que pagar 10 dias de férias por uma bolsa da Louis Vitton e para ele isso fizer sentido, ele deve comprar”, explica.
Partindo do princípio de que o crédito bom é aquele que é gasto com consciência, nada melhor do que compreender as vantagens e desvantagens de comprar a prazo ou à vista diferentes tipos de bens. Veja a seguir algumas dicas para saber quando é aconselhável parcelar a compra e quando o cartão de crédito deve ficar bem guardado na carteira.
Imóveis
Para o professor de finanças da Fundação Getúlio Vargas, Marcio Gabrielli, um dos financiamentos mais recomendáveis é o relacionado a imóveis. “Como é um bem que não vai perder muito valor em algum tempo, vale a pena fazer um financiamento. Além de ter o sentimento de que você está pagando por algo que pode estar ganhando valor, você vai deixar de pagar um aluguel para pagar as parcelas do financiamento”, explica.
Também pesa a favor o fato de que um financiamento aumenta muito as possibilidades de compra de um imóvel, uma vez que o investimento é elevado. Atualmente, inclusive, com o anúncio da Caixa de redução dos juros do crédito imobiliário, as condições de parcelamento ficaram ainda mais atraentes. E mesmo quem já tem um financiamento em outro banco pode aproveitar para pagar menos juros, já que é possível migrar o financiamento para a Caixa. É possível que, em breve, até outros bancos entrem nesse ciclo de redução das taxas de juros do financiamento habitacional. Em alguns casos, a portabilidade do crédito imobiliário pode gerar uma economia de milhares de reais.
Apesar de o financiamento ser indicado neste caso, o pagamento à vista sempre deve ser considerado, se for possível. Além de liberar o comprador de um comprometimento futuro, ele pode ser mais vantajoso porque, em muitos casos, vem acompanhado de descontos.
Veículos
A pesquisa da Acrefi e do Data Popular mostrou que 8,5 milhões de brasileiros pretendem comprar um carro novo ou usado este ano. Entre as classes C, D e E, 71,5% dos entrevistados afirmaram preferir financiar a compra e entre as classes A e B, a preferência pelo parcelamento sobre para 75,3%.
Cerca de 1,7 milhões de brasileiros também pretendem adquirir uma moto nova ou usada esse ano, e o financiamento é a modalidade preferida para 86,8% dos entrevistados das classes C, D e E e 78,4% das classes A e B.
Estes dados já dizem muito sobre as opções de pagamento de veículos. Como o investimento para comprar um carro ou uma moto também é alto, o financiamento permite que a aquisição seja acessível a uma parcela maior da população.
Jurandir Macedo aconselha o financiamento para compra de automóveis: “Um carro normalmente traz um retorno muito significativo para quem compra, então mesmo que seja parcelado em 48 prestações, muitas vezes compensa”, diz. Ele ressalta, no entanto, que antes de tudo se avalie qual será o comprometimento do salário com o pagamento das parcelas, para que elas caibam no orçamento. Mas lembre-se, ao contrário dos imóveis, os carros se desvalorizam quase sempre.
Mesmo que neste caso o financiamento seja uma boa opção, a regra geral sobre o pagamento à vista deve ser aplicada. Isto é, se houver capital suficiente, devem ser considerados os descontos que podem ser oferecidos no pagamento à vista. Com o desconto e a ausência dos juros que seriam cobrados em um financiamento, em algumas concessionárias o consumidor pode chegar a economizar mais de 1.000 reais.
Bens de consumo duráveis
Nesta classe, vamos considerar principalmente os eletrodomésticos. A compra à vista deve ser a primeira opção, caso haja condições para isso e principalmente se forem oferecidos descontos. Ainda assim, o parcelamento deste tipo de bem pode ser utilizado, sobretudo por se tratar de itens bastante necessários.
Gabrielli acredita que quanto mais necessário for o bem, mais prioridade ele deve ter no orçamento. “Uma geladeira ou um fogão são bens necessário. É melhor financiar esse tipo de produto do que bens supérfluos”, diz.
Além do fator da importância, Macedo lembra ainda que em alguns casos fazer este tipo de parcelamento pode gerar até mesmo uma economia: “No caso de uma geladeira velha, que gasta muita energia, o parcelamento de uma nova pode ser melhor, em termos de custos, do que o desperdício de energia que a pessoa terá se esperar ter o dinheiro para consertar ou comprar uma nova à vista”.
Bens de consumo não duráveis
Geralmente os bens de consumo não duráveis, como roupas e sapatos, são menos essenciais que outros bens. Sendo assim, a avaliação sobre a vantagem de fazer o parcelamento deve ser mair rigorosa.
Se para fazer o parcelamento deste tipo de bem, outros essenciais tiverem que ser comprometidos, então, obviamente, não é aconselhável que ele seja feito. Neste caso, a recomendação seria que este bem mais supérfluo fosse comprado à vista, depois que o consumidor conseguisse poupar o valor destinado à compra.
Este tipo produto tem ainda outro fator que pode ser desfavorável ao parcelamento. Normalmente, os bens não duráveis não se valorizam e se o consumidor fizer o pagamento em 12 vezes, por exemplo, depois de algum tempo vai sentir que ainda está pagando por algo que já foi usufruído.
Uma boa medida para o consumidor é ponderar se, ao parcelar esta compra, que não é essencial, ele irá ultrapassar o limite do cartão de crédito. “O crédito ruim é esse que você entra e começa a calcular como se fosse um complemento do salário. Ao estourar o cartão de crédito, você entra no rotativo do cartão, que é muito caro, pode chegar a 10%”, afirma Macedo.
Compras e contas mensais
As contas de água e luz e outros gastos fixos, como as compras de supermercado e gasolina, devem estar entre as despesas prioritárias de um orçamento e por isso não devem ser pagas parceladamente. Como estes pagamentos são feitos todo mês, se forem pagos com cartão de crédito, as parcelas nunca irão acabar, já que a cada mês novas contas virão, mesmo que as mais antigas já tenham sido quitadas.
Além disso, outra desvantagem dos pagamentos de algumas contas feitas com cartão de crédito é a cobrança de IOF, de 3% ao ano.
Viagens
Dependendo da companhia aérea ou da agência de viagem, existem bons descontos no pagamento à vista. No entanto, se não houver o desconto ou se não houver verba suficiente para o pagamento à vista, entram em jogo algumas das mesmas considerações válidas para os bens não duráveis.
Como a viagem não é um gasto essencial na maioria dos casos, neste caso também recomenda-se que o comprador observe como o parcelamento comprometeria sua receita. Se as parcelas não couberem no orçamento, a sugestão é que seja feita uma economia para este fim durante algum tempo. É melhor pagar a viagem à vista depois, ou mesmo parcelar, desde que o comprador tenha uma margem na receita para isso.
Se a viagem for para o exterior, deve-se evitar o parcelamento no cartão de crédito durante a viagem. Isto porque as compras com o cartão de crédito internacional sofrem cobrança de 6,38% de IOF. Outra desvantagem ainda é que, como a conversão não é feita no dia em que é realizada a compra, mas sim no fechamento da fatura, não é possível saber com qual cotação sua cobrança virá. As exceções ficam por conta das compras imprevistas de alto valor e dos casos em que o banco oferece ao cliente uma taxa de câmbio mais vantajosa que o câmbio turismo, o que pode compensar, mesmo com o IOF mais alto.