Combater o estresse e o cansaço mental se tornou uma das prioridades das empresas com a pandemia (./Thinkstock)
Marcelo Sakate
Publicado em 2 de novembro de 2020 às 07h00.
O aumento da produtividade dos trabalhadores com o home office veio acompanhado de uma carga adicional de estresse e cansaço mental. Diante do quadro, um número crescente de empresas está incorporando programas de bem-estar para os funcionários, como ferramenta de retenção e atração de talentos. Jornadas flexíveis também fazem do cardápio das empresas com esse objetivo. É o que revela uma pesquisa da consultoria global AON com 540 empresas da América Latina, das quais mais da metade brasileiras.
A segurança e o bem-estar (de saúde, físico, emocional etc.) dos colaboradores se tornaram mais importantes para, respectivamente, oito e sete em cada dez companhias.
Programas de bem-estar emocional aparecem como prioridade para um terço das companhias pesquisadas (32%), ligeiramente acima de programas de saúde física (31%). Entre as novidades como prioridades estão as menções a soluções de bem-estar social (25%) e financeiro (23%), o que é considerado uma consequência dos impactos da pandemia para os profissionais, segundo a consultoria.
"Fala-se de bem-estar no ambiente corporativo há algum tempo, mas as empresas tinham muito foco na saúde física: praticar atividades, se alimentar bem. Hoje já se sabe que isso não é suficiente para gerar bem-estar nas pessoas. O trabalho tem que lidar com o bem-estar de uma maneira muito mais ampla", afirma Paulo Jorge Cardoso, vice-presidente de Saúde e Benefícios da AON no Brasil.
Segundo o executivo, a pandemia cristalizou a importância da saúde mental, social (da convivência em comunidade) e financeira (saber como gastar, economizar e investir). Ferramentas como portais digitais com conteúdo de bem-estar (citados por 35% das empresas), consultas de telemedicina (27%) e aplicativos voltados para o bem-estar (18%) começam a ser adotados. Programas virtuais de bem-estar (sessões de meditação à distância, de mindfulness etc.) foram citados por 32% das empresas.
Cardoso afirma que os objetivos dos programas de bem-estar vão além da retenção e atração de talentos. "Ou as empresas agem para oferecer segurança e bem-estar para os colaboradores ou vão enfrentar problemas sérios de produtividade, de capacidade de entrega, de engajamento, tudo isso com impacto no resultado", diz o executivo.
A flexibilidade de jornada para os colaboradores -- depois que a pandemia passar -- já faz parte dos planos de 2 em cada 3 companhias, sendo que o terço restante do universo da pesquisa não diz que não vai adotar, mas que ainda não tem certeza sobre como proceder com a questão. Foram consultadas empresas de mais de 30 ramos da economia no mês de julho, dentro dos três maiores setores da economia: serviços, indústria e comércio, de todos os portes -- por exemplo, 38% com menos de 500 empregados.
Jornadas flexíveis passaram a fazer parte de políticas voltadas principalmente a colaboradores com filhos pequenos: 4 em cada 10 empresas disseram adotá-las.
A permissão para o home office é explicada em parte pela constatação por parte das próprias companhias de que é infundada a tese de que os colaboradores trabalham pouco e não entregam resultados ao trabalhar de forma remota. Metade das empresas avaliou que os seus profissionais estão trabalhando mais horas em casa do que no escritório, e 41% disseram que trabalham a mesma quantidade. E 39% delas avaliam que a produtividade também cresceu, com outros 56% respondendo que ela se manteve constante.
“Para atrair talentos, as empresas precisam oferecer pacotes de benefícios que invistam mais no bem-estar do que o concorrente, abraçando os conceitos de flexibilidade, de promoção da saúde, do bem-estar social e ambiental. São benefícios cada vez mais valorizados, adaptados ao novo ambiente de trabalho. A estratégia mudou de forma significativa”, afirma.