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Onde investir seu dinheiro em 2019

Juro menor, mudanças na economia e cenário externo darão o tom das aplicações neste ano

 (IltonRogerio/Getty Images)

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Anderson Figo

Anderson Figo

Publicado em 3 de janeiro de 2019 às 05h00.

Última atualização em 3 de janeiro de 2019 às 05h00.

Os investidores terão de quebrar mais a cabeça para ganhar dinheiro em 2019. A expectativa é de que a taxa de juros siga baixa, tanto em termos nominais quanto reais, reduzindo os ganhos de quem está acostumado a ficar apenas na renda fixa de curto prazo.

Ao mesmo tempo, esperam-se mudanças com o novo governo do presidente Jair Bolsonaro que podem representar novas oportunidades para o investidor, especialmente na bolsa de valores, mas também aumento de tributação de determinadas aplicações hoje isentas. Já o cenário externo pode complicar os mercados brasileiros, trazendo riscos para os investidores.

Curto prazo terá ganho menor

Para os recursos de curto prazo, as opções continuarão sendo o papel do governo federal Tesouro Selic, comprado via Tesouro Direto, papéis privados de bancos, como CDBs e Letras de Crédito Imobiliário (CRI) ou do Agronegócio (CRA), e fundos DI que tenham taxa de administração inferior a 1% ao ano, ou mesmo a caderneta de poupança. Fundos DI com taxa superior a 1% continuarão perdendo para a caderneta.

Juros de 6,5% trarão ganho real líquido de 1,47% no ano

O rendimento dessas aplicações, porém, deve ser limitado pelo juro projetado para o ano em 6,5% que, com uma inflação estimada em 4% no ano que vem, significaria um juro real bruto de 2,4% no ano. Se for descontado o imposto de renda, de no mínimo 15%, quem conseguisse 100% da taxa Selic ou do CDI (juro privado que acompanha a taxa do governo) teria um ganho nominal de 5,52% líquidos. Descontada a inflação de 4%, esse rendimento significará um rendimento real líquido de 1,47% ao ano.

Poupança deve render 4,55% líquidos

Mas poucos conseguem todo o ganho da Selic. Mesmo no Tesouro Direto, com a isenção da taxa de administração de muitas corretoras e da redução da taxa de custódia cobrada pela B3, de 0,30% para 0,25%, o investidor não chegará a 100% do CDI.

A exceção são alguns CDBs de bancos menores. O referencial para o investidor de varejo nesse caso é a poupança, que rende 70% da taxa Selic, e deve pagar no ano que vem 4,55% ao ano líquidos, ou 0,52% depois de descontada a inflação de 4%.

Já para os prazos mais longos, a indicação é de diversificação, com fundos multimercados e de ações. Para a aposentadoria, a indicação são os papéis do Tesouro de longo prazo, que ainda pagam juros reais de 5% ao ano, altos para uma economia mais equilibrada. Se a inflação ficar em 4%, o rendimento desses papéis será de 9,2% brutos ou 7,82% após o imposto de renda de 15%.

Santander vê oportunidade em ações

O cenário geral é positivo para o próximo ano, com uma série de notícias boas na economia, como inflação controlada, juros baixos e um crescimento da economia que pode ficar entre 2,5% e 3% ou até mais, afirma Gilberto Abreu, diretor de investimentos do Santander Brasil.

Nesse cenário, o banco recomenda o aumento da parcela em fundos multimercados e em renda variável, que podem capturar melhor esse movimento, e ao mesmo tempo reduzir a parcela aplicada em renda fixa e papéis atrelados à inflação.

O Santander sugere também incluir algum mecanismo de proteção na carteira, pois, apesar da expectativa local positiva, não há certeza de que esse cenário vai se concretizar. E há ainda a incerteza com o cenário internacional, com a possibilidade de recessão nos EUA e os efeitos dos problemas geopolíticos na Europa e entre China e Estados Unidos.

Para se proteger de eventuais turbulência, Abreu sugere certificados de operações estruturadas (COEs) que acompanhem o dólar. “Se houver crise no exterior e o dólar subir em relação ao real, o cliente passa a ter um ativo que compensaria a piora da bolsa local”, explica.

Menos renda fixa pós

Na visão de Abreu, toda renda fixa pós-fixada, atrelada ao juro Selic ou do CDI, como fundos DI, CDB e até LCIs mais curtas deveriam ser reduzidas e substituídas por multimercados e renda variável.

E, como a renda variável exige acompanhamento maior, a recomendação seriam fundos de ações, com gestores mais especializados. “Buscar risco sem auxílio de um especialista é temerário, pois a pessoa não conhece os mercados ou os tipos de aplicação”, afirma Abreu.

O ideal é buscar carteiras recomendadas ou fundos de investimentos, como a carteira de ações sugerida pela corretora do Santander, a Ibovespa Mais. “A carteira permite ao cliente usar toda nossa área de pesquisa de ações, que tem conseguido montar uma seleção de papéis com performance superior à do  Índice Bovespa”, diz.

Fundos imobiliários beneficiados pelo juro mais baixo

Abreu recomenda fundos imobiliários apenas para clientes com perfil mais arrojado. “Trabalhamos com cinco classes de risco, e nas duas iniciais não recomendamos, só a partir do perfil moderado”, diz o diretor, explicando que o fundo imobiliário tem características de renda variável. Mas ele espera que, com juro mais baixo, esses fundos devem ser beneficiados. A projeção do Santander é que os juros fiquem em 6,5% e subam no fim do ano apenas.

Poupança é opção de curto prazo para valores menores

O cliente normal brasileiro tem perfil conservador e se ressente da taxa de juros mais baixa, apesar de o país estar melhorando, avalia Abreu. “O investidor olha o ganho nominal e reclama que está ganhando menos, apesar de a inflação também estar mais baixa e o juro real continuar atrativo”, afirma.

Para o cliente mais conservador, a recomendação de Abreu é que a parcela maior continue em veículos mais líquidos. E os valores abaixo de R$ 50 mil podem ir mesmo para a caderneta de poupança, diz o especialista, como forma de obter resultados melhores que os de fundos DI de grandes bancos para o varejo, que têm taxas de administração mais altas e retorno inferior ao da poupança.

Tesouro Direto exige organização para saques

Outra alternativa é aplicar em Tesouro Direto, comprando papéis atrelados ao juro diário Selic, as LFTs, aproveitando as corretoras que não cobram mais taxas de corretagem e o fato de o Tesouro e a B3 terem reduzido a taxa de custódia anual de 0,30% para 0,25%.

“Mas o cliente tem de estar atento ao prazo para sacar o dinheiro, pois há um prazo de liquidação de dois ou três dias até liberar o saque”, lembra. Isso deixa a opção mais difícil para os recursos para emergências. Para esses casos, restam os CDBs com liquidez diária, os fundos DI mais baratos e a poupança.

O investidor pode ainda buscar ativos hoje isentos, como LCI e LCA, e debêntures incentivadas, que têm risco de crédito.

Papéis prefixados e debêntures para prazos maiores

Para prazos maiores, Abreu vê oportunidades no Tesouro Direto, em papéis prefixados para 2025. Nos pós-fixados, as melhores opções estão em debêntures incentivadas, que podem pagar 99% a 100% do CDI sem impostos. “Mas aí há o risco de principal se a empresa não pagar a debênture, por isso é preciso escolher bem”, recomenda.

Já para aplicações para a aposentadoria, a sugestão são os papéis mais longos do Tesouro corrigidos pelo IPCA. “O dinheiro para a aposentadoria tem uma lógica diferente, por isso é importante separar os recursos de reservas de emergência ou para outros projetos dele”, explica Abreu.

Guarde três meses de salário no curto prazo

O ideal, recomenda, é que o investidor tenha pelo menos  três meses de salário de reserva líquida, mesmo que abrindo mão de rentabilidade. A segunda coisa é ter uma reserva para aposentadoria, para garantir o futuro, e, se sobrar uma terceira parte, usá-la para aproveitar as melhores oportunidades de maior risco que surgirem.

“Mas a maior parte das pessoas não venceu nem a primeira etapa, da emergência, e vai usar o cheque especial, o cartão, o consignado, pagando juros altos e criando uma situação que não consegue controlar”, admite. Ele espera, porém, que este ano as pessoas tenham um pouco mais de dinheiro que nos últimos dois ou três anos pela retomada da economia e do emprego.

Itaú vê juro baixo e boas opções em bolsa

A grande discussão no mercado hoje é até quando o Banco Central (BC) vai manter os juros no nível atual de 6,5% ao ano, diz o especialista em investimentos do Itaú Unibanco, Martin Iglesias. A perspectiva do Itaú é que a taxa fique em 6,5% até o fim do ano que vem ou até um pouco mais, uma vez que há muita ociosidade nas empresas, o que permitiria ao país crescer até 3,80% no ano que vem, e sem pressão sobre juros. As contas públicas também teriam maior equilíbrio, o que ajudaria o Comitê de Política Monetária (Copom) a segurar a taxa atual por mais tempo. Assim, papéis prefixados que paguem taxas acima desse nível seriam atrativas para o investidor.

Pelo mesmo motivo, o Itaú está com uma visão positiva para a bolsa de valores, diz Iglesias, ressalvando que “obvidamente existem questões que podem afetar as ações, tanto locais quanto internacionais”.  O banco está pessimista com o mercado externo e acredita que os índices de ações americanos bateram no teto. Já o dólar no Brasil se estabilizou diante do real em torno de R$ 3,80.

As melhores opções em 2019

Com base nesse cenário, Iglesias faz uma lista de investimentos que deveriam receber recursos novos dos investidores em 2019. E o primeiro é a renda variável. O segundo são os fundos multimercados, pela capacidade dos gestores aproveitarem as oportunidades que devem surgir. E, os títulos prefixados ou atrelados à inflação de longo prazo.

“Nos papéis, longos, há um prêmio nos juros relacionado à reforma da Previdência”, explica Iglesias. Assim,  se a reforma for aprovada, mesmo que não seja a ideal, isso terá impacto na confiança e nas taxas de juros mais longas. “Alguma coisa deve passar no Congresso e isso terá impacto nas taxas de juros dos papéis de inflação mais longos, que devem cair”, afirma. “Estamos otimistas com o mercado local”, resume Iglesias.

Bolsa, primeira da lista

Com base nesse cenário, Iglesias diz que está otimista também com a bolsa, que está na primeira classe de opções para o investidor. Mesmo depois das altas deste ano, há um bom potencial para as ações brasileiras, já que os investidores estrangeiros ainda não estão ampliando suas aplicações no Brasil. “Quando houver uma sinalização da aprovação da reforma da Previdência, o estrangeiro deve entrar e provocar uma nova onda de valorização”, diz.

ETF pode ganhar com entrada de estrangeiros

O banco não recomenda ações para clientes com perfil conservador, mas os moderados que estão com poucas ações em carteira podem ampliar as aplicações em setores como varejo e papéis mais líquidos e de empresas maiores, preferidas dos estrangeiros. “Um ETF (fundo com cotas negociadas em bolsa que reproduz os índices de ações) pode ser um bom jeito de pegar esse movimento das ações mais líquidas, por isso uma das nossas indicações é um ETF de Ibovespa”, diz.

Iglesias diz que não costuma recomendar fundos imobiliários, por considerar que há outras opções de diversificação, mas ele acha que podem ser uma opção para geração de renda, como as ações de dividendos, para para 2% a 3% da carteira apenas. Ou para investidores de perfil mais agressivo.

Mudanças de tributação

Sobre a tributação dos investimentos, a expectativa é que dividendos passem a pagar imposto, além de LCI e LCA. Apesar de não se saber como essa cobrança será feita, Iglesias acredita que o governo deverá compensar a tributação do dividendo sobre pessoa física reduzindo o imposto sobre as empresas, o que elevaria o lucro das companhias. Já com relação à tributação de LCI e LCA, a expectativa é que as aplicações já feitas não sejam atingidas e que a alíquota seja menor que as de outras aplicações.

Papéis do Tesouro Direto

Com relação à taxa de juros em queda, Iglesias vê oportunidades em papéis prefixados do Tesouro com vencimento em 2021, e que ainda pagam 7,35% ao ano. “Prazos mais longos já têm um risco maior”, alerta. Já as NTN-B longas podem ser oportunidades em caso da mudança na percepção de risco do país com as reformas. “Tem a NTN-B 2024 sem juros semestrais ou a 2035 com juros”, afirma.

Recomendações por perfil de investidor

Com relação à alocação em bolsa, Iglesias diz que a recomendação atual é zero para o investidor conservador, 5% para o moderado, 11% para o arrojado e 25% para o agressivo.

Já os multimercados podem representar 7% da carteira mais conservadora, atingindo 12% na dos moderados, 30% nas dos arrojados e 30% nos agressivos.

Papéis pós-fixados, atrelados ao CDI ou à Selic, podem representar 85% da carteira conservadora, 50% no moderado, 30% nos arrojados e 10% nos agressivos.

Prefixados seriam 8% na carteira conservadora, 20% na moderada, 20% na arrojada e 10% nos agressivos.

Papéis atrelados à inflação ficariam fora da carteira conservadora, mas atingiriam 10% na moderada, 15% na arrojada e 19% na agressiva.

E renda variável internacional fica de fora das carteiras conservadoras. Nas moderadas, pode chegar a 3%, 4% nas arrojadas e 6% nas agressivas. “Assim, montamos uma carteira diversificada e com proteção da aplicação no exterior que, se houver alguma coisa pior lá fora, ela cobre as perdas aqui”, diz.

Toro vê ganhos em ações, CDBs e fundos imobiliários

A renda variável deve estar no foco das atenções do ano que vem, acredita Rafael Panonko, chefe de análise da corretora Toro Investimentos. O governo que entra já fala em pautas importantes que quer colocar em discussão já nos primeiros meses, como reformas da Previdência e fiscal, a redução do déficit público via corte de gastos, todas medidas que são vistas com bons olhos pelo mercado. A preocupação é como será a articulação política para aprovar tudo em um curto espaço de tempo. Se conseguir ao menos parte das aprovações, aí sim o mercado de capitais deve deslanchar com investidores estrangeiros comprando mais ações aqui.

Setores beneficiados na bolsa

Panonko vê alguns setores beneficiados pela aprovação das reformas e que subiriam mais que os índices. As estatais, por exemplo, sofrerão o impacto benéfico das declarações de privatização ou de vendas de suas subsidiárias ou mesmo reestruturações que aumentem sua eficiência.

Bancos sempre compõem uma boa carteira no Brasil, e ainda mais com o crescimento do crédito e da economia. Itaú Bradesco, e alguns bancos menores como Inter e Banrisul chamam a atenção. Panonko acredita que os bancos menores estão em uma linha de crescimento interessante e conseguindo atrair o foco do brasileiro em busca de bancos digitais.

O setor de infraestrutura também terá um bom potencial, com empresas como CCR e Rumo Logística. “Devemos ter uma demanda maior por investimento em infraestrutura, principalmente com capital externo entrando no país”, afirma Panonko.

A Toro gosta também de empresas de consumo e varejo, que serão beneficiadas pela expectativa de crescimento de 3% da economia no ano que vem. O desemprego já mostra queda e com a economia acelerando deve cair mais e a população deve consumir mais também. A corretora cita empresas com maior presença de mercado, como Lojas Renner, Magazine Luíza e Arezzo. A melhora do varejo pode beneficiar também empresas de shoppings, como BR Malls e Multiplan. “Mas o setor de construção civil mesmo não deve se recuperar agora”, diz.

Cenário externo tem riscos e benefícios

Panonko alerta que é preciso ficar atento ao mercado internacional. Há a desaceleração da economia chinesa em meio ao conflito comercial com os EUA e preocupação com o crescimento dos Estados Unidos e da Europa. O lado positivo é que essa preocupação pode manter os juros internacionais mais baixos por mais tempo, o que beneficiaria o Brasil e outros emergentes com mais fluxos de capitais.

Dólar e juros comportados

A instabilidade externa deve manter o dólar em um nível entre R$ 3,60 e R$ 3,90, afirma Panonko, o que permitiria a manutenção dos juros básicos entre 6,5% e 7% ao ano. Ele não acredita, porém, que os juros possam voltar a cair  em 2019 mesmo com a reforma da Previdência. “Podemos ter pressões inflacionárias, por isso o juro não deve cair, mas esse nível de juros não deixa a renda fixa entre os melhores investimentos do ano que vem”, afirma Panonko.

Fundos imobiliários e renda fixa

Ele diz que o ano de 2019 pode ser muito bom para os fundos imobiliários e tem uma carteira de quatro indicações formada por BTG Pactual Corporate Office (BRCR11), o Kinea Renda (KNRI11), o CSHG Brasil Shopping (HGBS11) o Aesapar (AESI11). São fundos que pagam um bom dividendo mensal e alguns têm potencial de valorização da cota.

Na renda fixa, a corretora espera oferecer CDBs de instituições menores pagando juros bem acima do CDI e com proteção do Fundo Garantidor de Crédito (FGC). Hoje, as taxas dos CDBs estão entre 115% e 123% do CDI, nível que deve se manter ou até melhorar com a expansão do crédito das  instituições menores. Recebíveis imobiliários (CRI) ou do agronegócio (CRA) podem se tornar atrativos pela retomada da economia.

Já LCI e LCA devem ser vistos com cautela, já que o governo fala em tributar essas aplicações hoje isentas. “Caso sejam tributadas, as taxas desses papéis devem subir e se aproximar dos CDBs, mas eu daria preferência a um CDB que pagasse 115% do CDI”, diz Panonko. No Tesouro Direto, o analista recomenda cautela com os prefixados, mas vê ganhos nos papéis mais longos corrigidos pela inflação.

No modelo de distribuição de investimentos da Toro, diante de um cenário de aprovação das reformas, uma carteira um pouco mais concentrada em ações não seria má ideia, sem ultrapassar metade dos investimentos, afirma Panonko. Na renda fixa, seria o caso de uma maior diversificação. “Temos de ser otimistas com o novo governo, mas se as reformas não vierem no ritmo esperado, o mercado vai reagir, e tem ainda o mercado externo, que recomenda cautela.”

Limite de perdas

Panonko sugere também que o investidor que vai aumentar a parcela em ações tenha sempre um limite de perdas. “Uma coisa importante para toda carteira de renda variável é o “stop”, quanto está disposto a perder”, diz.

Esta reportagem foi publicada originalmente na Arena do Pavini.

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