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O Tesouro Direto é melhor do que a poupança?

Internauta pergunta se realmente vale mais a pena investir nos títulos do Tesouro Direto do que na poupança


	Cofrinho: Segundo especialista, mesmo com custos maiores Tesouro Direto rende mais que a poupança
 (ThinkStock/Hemera Technologies)

Cofrinho: Segundo especialista, mesmo com custos maiores Tesouro Direto rende mais que a poupança (ThinkStock/Hemera Technologies)

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Da Redação

Publicado em 15 de abril de 2015 às 15h08.

Dúvida do internauta: Percebo neste momento que a taxa Selic está em alta e tenho vontade de investir meu baixo valor (que está na poupança) de 250 reais no Tesouro Direto. Pelo pouco que pesquisei, as Letras Financeiras do Tesouro (LFTs) seriam o ideal. Eu posso investir esse valor baixo de 250 reais? A LFT é melhor que a poupança? E esse é o título mais indicado para quem procura rendimentos sem riscos?

Resposta de Beto Veiga*:

Dentre os títulos do Tesouro disponíveis para venda, aquele que apresenta menor risco de variação de preços (risco de mercado) é a LFT, que com a nova denominação de “fantasia” do Tesouro Direto passou a ser chamada de Tesouro Selic (LFT).

Isso quer dizer que será muito raro você observar de um dia para o outro uma redução no preço do papel porque, como o próprio novo nome diz, o retorno do título é calculado com base na taxa básica de juros.

O Tesouro Selic (LFT) remunera seus investidores com o resultado da taxa básica de juros acumulada entre a data de compra e a de venda do papel. A cada dia, são acrescidos juros. Se forem altos, o incremento é grande, se forem baixos, é pequeno.

Não posso deixar de chamar a atenção para o cuidado que você deve ter com a taxa de corretagem cobrada pelos agentes de custódia, que são os bancos e corretoras que intermedeiam a compra e venda dos papéis.

Só para lembrar um pouco, a poupança atualmente tem uma remuneração que varia de acordo com o nível da taxa de juros (Selic). Se a taxa é superior a 8,5% ao ano, a poupança paga uma taxa de 0,5% ao mês mais a TR (o que gera uma remuneração inferior a 70% da Selic).

Quando a Selic é igual ou menor que 8,5% ao ano, então a remuneração da poupança é de 70% da taxa básica de juros. Resumindo, o máximo que a poupança paga ao investidor é 70% da Selic.

E nesse momento, como a taxa Selic é superior a 8,5% ao ano, estamos com a poupança rendendo menos do que os 70% da Selic, já que ela está pagando 0,5% ao mês mais a TR.

Para sabermos qual dos dois investimentos rende mais, precisamos atentar para os custos. A poupança não tem taxas e nem tributos, diferentemente da LFT (Tesouro Selic), que sofre desconto de Imposto de Renda e tem dois outros custos, um deles é cobrado pela BM&FBovespa, pela guarda do título, e o outro é a taxa de administração, que pode ou não ser cobrada pelo agente de custódia.

Se você investir no título e resgatá-lo antes de 30 dias, você também terá um outro imposto, o IOF. Já se o resgate for feito em um prazo maior, é descontado apenas o Imposto de Renda que varia de 22,5% (se o resgate for em até 180 dias) a 15% (mais de 720 dias) sobre o rendimento.

Assim, podemos ver que, se passar mais de 720 dias, o investidor receberá, sem descontar os custos da BM&FBovespa e do agente de custódia, 85% da taxa Selic (100% da taxa menos 15% do imposto).

Falta ainda descontar da taxa esses outros custos. Como o percentual da taxa que será pago ao invstidor depende da “tamanho” desses custos, o cálculo é feito em função da Selic vigente.

Vou dar um exemplo para deixar mais claro. Com a Selic hoje no nível de 13% (ela está em 12,75%, mas a perspectiva é de que ela seja elevada), a taxa da BM&FBovespa - que é sempre de 0,3% ao ano -, representa 2,31% da taxa básica de juros.

Se for considerada também uma taxa de administração de 0,5% ao ano, cobrada pelo agente de custódia, então esse custo seria de outros 3,85% sobre a taxa. Assim, com esses dois custos, são descontados mais 6,16% da Selic.

Chegamos, portanto, ao número final: estávamos com 85% da taxa Selic, depois de tirarmos o Imposto de Renda, e os outros custos passamos a 78,84% da taxa. Ou seja, essa taxa é superior aos 70% da Selic, que é o percentual máximo que a poupança pagaria.

Do ponto de vista financeiro, para uma aplicação em um prazo superior a 720 dias, a conclusão: melhor colocar o dinheiro no Tesouro Selic (LFT).

Para variações nos parâmetros, basta seguir os passos que fiz até aqui e você tem o resultado esperado.

Vale lembrar que alguns agentes de custódia não cobram taxa de administração (veja quais), então a conta poderia ser feita sem o desconto de 0,5% ao ano. Por outro lado, se o prazo de investimento for inferior a 720 dias, será preciso descontar um Imposto de Renda maior.

Veja a seguir o peso taxa de custódia sobre a Selic para diferentes patamares da taxa básica de juros:

Taxa Selic Percentual da taxa de custódia sobre a Selic
7 4,29%
8 3,75%
9 3,33%
10 3,00%
11 2,73%
12 2,50%
13 2,31%
14 2,14%
15 2,00%
16 1,88%

E agora veja o peso da taxa de administração sobre a Selic para três percentuais diferentes de taxas:

Taxa Selic Taxa de adm. de 0,1% Tx de adm. de 0,3% Tx de adm. de 0,5%
7 1,43% 4,29% 7,14%
8 1,25% 3,75% 6,25%
9 1,11% 3,33% 5,56%
10 1,00% 3,00% 5,00%
11 0,91% 2,73% 4,55%
12 0,83% 2,50% 4,17%
13 0,77% 2,31% 3,85%
14 0,71% 2,14% 3,57%
15 0,67% 2,00% 3,33%
16 0,63% 1,88% 3,13%

Finalmente, note que embora um pouco mais complicado, é aconselhável optar pela utilização do sistema Tesouro Direto, em detrimento da poupança, para que você melhore a sua compreensão do mercado financeiro.

Valor mínimo de investimento

Com as recentes mudanças nas regras do Tesouro Direto, o investidor passou a poder comprar o equivalente a 1% de um título, desde que esse 1% não represente um valor inferior a 30 reais, que é o limite mínimo de investimento nos títulos públicos.

Atualmente, o único título Tesouro Selic à venda é aquele com vencimento em 2021. Esse título custa 6.756,70 reais. Assim sendo, o investimento mínimo possível será de 1% desse valor, ou de 67,56 reais. 

Portanto, respondendo à sua pergunta, é possível investir 250 reais na compra do Tesouro Selic.

*Beto Veiga é doutor em economia pela Universidade de Brasília, ex-funcionário do Banco Central e consultor de valores mobiliários registrado na CVM. É autor dos livros “O Essencial sobre o Tesouro Direto” , “Tudo sobre CDB”, além do Blog "Beto Veiga - finanças desvendadas" e "Case com seu banco com separação de bens".

Envie outras dúvidas sobre investimentos para seudinheiro_exame@abril.com.br.

Veja, no vídeo a seguir, como ganhar dinheiro com investimentos conservadores:

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