Bovespa: fundos que seguem o Ibovespa podem passar a ver oscilações menores (Paulo Fridman/Bloomberg News)
Da Redação
Publicado em 30 de dezembro de 2013 às 09h16.
São Paulo - A BM&FBovespa anunciou na última quarta-feira uma série de mudanças na metodologia de seu principal índice, o Ibovespa. Antes, o índice limitava-se a reunir as ações mais negociadas da Bolsa. Agora, novos critérios excluirão empresas que podem distorcê-lo e, com isso, impedi-lo de refletir com precisão o mercado brasileiro. Para especialistas, nasce um índice melhor, que deve ver menos volatilidade. Isto é, deve oscilar com menos intensidade, reduzindo os sustos dos investimentos atrelados ao índice.
O Ibovespa é utilizado como parâmetro por quem investe em ações para medir o sucesso de sua carteira. Também baliza uma série de fundos de ações - tanto aqueles que visam a segui-lo (fundos passivos) quanto aqueles que objetivam superá-lo (fundos ativos).
Mesmo assim, o parâmetro de volume de negociação muitas vezes causa distorções e faz o Ibovespa oscilar mais do que deve, sendo muito afetado por questões anômalas e pontuais do mercado. Se sobe demais, há uma euforia injustificada; se cai demais, instaura-se o pessimismo exacerbado. No fim das contas, quem perde é o investidor, que se baseia em um índice que não traduz a realidade do mercado.
"Os parâmetros anteriores do Ibovespa eram um problema porque ações de preço baixo e muito negociadas acabavam tendo representatividade desproporcional dentro do índice. A nova metodologia está em linha com os melhores índices de bolsa do mundo. O novo índice tem mais qualidade e representa melhor a Bolsa", explica Eduardo Morais, sócio integrante da equipe de gestão de fundos da Claritas.
Para ele, os pequenos investidores que investem nos chamados "fundos passivos", fundos de ações que procuram seguir o Ibovespa, se beneficiam de um índice de melhor qualidade. É o caso do ETF BOVA11, fundo de índice com cotas negociadas na Bovespa que procura seguir de perto o principal índice da Bolsa.
Alexandra Almawi, economista da Lerosa Investimentos, diz que não é possível afirmar que a nova metodologia vá se traduzir em dias menos sofridos para a Bolsa brasileira, pois isso depende de fatores econômicos. Mas acredita que a volatilidade - o quanto o índice oscila para cima ou para baixo - reduzirá, tornando os investimentos indexados menos emocionantes.
"O investidor pessoa física ainda acredita que o Ibovespa reflita o mercado, mas quem trabalha no mercado já sabe que o índice perdeu essa representatividade. Agora ele vai se aproximar mais da realidade. Quem investe em fundos que procuram seguir o Ibovespa poderá ter menos volatilidade, tanto para cima quanto para baixo", diz Alexandra.
Entenda os novos critérios
O novo índice passa a valer de verdade a partir de maio de 2014. Entre janeiro e abril do ano que vem haverá uma etapa intermediária, uma mistura da metodologia atual com os novos critérios.
Atualmente, 73 ações de 67 empresas compõem o Ibovespa. Com a nova metodologia pode ser que algumas saiam, que novas empresas entrem, que umas ganhem mais peso e que outras percam importância. A nova configuração poderá ser vislumbrada quando for publicada a primeira prévia do "novo" Ibovespa.
Uma série de novos critérios vai substituir o volume de negociação para definir que empresas devem compor o índice e quais devem ficar de fora. Será possível considerar o valor de mercado das empresas, o número de ações em circulação no mercado ("free float"), além do limite mínimo de liquidez, que deverá respeitar dois parâmetros: número de negociações e volume financeiro negociado.
Este último terá mais peso, uma vez que impedirá que empresas que perderam muito em valor de mercado, mas que têm muitas negociações, permaneçam no índice. Afinal, seu volume financeiro de negociações necessariamente será baixo.
Empresas em recuperação judicial também não poderão permanecer no índice, bem como aquelas cujas ações sejam negociadas a menos de um real.
A exclusão de empresas de baixo valor de mercado e cujas ações valham centavos se deve ao fato de suas oscilações terem uma grande amplitude percentual, mexendo demais no índice. Se de 90 centavos a ação passa a valer 50 centavos, essa perda de apenas 40 centavos representa nada menos que uma queda de 44%.
O caso mais emblemático é o da OGX. Um problema exclusivo da empresa - e não um problema de conjuntura econômica - fez com que suas ações desabassem a ponto de passarem a valer centavos. Muito negociada, a empresa continuou a fazer parte do Ibovespa, arrastando-o com ela em sua agonia.
Mas o sinal amarelo da Bovespa já tinha acendido em 2011, quando um surto de negociações da ação da empresa de alicates e produtos de beleza Mundial fez com que o papel valorizasse 3.000%, chegando a ser um dos mais negociados da Bolsa. O episódio, que ficou conhecido como "bolha do alicate" depois se revelou fruto de uma manipulação de mercado feita pelo presidente da empresa e assessores de investimento.
Ou seja, uma anomalia, fruto de uma fraude, poderia ter levado a pequena Mundial a fazer companhia a empresas do porte de Petrobras e Vale no índice mais importante da Bolsa.