Potes com moedas: diversificação geográfica é necessária em cenário de aumento do risco no Brasil (utah778/Thinkstock)
Marília Almeida
Publicado em 1 de agosto de 2018 às 05h00.
Última atualização em 1 de agosto de 2018 às 12h05.
São Paulo - A taxa básica de juros (Selic) no menor nível da história incentiva o investidor a tomar mais risco para manter a rentabilidade da sua carteira de aplicações financeiras. Nesse cenário, e com a popularização de plataformas de investimento, surgem no mercado novas gestoras de recursos com fundos próprios e a promessa de oferecer ganhos acima do CDI.
Legacy, Dahlia, Trafalgar, MZK e Vinland são algumas dessas novas casas, geralmente capitaneadas por ex-executivos de áreas de investimentos de grandes bancos. A Legacy é dirigida por Felipe Guerra, Gustavo Pessoa e Pedro Jobim, egressos do Santander. Na Dahlia, ao menos quatro dos sócios fundadores faziam parte da equipe de análise de ações do Bank of America Merrill Lynch. Na MZK, muitos dos sócios faziam parte da asset do HSBC e foram para o Bradesco após a fusão entre os bancos. Já a Trafalgar é comandada por Paulo Corchaki, ex-CEO da asset do banco UBS e ex-diretor da área de fundos do Itaú.
A nova safra de fundos que é oferecida por essas assets é composta por multimercados e fundos de ações. Geralmente, esses fundos cobram taxas de administração de 2% ao ano e também uma taxa de performance de 20% sobre o que exceder o CDI ou o IPCA. "Em um cenário de maior tomada de risco, o fundo multimercado é o primeiro produto que o investidor busca. Para investir na bolsa, eles ainda demoram um pouco mais. A volatilidade assusta muito", diz Paulo Corchaki, CEO e fundador da Trafalgar.
Uma característica marcante dos novos fundos é a diversificação geográfica. Isso porque, com a alta do câmbio e toda a incerteza das eleições de 2018, investir no Brasil ficou mais arriscado, explica William Eid, pesquisador da FGV/EAESP. "A diversificação geográfica é inteligente. O 'kit Brasil', baseado no tripé dólar em queda, bolsa em alta e juros caindo, ajudou no desempenho dos fundos multimercados até o ano passado. Esse cenário positivo fez com que 80% desses fundos batessem o CDI em 2017. É difícil isso acontecer. Mas essa estratégia não se sustenta mais".
A Trafalgar, que já tem 2 bilhões de reais sob gestão em fundos multimercados abertos, exclusivos e offshores, aposta em ações e renda fixa na Argentina. "A economia do país sofreu nos últimos meses, mas acreditamos que o direcionamento dado para a economia está correto. O potencial de ganho é alto", diz Corchaki.
Já a Dahlia nasceu no começo do ano e começou a vender cotas de seu fundo, que investe em ações e títulos corporativos na América Latina, além de renda fixa, no final de maio. Sara Delfim, sócia-fundadora da casa, diz que o fundo já está disponível em plataformas como Órama e Modal. Com patrimônio de 60 milhões de reais, a gestora de recursos busca parcerias com family offices e outras distribuidoras. "Nosso foco é o pequeno investidor".
Os fundos oferecidos pelas novas assets, apesar de mais arrojados do que os oferecidos no varejo dos grandes bancos, estão disponíveis para os investidores pessoa física em geral. Na Dahlia, a aplicação mínima inicial é de 5 mil reais. Na Trafalgar, ela sobe para 20 mil reais. Esse valor mínimo chega a 50 mil reais nos fundos da Vinland, os únicos voltados para investidores qualificados.
Conheça abaixo os fundos próprios oferecidos pelas novas casas de investimentos:
Trafalgar Royal Long Bias LatAm FIC FIA
Início: 29/03/2018
Patrimônio líquido: R$ 18 milhões
Categoria: Ações Livre
Taxa de administração: 2% ao ano
Taxa de performance: 20% do que exceder o IPCA + 6% a.a.
Aplicação inicial: R$ 20 mil
Descrição: O fundo possui foco em ativos da América Latina buscando valorização no longo prazo, sobretudo através de ativos de renda variável. Também pode realizar alocações em outros mercados, como Estados Unidos e Europa. Pode também atuar em estratégias de juros e moedas.
Legacy Capital B FIC FIM
Início: 29/06/2018
Patrimônio líquido: R$ 1 bilhão
Categoria: Multimercado estratégia macro
Taxa de administração: 2% ao ano
Taxa de performance: 20% sobre o retorno que exceder o CDI
Aplicação inicial: R$ 25 mil
Descrição: O fundo busca, através de estratégias de investimento baseadas em cenários macroeconômicos de médio e longo prazos, rentabilidade acima do CDI.
Dahlia Long Biased FIC FIM
Início: 30/05/2018
Patrimônio líquido: R$ 60 milhões
Categoria: Multimercado
Taxa de administração: 2% ao ano
Taxa de performance: 20% da valorização das cotas do fundo que exceder a 100% da variação do IPCA (semestral)
Aplicação inicial: R$ 5 mil
Descrição: Aplica, no mínimo, 95% de seu patrimônio líquido em cotas do Dahlia Long Biased Master, que investe nos mercados mobiliários, utilizando instrumentos tanto no mercado à vista quanto no de derivativos. O fundo utiliza-se de análise fundamentalista para seleção dos ativos, buscando montar posições compradas em ativos que estejam subvalorizados e posições vendidas em ativos que estejam sobrevalorizados. O fundo tenderá a manter um percentual líquido comprado positivo no mercado de ações (long-bias).
MZK Dinâmico FIC FIM
Início: 30/04/2018
Patrimônio líquido: R$ 214.247.746
Categoria: Multimercado Macro
Taxa de administração: 1,80% ao ano
Taxa de performance: 20% sobre o que exceder do CDI
Aplicação inicial: R$ 10 mil
Descrição: O fundo que segue a estratégia multimercado macro trading, por meio de uma gestão ativa, ágil e buscando oportunidades de curto, médio e longo-prazo, sem criar a dependência de grandes movimentos estruturais nos mercados para a geração de resultado. Consistência e retorno ajustado ao risco são as métricas almejadas pelo Fundo, que atua em diversos mercados, sejam eles locais e/ou internacionais.
Vinland Macro
Início: 29/03/2018
Patrimônio líquido: R$ 39.268.515,04
Categoria: Multimercado Estratégia Macro
Taxa de administração: 2% ao ano
Taxa de performance: 20% sobre o CDI
Aplicação inicial: R$ 50 mil
Descrição: Fundo que busca retorno absoluto através de investimento em diversos mercados, sem compromisso com concentração
Eid, da FGV/EAESP, aponta como natural a entrada de pequenas novas gestoras no mercado. "Todo ano aparecem novas casas de pequeno porte". O ponto chave que deve ser observado pelo investidor é se o novo negócio irá se sustentar.
O pesquisador estima que, para se consolidar no mercado, uma asset precisa captar ao menos 400 milhões de reais, e rápido. "Isso geralmente tem de acontecer em, no máximo, um ano. As melhores casas conseguem atingir essa marca bem antes disso".
É interessante buscar saber por que os novos gestores saíram da antiga casa. Se foi por força de uma fusão ou demissão, por exemplo, ou por vontade própria. "Geralmente, quem sai por vontade própria costuma ter maior sucesso. Um exemplo é Marcelo Giufrida, CEO da Garde, e Márcio Appel, da Adam Capital".
Também pode ser interessante verificar se a equipe à frente do negócio teve anteriormente experiência com a gestão de fundos, e não apenas com investimentos. Isso faz diferença em uma asset.
Caso o negócio não vá para a frente, o investidor não perde o dinheiro investido: ele é devolvido em 30 dias. Os recursos captados ficam depositados em agentes custodiantes, geralmente grandes bancos. Isso impede que haja fraudes nos fundos de investimento. "Um fundo não pode fugir com dinheiro de clientes. É um mercado sólido", diz Eid.