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Nova bolsa vai permitir investimento em dívidas de empresas

O projeto da Intoo é que o investidor escolha o tipo de risco que ele quer correr, se muito baixo (AA), médio (BB) ou alto (CC)


	Dívidas: o projeto da Intoo é que o investidor escolha o tipo de risco que ele quer correr
 (Getty Images)

Dívidas: o projeto da Intoo é que o investidor escolha o tipo de risco que ele quer correr (Getty Images)

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Da Redação

Publicado em 23 de outubro de 2015 às 10h44.

São Paulo - Investidores que queiram se arriscar no mercado de crédito podem ter, a partir do ano que vem, uma bolsa eletrônica de recebíveis de empresas. O projeto é da Intoo, plataforma on-line que ajuda pequenas e médias empresas a antecipar recebíveis e obter empréstimos de bancos, fundos e factorings.

Segundo Arthur Farache, diretor-executivo, a ideia é lançar a bolsa no começo do ano que vem. “Vamos oferecer a análise de crédito dos devedores, o ‘backoffice’ da operação e a custódia dos papéis”, afirma.

O projeto da Intoo é que o investidor escolha o tipo de risco que ele quer correr, se muito baixo (AA), médio (BB) ou alto (CC). Ele receberá então uma lista de empresas dessas classificações e seus ativos, como duplicatas ou títulos de crédito, e escolherá as que deseja.

Depois da compra dos papéis, a Intoo fará a custódia e controlará os fluxos dos papéis. “O investidor não vai olhar a empresa, vai olhar o risco e as taxas que elas oferecem”, diz.

A Intoo tem dois anos de vida e, nesse tempo, cresceu fazendo a ponte entre bancos e pequenas e médias empresas que precisam de crédito. O sistema faz a análise de crédito das empresas e as separa por risco.

E os bancos interessados usam essa avaliação de crédito para emprestar. “É uma forma de os bancos menores terem acesso a um número maior de empresas e também de reduzir os custos dessas instituições com a análise”, diz Farache.

Segundo ele, como são títulos de crédito, ou comerciais, a nova bolsa não precisará de autorização da Comissão de Valores Mobiliários (CVM), mas do Banco Central (BC).

Mesmo assim, o sistema deve começar limitado a pessoas físicas qualificadas, com mais de R$ 1 milhão em investimentos. Além disso, a Intoo terá um robô que vai interpretar o perfil do investidor, até para conhecer o cliente e evitar lavagem de dinheiro. “Começamos com o compliance”, diz.

Os empréstimos terão garantias, que serão as duplicatas ou bens dados pelas empresas. Mas não haverá garantias como as oferecidas em aplicações de CBD, LCI, LCA ou poupança. Em compensação, os ganhos devem ser maiores.

Bancos e fundos de recebíveis
A empresa começou a operar com grandes bancos e, depois, passou para bancos pequenos, que por não terem agências acabam usando o sistema para atingir um número maior de clientes.

Depois, vieram os fundos de investimento em direito creditório, os Fidc, que compram papéis de empresas e encontraram no sistema uma forma de pulverizar suas aplicações.

Hoje, a Intoo tem 54 instituições de crédito cadastradas que podem fazer empréstimos de capital de giro ou desconto de duplicatas. Há ainda mais de 300 fundos Fidc operando, em geral empresas de factoring que cresceram e viraram fundos. Alguns são de curto prazo e outros de longo.

Farache diz que muitas dessas empresas não conseguiam dar crédito pelo custo da análise e da operacionalização da operação. “Por isso criamos um ‘underwriting online eletrônico para pequenas empresas, que reduz esse custo”, explica.

Bancos cortam crédito e Fidc ganham mercado
O sistema vem bem a calhar tendo em vista a forte desaceleração da concessão de crédito do lado dos bancos, que sobem a régua de exigências em relação às garantias, o que dificulta os empréstimos.

Já os Fidc se aproveitam dessa situação pois são mais ágeis e acabam “surfando a onda”, ganhando mercado das instituições financeiras.

“É bom porque as empresas são novas, muito boas, que iam bater na porta dos grandes bancos e que agora estão sem crédito e buscando alternativas”, diz.

“Os bancos atuam de forma cíclica e quando a economia começa a ir mal, eles se retraem, voltando a emprestar quando o cenário melhora”, afirma Farache.

Com os bancos cortando os empréstimos, os Fidcs estão aumentando sua fatia de mercado, afirma Farache. Ele estima que, hoje, mais da metade, 65% dos empréstimos feitos pela Intoo são de Fidc e o restante, de bancos.

Há um ano, os fundos respondiam pela metade. “Mas houve também um aumento do número de Fidc participando no sistema”, ressalva.

Juros mais altos e mais garantias
As taxas de juros dos empréstimos também subiram, acompanhando a alta dos juros futuros do CDI. Mas, mais do que o custo, os bancos estão sendo mais exigentes em termos de garantias, diz Farache.

“Há um ano, a empresa conseguia tirar empréstimos equivalentes a 50% do valor do imóvel dado em garantia, e agora só obtém 30%”, diz.

“É uma redução grande, até levando-se em conta que há dois anos era possível obter 70% do valor do imóvel como empréstimo.”

Farache observa que as pequenas empresas são as que mais sofrem com essa situação.

Além disso, os prazos também foram reduzidos nos casos de garantias em recebíveis, como duplicatas ou veículos. Para imóveis, continua em torno de 10 anos, mas para veículos usados, diminuiu de 70 para 36 meses. “E crédito sem garantia, ‘clean’, não existe, só para quem é cliente do banco”, diz.

Limites menores por empresa
Mas mesmo os fundos estão mais restritivos, reduzindo os limites por empresa e aumentando o número de devedores para diversificar mais os riscos.

No caso dos empréstimos de capital de giro, com garantia em duplicatas, o prazo se mantém em torno de 40 dias, mas o limite de financiamento, que era 30% do faturamento, agora caiu para 15%, 12% do faturamento. “Os fundos se preocupam mais com a diversificação neste momento”, afirma.

Os juros oscilam entre 1% ao mês e 2% ao mês para operações com garantia em imóveis e de 1,6% a 4,5% ao mês com garantia em duplicatas ou outros recebíveis.

“E o juro depende também se o recebível já tem o aceite do devedor, o que reduz o risco para quem empresta”, diz.

As operações com recebíveis em geral tem prazo de 40 dias. Farache diz que houve um aumento da inadimplência do meio do ano passado para cá, mas agora os atrasos estão estáveis. A vantagem é que a liberação do crédito é rápida, 48 horas segundo o executivo.

Empresas pequenas e médias
O perfil das empresas que recorrem ao Intoo é bem diversificado, com faturamento entre R$ 100 mil e R$ 5 milhões por mês, ou R$ 1 milhão a R$ 60 milhões por ano.

“São pequenas e médias, e de vários setores, mas com destaque para indústria extrativista, de transformação e atacado”, diz Farache. A empresa espera crescer mesmo na crise, já que sua área, de serviços de crédito, ainda tem bastante potencial.

“Somos uma empresa de tecnologia, não de crédito, e oferecemos solução para a empresa que busca empréstimos e para o banco ou Fidc que precisa de informação e análise do tomador”, explica.

Consultoria e educação financeira para empresas
A Intoo origina cerca de R$ 80 milhões por mês, com 50 mil empresas cadastradas. A cada mês, 120 empresas se cadastram no sistema. Além do crédito, a Intoo oferece também consultoria para as empresas para ajuda-las a organizar suas contas e escolher as melhores modalidades de empréstimo.

“Para algumas, damos apenas educação, pois são muito pequenas para tomar crédito”, diz Farache. Ele explica que a empresa mantém consultores para o primeiro atendimento e depois o restante da parte educacional é dada pela internet.

“Ajudamos as empresas a aprender mais sobre como fixar prazos de pagamento de fornecedores e clientes, a organizar o faturamento e a entender o crédito de maneira positiva, não apenas para pagar contas”, afirma Farache.

Captação de US$ 5 milhões para nova bolsa
A empresa surgiu como startup em 2013, e recebeu US$ 5 milhões em aportes. A meta é captar mais US$ 5 milhões para montar a bolsa de recebíveis.

A Intoo havia acumulado R$ 580 milhões em transações e espera superar R$ 1 bilhão neste ano, por conta da dificuldade em obtenção de crédito por empresas de médio e grande porte nos bancos.

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