Conta digital da Dotz: serviços financeiros como conversão de pontos dotz em dinheiro para o super app da empresa (Dotz/Divulgação)
Marcelo Sakate
Publicado em 1 de outubro de 2020 às 06h00.
Última atualização em 1 de outubro de 2020 às 08h14.
A corrida do super app, o super aplicativo que oferece mil e uma utilidades, está a cada dia mais acirrada. O lance ousado da vez vem de uma das pioneiras do modelo de agregar produtos e serviços para oferecê-lo com vantagens para o consumidor: a Dotz está acelerando o cardápio de funcionalidades de sua conta digital: começa a oferecer empréstimos pessoais neste mês e se prepara para fazer o mesmo com seguros e investimentos. E mira aquisições de empresas de tecnologia para reforçar o app.
"Somos uma empresa de tecnologia. Vamos fazer uso da análise de dados da base de mais de 40 milhões de usuários para ampliar o acesso deles a serviços financeiros", afirma Roberto Chade, presidente da Dotz, esclarecendo que a empresa não vai assumir o risco das operações de crédito. "Não queremos ser banco."
Um exemplo dessa solução de inteligência foi a criação de um score de crédito semelhante ao do cadastro positivo, para servir de referência para usuários e instituições financeiras, que passam a oferecer crédito de maneira customizada. Outro exemplo -- que está em estudo -- é oferecer empréstimos usando como colateral (garantia) os pontos que o usuário possui na conta digital. Os pontos estão na origem dos negócios da companhia, que nasceu como um programa de fidelidade que oferecia dotz (o nome da moeda) a cada despesa.
Para ampliar as ocasiões de compra fora do ecossistema do super app, a Dotz acertou uma parceria com a bandeira de cartões Elo para uso dos recursos da conta digital, que atualmente conta com uma base de mais de 250 mil usuários ativos "sem que a gente tenha feito propaganda". As campanhas de marketing começaram há duas semanas.
Outro caminho estratégico para reforçar as funcionalidades e a recorrência do usuário é fazer aquisições. "Estamos estudando de quatro a cinco empresas que podem contribuir para o ecossistema", afirma o fundador da Dotz. Segundo ele, a maioria dos alvos potenciais é de companhias de tecnologia que possam gerar mais valor para a conta digital.
O conceito de super app, consagrado na China com o WeChat e o Alipay e suas bases de 1 bilhão de usuários somente no mercado doméstico, passou a ficar mais tangível para o consumidor brasileiro. São novos hábitos digitais que ganharam recorrência e penetração com as medidas de isolamento social trazidas pela pandemia do novo coronavírus.
Impossibilitados de sair de casa, milhões de brasileiros passaram a usar o celular para fazer compras em supermercados, farmácias e outras lojas, a contratar serviços diversos e, principalmente, abraçaram as comodidades embutidas na conta digital, com pagamentos recorrentes, transferências e até empréstimos.
Com um termômetro capaz de medir em tempo real os hábitos de consumo de forma abrangente, a Dotz foi impactada de maneiras distintas pelos efeitos da pandemia. Se as lojas do varejo alimentar, como supermercados, registraram um aumento do consumo, gastos no cartão de crédito caíram de 20% a 30% no resultado agregado.
No Brasil, não faltam candidatos a se tornar o super app mais utilizado pelas pessoas. É uma disputa que envolve de aplicativos de entrega (como Rappi, iFood e James Delivery) e gigantes de e-commerce (Magazine Luiza e Mercado Livre) a fintechs e bancos digitais (Banco Inter e PicPay), entre outros.
A conta digital é uma arma se tornou obrigatória para as empresas que buscam construir o melhor ecossistema de produtos e serviços, com o objetivo de fazer o consumidor passar mais tempo e gastar mais dinheiro dentro do aplicativo. E que, portanto, faz sentido até para as companhias que já estão mais adiantadas nessa disputa.
"A conta digital é a plataforma que integra loyalty, marketplace e serviços financeiros", explica o presidente da Dotz. O loyalty é o pilar do programa de fidelidade, que estimula a recorrência do usuário oferecendo em troca pontos que servem de moeda para novas compras e até o pagamento de contas. É um ciclo que se auto-alimenta.
Embora não tão agressiva como a colombiana Rappi nem tão conhecida como o Magazine Luiza, para citar dois players que são referência na corrida pelo super app, a Dotz dispõe de uma das maiores bases de usuários do país -- os mais de 40 milhões de pessoas citados acima --, interligada com o marketplace de redes varejistas, instituições financeiras e indústrias, que buscam cada vez mais chegar de forma mais direta ao consumidor.
O objetivo da Dotz, brinca Chade, é se tornar o sistema operacional das famílias brasileiras, atravessando de forma transversal diferentes hábitos de consumo e financeiros. O foco está na elite da classe média, um estrato da população com 90 milhões de pessoas e consumo agregado estimado em 2,5 trilhões de reais ao ano.