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Melhor gestor dos EUA prevê novo crash nas bolsas

Para Bob Rodriguez, gestor do fundo de ações americano com o maior rendimento nos últimos 25 anos, investidor deveria começar a reduzir desde já o risco de seu portfólio

Bolsa de Nova York: gestor do fundo de ações mais rentável dos EUA vê risco de novo crash (Getty Images)

Bolsa de Nova York: gestor do fundo de ações mais rentável dos EUA vê risco de novo crash (Getty Images)

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Da Redação

Publicado em 5 de janeiro de 2012 às 19h56.

São Paulo – O gestor de fundos de ações que obteve a maior rentabilidade nos Estados Unidos nos últimos 25 anos acredita que as bolsas podem sofrer um novo "crash" se o governo americano não começar em breve a reduzir o déficit público e o elevado endividamento. Em entrevista à revista Fortune, Bob Rodriguez, responsável pela gestão de 16 bilhões de dólares na First Pacific Advisors, diz que "em dois a cinco anos" o mundo pode ter uma crise "de magnitude igual ou maior" que a de 2008.

Quem ouve o que Rodriguez diz costuma ganhar dinheiro. Seu fundo de ações, o FPA Capital, obteve um rendimento anual de 15% nos últimos 25 anos, o maior dos EUA no período. Já o FPA New Income, que investe em bônus e títulos de renda fixa, nunca registrou uma perda anual. Em geral, Rodriguez consegue obter retornos maiores que seus concorrentes devido a sua capacidade de antever crises.

Antes de 2008, ele avisou que o mercado americano de hipotecas estava prestes a explodir. Já na década de 1990, alertou investidores que a bolha da internet não duraria muito. Em ambos os casos, acertou na mosca e ganhou notoriedade na mídia americana. O jornal "Wall Street Journal" já lhe chamou de "um dos profetas do Apocalipse que acertou".

Para quem acha que Rodriguez prevê uma crise ao mesmo tempo em que aproveita para comprar ações e lucrar na bolsa, aqui vai um alerta. O gestor costuma fechar seus fundos para novas captações sempre que acredita que não há nada interessante para ser comprado. Ele é o típico cara que está mais disposto a perder clientes do que dinheiro. Tanto que seus fundos estão fechados a novos investimentos neste momento.

O fundo de ações FPA Capital costuma ter um portfólio bastante concentrado em apenas 30 diferentes ações. Assim como costumavam ensinar Benjamin Graham ou Warren Buffett, Rodriguez sempre adotou a estratégia de comprar ações em momentos em que os preços estão interessantes para só revendê-las anos depois, num mercado de alta.


A seleção das ações é disciplinada. Na década de 1990, Rodriguez não gostava das ações do setor de internet – que, à época, não paravam de subir – porque temia que os papéis nunca justificassem os altos múltiplos em que eram negociados. Ele chegou a dizer que as ações de internet eram só uma "especulação mascarada de investimento" e começou a limá-las de seu portfólio. Muitos clientes tiraram o dinheiro de seu fundo porque queriam aproveitar a alta – mas quebraram a cara quando a bolha explodiu. Em 2002, o FPA Capital rendeu 29%, contra baixa de 38% do S&P 500, um dos principais índices de ações dos EUA.

Já em 2005, Rodriguez voltou a farejar o cheiro de desgraça no ar. Seu fundo de renda fixa rapidamente começou a despejar no mercado títulos hipotecários de segunda linha e a aumentar a qualidade dos créditos incluídos na carteira. Em 2006, ele já não detinha nenhum título da Fannie Mae e Freddie Mac, duas agências governamentais de crédito que quebraram e tiveram que ser resgatadas com bilhões de dólares do governo. Em 2007, seu fundo de ações já tinha 40% do capital em caixa. Com esse dinheiro, Rodriguez foi às compras em 2008, quando o mercado entrou em colapso após a quebra do banco Lehman Brothers. No ano seguinte, seu fundo de ações obteve um retorno de 54%.

Agora, Rodriguez aposta que o governo dos EUA terá problemas com seu alto endividamento. A agência de classificação da risco Standard & Poor's colocou recentemente o rating (avaliação de crédito) dos títulos americanos em perspectiva negativa. Rodriguez reagiu de forma irônica à decisão de disse que ao menos alguém já dá sinais de que acordou para o déficit público dos EUA.

Ele considera que a dívida pública americana – que oficialmente corresponde a 64% do PIB – é muito maior do que se divulga e lembra que obrigações a serem cumpridas pelo programa de saúde Medicare e pelas agências de crédito Fannie Mae e Freddie Mac também deveriam ser contabilizadas. A situação, portanto, é bem pior do que parece. Se os EUA não fizerem nada para reduzir o endividamento até 2012, os investidores vão começar a temer o pior. Essa situação poderia levar ao aumento da percepção de risco dos títulos do Tesouro americano. Rapidamente o governo seria obrigado a pagar juros mais altos para se financiar– o que poderia gerar uma crise de confiança no mercado financeiro.

Para quem é considerado um "profeta do Apocalipse", Rodriguez até que parece ser justo com o governo. Ele admite que o problema ainda não seja irreparável. O governo americano precisa começar a cortar os gastos em 350 bilhões a 500 bilhões de dólares por ano e evitar futuras surpresas. O grande problema é que ele não acredita que o presidente Barack Obama esteja disposto a fazer a reforma fiscal necessária. A hora, portanto, seria de começar a reduzir o risco do portfólio de investimentos, baixando a exposição a ações e a títulos de segunda linha.

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