Nos últimos anos houve um aumento de brasileiros investindo nos Estados Unidos (Digital Vision/Thinkstock)
Agência Brasil
Publicado em 1 de junho de 2018 às 09h59.
Última atualização em 1 de junho de 2018 às 10h02.
O governo dos Estados Unidos pode dobrar o valor do investimento para empresários que queriam residir no país, por meio do programa de vistos para investidores. Por isso, consultores e advogados avaliam que houve um aumento na quantidade de pedidos de visto para residência nos EUA, apresentados por brasileiros com perfil empresarial, junto ao Departamento de Imigração norte-americano.
A mudança sobre o valor de investimento faz parte de um projeto de lei que será analisado pelo Congresso em setembro, para rever o Programa EB-5 (nome técnico do visto de investidores).
O visto concede autorização de residência permanente para investidores (Green Card). Se a alteração for aprovada, o investimento poderá passar de US$ 500 mil para algo entre US$ 925 mil e US$ 1,3 milhão.
O projeto para dobrar o valor do investimento para o visto de residência permanente de investidores nos Estados Unidos vem ocasionando aumento de aplicações por brasileiros. A previsão deste salto no valor a ser investido é o principal motivo para o aumento da procura, segundo especialistas ouvidos pela Agência Brasil. Mas, além do preço mais alto, podem ser votadas ainda mudanças significativas no formato atual dos projetos de investimentos que possibilitam a residência permanente nos Estados Unidos.
O economista e consultor Carlo Barbieri, que atua há 15 anos na área de internacionalização de investimentos no país, afirmou que tem observado um aumento substancial na quantidade de interessados brasileiros, bem como no volume de projetos em andamento.
Barbieri já preparou mais de 400 projetos de investimento junto a parceiros nos Estados Unidos para este tipo de visto.
"Tenho acompanhado a moda do EB-5 chegar ao Brasil. Uma década atrás, tínhamos menos de 15 centros regionais e projetos insuficientes para usar toda a disponibilidade de vistos disponíveis. Hoje, são mais de 700 centros regionais e mais de mil projetos em andamento", explica.
Os centros regionais EB-5 são organizações público-privadas, credenciadas junto ao Serviço de Cidadania e Imigração Estados Unidos para supervisionar projetos ligados ao visto de investimento EB-5.
Com o aumento da procura, o especialista avalia que é importante cuidar da elaboração dos projetos. "Uma proposta de EB-5 deve ser bem fundamentada e comprovar sua viabilidade não só no quesito investimento, mas também na geração de empregos e riqueza para os Estados Unidos", afirma.
Barbieri diz que a nova lei poderá adicionar critérios para aprovação, tornando-a mais complexa. Para ele, é importante encontrar respostas para questões que darão segurança ao projeto, minimizando riscos.
"Há muitas empresas no mercado que não são idôneas e fazem promessas milagrosas", alerta. E complementa: somente ter o dinheiro para investir "não é garantia de aprovação".
O consultor afirma que algumas perguntas devem ser respondidas com clareza para elaborar uma proposta sólida: "Os dirigentes do projeto têm experiência no ramo do negócio? A empresa tem um histórico que dê segurança quanto ao futuro? Qual o espaço de crescimento para o ramo de atividade do empreendimento? Quais os riscos deste produto ou quais as perspectivas de longo prazo para o projeto?".
Ele enfatiza que é essencial que o empreendimento proposto tenha reais condições de geração de emprego e viabilidade econômica e financeira.
O programa de vistos EB-5 dá acesso ao Green Card por meio de investimento. O investidor pode administrar um projeto ou escolher investir por meio de um centro regional autorizado. São qualificados para o programa empreendimentos nas áreas varejo, manufatura, alimentação, tecnologia, agricultura, lojas construtoras e hotéis.
O advogado brasileiro André Linhares, que atua na área de imigração nos Estados Unidos, observa um aumento na procura pelo visto. Segundo ele, muita gente que planejava dar entrada resolveu se antecipar por causa da expectativa de mudança de valores.
"Alguns investidores que já tinham o valor em vigor de US$ 500 mil, têm se apressado para aplicar. O custo aumenta muito, com o dólar em alta, se este valor sobre para US$ 1 milhão", disse à Agência Brasil.
O advogado também explica que os centros regionais são opções muito procuradas por brasileiros. "De maneira bem simplificada, o centro regional funciona como uma espécie de banco, que aglutina os recursos para empreendimentos, de forma que depois o valor investido é retornado ao investidor", explica.
Linhares conta ainda que o setor hoteleiro tem utilizado bastante financiamento por meio de centros regionais de investidores candidatos ao Green Card.
"Muitos deles financiam a construção de hotéis e resorts. Várias redes internacionais conhecidas têm buscado investimentos de aplicantes de EB-5, via centros regionais", destaca.
A brasileira Paola Tucanduva, o marido dela e os dois filhos do casal deram entrada no EB-5 em dezembro de 2015. No Brasil, o casal era proprietário de lavanderias industriais em São Paulo e na Bahia. Ela conta que, juntos, decidiram aplicar para a residência permanente nos Estados Unidos como investidores. Na época, o filho mais velho já estava no país com visto de estudante e cursava o ensino médio.
"Começamos a pensar que seria uma possibilidade para nossos filhos fazer faculdade nos Estados Unidos", disse. Ela conta que a escolha foi investir em um Green Card através de um centro regional, como investidores, após vender empresas no Brasil.
Em dezembro de 2017, o processo foi aprovado e eles se mudaram para a Flórida, em janeiro deste ano. Nos Estados Unidos, Paola trabalha como coach (consultora) para empreendedores e atende via internet clientes no Brasil e nos Estados Unidos. O filho mais velho já está na faculdade e a caçula vai começar o ensino médio em agosto.
Ela diz que já na época em que aplicou havia rumores de que o visto dobraria de valor. "Já naquele tempo diziam isso, e na verdade ainda não aconteceu. E na minha opinião, não sei se de fato o Congresso aprovaria uma mudança que dificultasse a entrada de investimentos no país", finaliza.