Setores de commodities como petróleo e mineração serão os destaques de 2011 (Divulgação)
Da Redação
Publicado em 7 de fevereiro de 2011 às 12h02.
São Paulo - Apesar da inflação em alta e da perspectiva de aumento da taxa de juros em 2011, o investidor de longo prazo deve, mais do que nunca, se desapegar um pouco dos títulos de renda fixa e temperar sua carteira com uma dose de renda variável. Pelo menos é essa a avaliação dos executivos da HSBC Global Asset Management, gestora de recursos do banco HSBC, com base em suas perspectivas para 2011.
O caminho, de acordo com os especialistas, é a diversificação. Um bom percentual de ações junto com a renda fixa seria uma boa saída para vencer a inflação. Melhor ainda se a esses ativos for possível acrescentar fundos multimercados, de renda fixa com crédito privado e de ações small caps, que vêm demonstrando desempenho bem superior ao Ibovespa neste ano.
Os setores que devem ser as estrelas do próximo ano, na opinião dos especialistas do HSBC, serão os de commodities, como mineração, siderurgia e petróleo, cujos papéis sofreram neste ano. Isso incluiria, é claro, uma recuperação do valor dos papéis da Petrobras. Como a expectativa é que esses setores se beneficiem da grande demanda dos países emergentes, suas ações poderão ser consideradas baratas. Afinal de contas, são justamente os emergentes que devem continuar puxando o crescimento econômico mundial em 2011.
"O setor de consumo, ligado ao mercado interno foi a bola da vez em 2010, mas agora está um pouco caro", avalia Mário Felisberto, diretor de investimentos da asset do HSBC. Entre as small caps, ao contrário, os destaques devem ser as ações de empresas voltadas para a economia interna, e mesmo para o setor de consumo. "São alternativas menos caras que as ações de empresas que não são small caps", afirma Felisberto.
Pedro Bastos, CEO da gestora, chama atenção também para o setor de infraestrutura, que certamente precisará de muito investimento nos próximos anos para comportar o crescimento econômico e grandes eventos mundiais como Copa do Mundo e Olimpíadas. "Novos instrumentos de financiamento desse setor precisam surgir", afirma o executivo.
Mau desempenho da bolsa não se sustenta
O ano de 2010 não foi nada brilhante para a bolsa, cujo principal índice acumula queda de 1,29% de janeiro a novembro. A escalada dos preços, por sua vez, corrói os rendimentos das aplicações não atreladas aos principais índices de inflação. De acordo com as perspectivas do próprio HSBC para o ano que vem, inclusive, a Selic deve subir dois pontos percentuais e chegar a 12,75% ao final do ano, numa tentativa de redução dessa pressão inflacionária.
Tudo indicaria um cenário mais favorável à forte migração para a renda fixa. Mas o crescimento sustentado do Brasil e outros países emergentes puxando a economia mundial no ano que vem, bem como o fechamento positivo da economia brasileira este ano apontam para uma recuperação dos investimentos em ações e fundos multimercados em 2011 que deve se desdobrar pelos próximos anos.
"O ano de 2010 foi muito bom para o Brasil. O risco-país caiu 26 pontos, vimos um crescimento forte e o lucro das empresas aumentou 40%", diz Mário Felisberto, diretor de investimentos da asset do HSBC. Ele afirma ainda que o mau desempenho da bolsa este ano não tem explicação aparente. "Nenhuma hipótese é forte o suficiente para explicar porque o Brasil apresentou tanto desconto em comparação com outros países."
Na avaliação do HSBC, portanto, os ativos brasileiros estão baratos em relação ao verdadeiro potencial de crescimento do país. Entre as possíveis explicações para o tombo deste ano estariam as incertezas em relação à transição de poder e à truncada capitalização da Petrobras.
Onde investir no longo prazo
De acordo com as estimativas do HSBC, a economia brasileira, assim como outras economias emergentes, sofrerá alguma desaceleração em 2011. O crescimento do PIB brasileiro deve ser de 4,5%, frente aos 7,5% projetados para o fim deste ano. A inflação deve ser menor, mas ainda alta, de no mínimo 5,3%.
Apesar do aumento dos juros para forçar essa incômoda inflação para baixo, quem investe no longo prazo deve ver com bons olhos as aplicações em renda variável. Para o HSBC, nos próximos 25 anos as taxas de juros devem cair substancialmente, para um patamar entre 4% e 4,5% acima da inflação, o que reduzirá a rentabilidade dos títulos de renda fixa indexados a ela.
Ao mesmo tempo, nesse cenário de juros mais baixos e de crescimento econômico sustentado, os investimentos em ações devem se tornar cada vez mais atraentes, batendo a inflação mais facilmente. No próximo quarto de século, o Ibovespa, por exemplo, deve ficar 9,5% acima da inflação.
Numa simulação do HSBC, para garantir uma rentabilidade de 6% acima da inflação nos próximos anos, o investidor deve dedicar 37% de sua carteira a ações; 67% caso o objetivo seja uma rentabilidade de 7,5% acima da inflação; e 98% se a meta for uma rentabilidade de 9% acima da inflação.
A instituição também faz duas sugestões de carteiras que devem superar a inflação nos próximos anos. Para os mais conservadores, 60% dos recursos em renda fixa e 40% em ações. Para aqueles um pouco mais arrojados, 20% em renda fixa, 20% em renda fixa com crédito privado, 20% em fundos multimercados, 25% em ações e 15% em small caps.
Note que voltar a atenção para a renda variável não significa prescindir da renda fixa. Mesmo com a perspectiva de queda de juros, por um bom tempo eles ainda serão altos no Brasil, se comparados com as taxas dos países desenvolvidos. Aplicações conservadoras também têm baixo risco de volatilidade e, se forem títulos do governo ou de empresas sólidas, também apresentam pouco risco de calote.
Títulos de renda fixa são, ainda, uma boa opção para garantir liquidez mesmo para os mais arrojados. Como apresentam retorno em prazo mais curto são a alternativa para quando o investidor precisa de dinheiro na mão. É preciso tomar cuidado especial, no entanto, com os produtos com maior risco de crédito, mesmo que a rentabilidade seja alta. O mais aconselhável é preferir CDBs de grandes bancos, debêntures de empresas sólidas ou, então, fundos que apliquem em papéis das dívidas pública e privada.