Luiz Dorocinski (à esquerda) e André Vilar, cofundadores da fintech Monis, de poupança por assinatura | Foto: Divulgação (Monis/Divulgação)
Marcelo Sakate
Publicado em 2 de janeiro de 2022 às 09h11.
Última atualização em 3 de janeiro de 2022 às 10h52.
O cartão de crédito é considerado um dos principais responsáveis pela perda do controle financeiro das pessoas, e isso vale até para quem tem as contas em dia, mas poupa menos do que gostaria e poderia em razão do consumo.
Com o objetivo de subverter esse status, a fintech Monis propõe que o cartão de crédito seja um aliado e uma ferramenta para que as pessoas consigam guardar dinheiro. Para tanto, conta com um modelo de assinatura para promover a disciplina financeira: é a poupança por assinatura no cartão.
As pessoas determinam qual o valor dos seus objetivos ou sonhos e quanto querem guardar para atingi-los. E o valor é debitado semanalmente, com o saldo crescente e o investimento acompanhado por meio de aplicativo ou do site da fintech.
“A forma como as pessoas guardam dinheiro é muito importante para dar consistência ao hábito, mais do que a vontade. Pensamos em uma ferramenta para ajudá-las a conquistar seus sonhos e objetivos sem depender de uma mudança de comportamento da noite para o dia”, disse André Vilar, CEO e cofundador da Monis, à EXAME Invest.
“Por que as pessoas gastam tanto com o cartão? Por causa da facilidade. Usamos essa facilidade a favor das pessoas”, contou Vilar, que trabalhou dez anos no mercado financeiro e em startups antes da Monis.
A startup nasceu pouco antes da pandemia, ainda como MVP (mínimo produto viável), e entrou em operação comercial no começo de 2021. No segundo semestre do ano passado, o crescimento foi da ordem de 70% ao mês. Segundo ele, 90% dessa expansão é orgânica, com clientes que chegam por recomendação de quem já é usuário.
Em junho, o valor somado poupado estava na casa de 200 mil reais ao mês. Em outubro (dado mais recente divulgado), superou a casa de 2 milhões de reais. O volume de ativos sob gestão superou o patamar de 5 milhões de reais.
O modelo atraiu o interesse de gigantes como Itaú Unibanco (ITUB4) e Americanas (AMER3), com os quais a Monis acertou parcerias para oferecer a solução aos seus clientes, para que possam poupar e atingir os objetivos.
Vilar atribui a aceleração do crescimento ao efeito de rede do serviço e ao lançamento do aplicativo, algo que fez aumentar o engajamento dos usuários.
Os valores poupados vão de 25 a 1.000 reais por semana, que são debitados do cartão. Os recursos são depositados em CDBs de instituições financeiras que são parceiras da fintech, como o PagBank, do PagSeguro, e rendem o equivalente a 100% do CDI, com liquidez diária a partir do momento em que os recursos caem na conta.
“Entendemos que, embora o dinheiro esteja sendo guardado para um objetivo, os clientes sofrem com imprevistos e podem precisar resgatar antes”, afirmou.
O público médio está em usuários das classes AB, com 25 a 35 anos, que fazem viagens todo ano, mas Vilar diz que os valores mais baixos de poupança abrem espaço para que usuários com renda mais baixa possam também fazer uso da ferramenta.
“Optamos por depósitos semanais para facilitar a visualização dos hábitos das pessoas, para que elas se perguntem: ‘O que eu gasto na semana que custa 25 ou 50 reais?' É um almoço fora, um pedido de delivery ou algo que ela compra em uma loja por impulso, por exemplo’”, diz.
Os sonhos são categorizados, da formação de uma reserva de emergência a viagens e até a reforma de apartamentos. Um dos objetivos mais comuns tem sido o de guardar dinheiro para viagens, o que acaba tendo efeito em dobro para o usuário, que também acumula mais milhas por meio desse gasto com o cartão de crédito.
O tíquete médio do sonho fica em torno de 10 mil reais. É possível ainda fazer aportes nessa conta além dos débitos regulares, caso a pessoa deseje – e tenha condições de fazê-lo, claro – antecipar a conquista do objetivo.
Vilar disse que, no momento em que ele e seu sócio, Luiz Dorocinski, pensavam no modelo de negócios da fintech, se depararam com uma pesquisa do fim de 2019 que apontou que oito entre cada dez pessoas não haviam conseguido alcançar o seu objetivo financeiro ao fim daquele ano.
Foi um sinal de que a vontade não é tão eficaz como dispor de um método. Pouco depois a economia entrou em crise, bem como o mercado de trabalho, com a chegada do coronavírus.
“O timing não poderia ser mais adequado: a pandemia mostrou a importância de ter uma reserva de emergência e do planejamento financeiro.”
Vilar conta que a fintech faz, com a devida autorização, o acompanhamento da fatura do cartão de crédito do usuário para fazer ajustes necessários no valor poupado em caso de dificuldades em determinado período, como uma pausa no débito.
A preocupação é evitar a situação em que o ato de guardar dinheiro alimente um eventual atraso no pagamento da fatura do cartão, que tem uma das taxas de juros mais elevadas do sistema financeiro em situações como essa.
Segundo ele, o índice de desistência – o churn – tem sido residual, em 0,5%, no primeiro ano de operação, o que sinaliza a eficiência do método.
Os próximos passos da fintech estão em duas frentes: continuar a desenvolver ferramentas que permitam que as pessoas consigam guardar mais dinheiro e investir em produtos financeiros que acelerem a conquista de determinados valores. No fim, ambas as frentes buscam o mesmo objetivo de antecipar a conquista dos sonhos.
É nesse contexto que entram as parcerias citadas acima: a Monis colocou em operação um programa piloto com o Itaú, para oferecer aos usuários de cartão de crédito a chance de economizar por meio da Monis no app do Itaucard.
Outra parceria com contrato já assinado, mas que ainda não entrou em operação, é com a Ame Digital, a fintech da Americanas. Uma das ideias em estudo é permitir que o cashback gerado em compras pelo usuário seja direcionado para uma conta dele na Monis.
Outra parceria está sendo negociada com a Livelo, para oferecer o serviço com algum atrativo como um acelerador de pontos para o que for poupado com a fintech.
“Nos últimos meses, aprendemos como podemos trabalhar com grandes empresas, seja um banco, um varejista ou um programa de fidelidade, para que eles possam oferecer aos seus clientes a nossa solução que ajuda as pessoas a poupar e a alcançar seus objetivos de forma mais rápida e sem esforço”, contou o empreendedor.