FGTS: por muitos anos, a rentabilidade do FGTS foi criticada por ser muito baixa (Marcelo Camargo/Agência Brasil)
Karla Mamona
Publicado em 17 de junho de 2020 às 18h50.
Com a redução da taxa básica de juros para 2,25% ao ano, a rentabilidade do FGTS (Fundo de Garantia do Tempo de Serviço) está maior do que a Selic, pela primeira vez na história. Por lei, o fundo rende 3% ao ano mais a TR (taxa referencial que é igual a zero).
Com a menor Selic já vista, a rentabilidade do FGTS acaba sendo maior a caderneta de poupança, que paga 70% da Selic, e maior do que o rendimento médio do Certificado de Depósito Bancário (CDB), de 85% do CDI. Este último ainda incide cobrança de Imposto de Renda (IR).
Por muitos anos, a rentabilidade do FGTS foi criticada por ser muito baixa ao ser comparada com a Selic. Vale lembrar que em um passado não tão distante, a taxa de juros no país era de dois dígitos. Em 2015, a Selic era de 14,5% ao ano, muito superior à rentabilidade do FGTS.
“Existe uma distorção muito grande sobre o FGTS. O governo sempre aplicou muito mal este dinheiro. O dinheiro do trabalhador sempre foi mal investido e teve um rendimento muito ruim”, critica Jason Vieira, economista-chefe da Infinity Asset.
Além da rentabilidade historicamente ser muito baixa, outro problema comum era que FGTS em muitos anos perdeu para inflação, ou seja, a inflação acumulada em 12 meses acabava sendo maior do que a rentabilidade, fazendo com que houvesse uma perda real no poder de compra. Atualmente, o cenário é oposto. O último boletim Focus, do Banco Central, projeta que o IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) em 1,61% em 2020.
O que fazer?
Com uma rentabilidade de 3% ao ano e a projeção de uma inflação baixa para este ano, deixar o dinheiro no FGTS não é um cenário ruim. Até porque o saque total dinheiro só é possível em alguns casos, como demissão sem justa causa, aposentadoria e algumas doenças.
Existem ainda duas possibilidades para o saque do dinheiro. Desde do ano passado, a Caixa permite que o trabalhador possa sacar uma parte do saldo de qualquer conta ativa ou inativa do fundo a cada ano, no mês de aniversário, em troca de não receber parte do que tem direito em caso de demissão sem justa causa.
Além disso, no último sábado, a Caixa divulgou o calendário de saque de até 1.045 reais para todos que têm conta no fundo. A medida foi anunciada devido à pandemia de coronavírus (covid-19). A expectativa é que 60 milhões de pessoas saquem o dinheiro.
Para aqueles que não precisam do dinheiro para complementar renda ou pagar conta, a orientação dada por Odilon Costa, analista de crédito da EXAME Research, é que o trabalhador saque o dinheiro e busque uma aplicação com um rentabilidade melhor, do que os 3% ao ano pagos pelo fundo. Uma boa opção é investidor Tesouro IPCA+ com juros semestrais 2026 (NTN-B). Hoje, a rentabilidade do título é IPCA + 2,66%. “Em alguns anos, você terá o retorno garantido. Se precisar resgatar antes pode vender o título no mercado secundário.”
O analista destaca ainda que a grande vantagem em sacar o dinheiro é a liquidez, o que não existe no FGTS. “Hoje, não existe liquidez no FGTS. As regras de saque são rígidas. Sacar é a melhor opção.”