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Empresas privadas se valorizam quase o dobro das estatais na Bovespa

Desconfiança quanto à capacidade administrativa e interferências políticas nas companhias públicas minam a rentabilidade dos investidores

EXAME.com (EXAME.com)

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Da Redação

Publicado em 13 de setembro de 2011 às 16h38.

São Paulo - A ineficiência da máquina pública e as constantes interferências políticas nas estatais custam caro ao país em vários aspectos, inclusive no mercado de capitais. Embora haja boas opções de papéis de companhias públicas no pregão, na média, o desempenho dessas empresas é bastante inferior ao de concorrentes privados.

Para o investidor, isso significa apostar em papéis que podem deixá-lo para trás na corrida pela rentabilidade. Até o dia 31 de julho, o Ibovespa, principal indicador da Bolsa de Valores de São Paulo, acumulou uma alta de 21,83%. Entre as 60 empresas que o compõem, estão oito estatais, representadas por dez papéis (veja a tabela abaixo). Essa "carteira de estatais" teve uma valorização média ponderada de apenas 13,1% no mesmo período.

Entre os acenos do governo para resolver a crise aérea, está a possibilidade de abrir o capital da Infraero, estatal responsável por administrar os aeroportos do país. Ainda não se sabe se isso realmente acontecerá, mas esse é apenas um exemplo de empresa pública que, recentemente, manifestou sua intenção de captar recursos por meio de emissões primárias ou secundárias de ações. No último mês, circularam notícias de que estavam se preparando para fazer ofertas públicas o Banco do Brasil; a mineira Copasa e a fluminense Cedae - essas duas ambas de área de saneamento.

Para o pequeno investidor, surge a pergunta: vale a pena investir em papéis de estatais? Os números mostram, na prática, o tamanho da desconfiança dos mercado quanto à real capacidade dessas companhias gerarem bons resultados. "O setor público não é eficiente, e o investidor claramente penaliza as estatais na bolsa", afirma Fernando Meibak, diretor da Integral Trust Asset Management.

Companhia Ação Setor Variação acumulada até 31/07 (%)
Banco do Brasil BBAS3 Finanças e seguros 41,18
Celesc CLSC6 Energia elétrica 10,67
Cemig CMIG4 Energia elétrica 16,22
Cesp CESP6 Energia elétrica 36,48
Copel CPLE6 Energia elétrica 29,93
Eletrobras ELET3 Energia elétrica -2,04
Eletrobras ELET6 Energia elétrica 9,21
Petrobras PETR3 Petróleo e gás 13,69
Petrobras PETR4 Petróleo e gás 7,65
Sabesp SBSP3 Outros 23,52
Ibovespa ---- ------ 21,83
Fonte: Economática

Mesmo quando o desempenho do papel parece indicar o contrário, é possível encontrar o "risco-governo" corroendo os ganhos. As ações ordinárias do Banco do Brasil, por exemplo, acumularam alta de 41,18% até 31 de julho - praticamente o dobro do Ibovespa. Maior banco do país, a instituição encerrou o primeiro trimestre com 321,898 bilhões de reais em ativos totais. O Bradesco, maior banco privado brasileiro, registrou 281,944 bilhões de reais em ativos em seu balanço. Apesar disso, o valor de mercado do Bradesco, no final de julho, considerando-se apenas a cotação de fechamento de seus papéis, é de 99 bilhões de reais. O Banco do Brasil sairia por 73 bilhões de reais.

Governança

Das oito estatais que compõem o Ibovespa, apenas duas - Petrobras e a paranaense Copel, do setor de energia - não pertencem a algum segmento de governança corporativa diferenciada na bolsa. O Banco do Brasil e a paulista Sabesp, por exemplo, estão no Novo Mercado. A catarinense Celesc integra o Nível 2 de governança. Mas, para os investidores, um selo de governança não significa muito para uma estatal - há sempre ceticismo sobre a real independência da diretoria executiva em relação ao política que a nomeou.

No final de março, uma instituição pública listada no Novo Mercado, a Nossa Caixa, envolveu-se em uma polêmica do tipo. O banco comprou a folha de pagamento dos servidores públicos paulistas por 2,1 bilhões de reais. O preço desembolsado por funcionário foi inferior ao pago pelo Itaú para ficar com a folha da prefeitura paulistana, o banco e o governo estadual declararam que o negócio se pautou por total independência, mas os analistas não se convenceram e castigaram os papéis da Nossa Caixa. Em apenas quatro pregões - de 27 de março, quando o negócio foi fechado, a 2 de abril - a cotação caiu 18%. O preço nunca mais voltou ao patamar do início do ano - 49,80 reais. Em 31 de julho, fecharam em 31,89 reais - uma queda de 35,96%.

Outro exemplo é a Petrobras, que sofreu com a nacionalização do setor petroleiro da Bolívia, onde a companhia operava. Maior empresa brasileira, a estatal viu seus papéis sofrerem na bolsa, enquanto as negociações escapavam das mãos da diretoria-executiva e se transformavam em uma questão política - o governo boliviano chegou a declarar que só conversaria com representantes do governo brasileiro, e o próprio presidente Luiz Inácio Lula da Silva desautorizou publicamente declarações do comando da Petrobras.

O comportamento das ações preferenciais da estatal (PETR4) - os papéis mais negociados na Bovespa - mostra bem como a politização da gestão não gera valor às empresas. Após resistirem nos momentos iniciais da nacionalização, anunciada em 1º de maio de 2006, os papéis começaram a ruir à medida que ficava claro que o debate seria cada vez menos comercial e mais político. Entre 28 de abril (último pregão antes do decreto de Evo Morales), e 13 de junho, as ações caíram 21%, de 46,23 reais para 36,50 reais. O viés político subiu na mesma proporção nesse período.

"A grande questão, ao se analisar qualquer empresa pública, é saber se a diretoria tem liberdade para fazer o que é preciso, e não o que é mais confortável para o governo", resume Antônio Castro, presidente da Associação Brasileira das Companhias Abertas (Abrasca). Mesmo quando uma diretoria apresenta um bom desempenho, há sempre o risco de interrupção do trabalho, quando o mandato de quem a nomeou termina e seu sucessor indica novos apadrinhados para os cargos.

Perspectivas

Os especialistas mostram-se, porém, otimistas com o futuro das empresas públicas. "Houve uma melhora colossal. Listar-se em um nível diferenciado expõe muito mais a empresa à análise do mercado", diz José Guimarães Monforte, presidente do conselho de administração do Instituto Brasileiro de Governança Corporativa.

Algumas empresas públicas, como Sabesp e Furnas, já receberam prêmios por sua transparência. Outras, como a Petrobras, mantêm ADRs (American Depositary Receipts) negociados na Bolsa de Nova York, o que as coloca sob a mira de uma legislação muito mais severa - a temida Sarbanes-Oxley.

Para os especialistas, alguns cuidados básicos podem atenuar o risco de investidores que pretendem comprar papéis de estatais: verificar se o conselho de administração conta com membros independentes; checar a qualificação e o processo de indicação da diretoria executiva; comparar os resultados da empresa com as de similares privadas. Segundo os analistas, no fundo, seja estatal, seja privada, no fundo uma boa empresa deve oferecer o mesmo: boa rentabilidade para o investidor. O problema é que, nem sempre, o que dá mais retorno para os políticos é o mesmo que gera ganhos para o mercado.

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