O analista de sistemas Ricardo Melo de Almeida, 41 anos, buscou ajuda para renegociar a dívida. (Arquivo pessoal/Divulgação)
Marília Almeida
Publicado em 30 de agosto de 2017 às 05h00.
Última atualização em 30 de agosto de 2017 às 10h31.
São Paulo - O analista de sistemas Ricardo Melo de Almeida, 41 anos, não tinha reservas financeiras e cultivava um hábito perigoso: usava o cartão de crédito “para tudo”. “Chegava a gastar 40% da minha renda mensal no plástico”, conta.
Até que se deparou com um gasto inesperado: teve de contratar um advogado para se defender de um processo judicial, causado por desavenças após o divórcio.
Ricardo ficou, automaticamente, com a conta corrente negativa, e o banco começou a cobrar 10,5% de juros ao mês pela utilização do limite do cheque especial. Após oito meses, o analista de sistemas já estava devendo 29 mil reais. “Cheguei a pagar 2 mil reais de juros por mês”, conta.
A dívida surgiu em um momento delicado: seu filho havia acabado de nascer. Com mais gastos e sem opções de obter uma renda extra, o jeito foi buscar empréstimos mais baratos para tentar obter algum fôlego e quitar o débito.
Mas tudo o que Ricardo conseguiu foi obter um crédito consignado, descontado de seu salário, em outro banco, com taxa de 3% ao mês. "Como eu mantinha meu nível de gastos e não tinha limite de crédito para cobrir toda a dívida com o consignado, eu ganhava um alívio momentâneo. Depois de três meses, eu não conseguia pagar a dívida novamente, pois continuava a dever parte do valor no cheque especial. ”
O analista de sistemas tentou negociar a dívida com o banco, mas ficou frustrado. “Tinha um longo relacionamento com a instituição financeira, mas só conseguia juros ainda altos. Não conseguia enquadrar a renegociação no orçamento. Portanto, não adiantava aceitar algo que eu não poderia pagar depois de alguns meses”.
Angustiado por receber inúmeras ligações de cobrança, e sem dormir direito por conta da preocupação, ele desabafou sobre a situação com uma amiga próxima, que estava passando por uma situação parecida. “Disse que não sabia mais de onde tirar dinheiro. Ela recomendou buscar ajuda para negociar com o banco”.
Ricardo conheceu o Programa de Apoio ao Superendividado (PAS) do Procon. “Passei por uma triagem e assisti a uma palestra com orientações financeiras”.
O analista de sistemas decidiu então colocar todos os seus gastos no papel. “Foi aí que vi o tamanho da encrenca. Tomei um baque”.
Ele começou a analisar, entre os gastos, o que não estava utilizando. “Questionei se precisava de um plano de telefonia com um grande volume de dados e tantos minutos para fazer ligações. Fui reduzindo e revendo tudo”. Até o cafezinho diário não escapou do corte. “Faz muita diferença no acumulado do mês. Passei a tomar apenas um por semana. Também diminui as idas a restaurantes. Saia três vezes por semana para comer fora.”
Ricardo conseguiu reduzir seus gastos pela metade, e utilizar bem menos o cartão de crédito. Mas ele conta que a disciplina não surgiu de um dia para o outro: houve um período de transição. “Demorei três meses para conseguir atingir esta meta”.
Para atingir o objetivo, a compreensão da esposa foi essencial. “Não adianta um economizar e o outro não. É algo que afeta toda a família. Sentamos e conversamos bastante sobre isso”.
Depois de saber exatamente quanto poderia pagar para quitar a dívida por mês, Ricardo conseguiu, com a ajuda do Procon, parcelar a dívida em 24 vezes, com juros de 1% ao mês. “A associação de defesa do consumidor tem convênio com bancos e consegue negociar uma taxa menor. Mas se eu não pagasse as parcelas rigorosamente em dia, dificilmente conseguiriam obter um acordo novamente para mim”.
Ele acredita que seu bom histórico de crédito contribuiu para o sucesso da negociação. “Nunca havia passado por uma situação semelhante. Ficava no negativo, mas eram valores baixos, que eram quitados em pouco tempo”. O máximo que havia devido no cheque especial, conta, era o valor de 10 mil reais, que conseguiu quitar em três meses.
Ricardo já pagou cinco parcelas da dívida e, com o dinheiro de uma rescisão, recebida após uma mudança de emprego, vai quitar toda a dívida bem antes do prazo final. “Ainda irá sobrar um dinheiro, que irei guardar como reserva para me defender do processo, que corre na Justiça”, conta.
Assim que quitar o débito, Ricardo já faz planos: pretende comprar um imóvel. Mas quer evitar cair em uma armadilha novamente. “Conversando com a minha esposa cheguei à conclusão de que será melhor comprar as coisas para a casa aos poucos, e comprar um imóvel que, de fato, caiba no orçamento. Não queremos entrar em uma nova dívida e correr o risco de passar por esta situação novamente”.