Dívidas: com a renda mais curta, os consumidores têm optado pelo uso do cartão de crédito (boonchai wedmakawand/Getty Images)
Karla Mamona
Publicado em 17 de novembro de 2022 às 16h12.
O número de brasileiros endividados no país é de 68,39 milhões. Pelo 9º mês consecutivo a inadimplência aumentou no país, segundo dados divulgados pela Serasa Experian. Para entender o comportamento e o perfil do endividamento do consumidor brasileiro, a Serasa divulgou uma pesquisa nesta quinta-feira, 17. De acordo com o levantamento, o desemprego é a principal causa do endividamento. A resposta foi apontada por 29% dos entrevistados.
O desemprego impacta principalmente as mulheres e os jovens (até 30 anos). Neste caso, ele foi apontado por 31% e 33%, respectivamente. Entre os outros motivos citados estão redução da renda (12%), alguém que comprou algo no nome do entrevistado e não realizou o pagamento (11%), emprestar o nome (8%) e falta de controle (8%).
Sobre o empréstimo de nome, Matheus Moura, diretor de Marketing da Serasa, explicou que é um comportamento comum nos consumidores brasileiros, principalmente, em época de crise. “O crédito acaba sendo compartilhado com familiares e amigos.”
Moura acrescentou ainda que a inadimplência cresceu também devido ao aumento da inflação, que acaba reduzindo a renda do brasileiro. Com a renda mais curta, os consumidores têm optado pelo uso do cartão de crédito. O cartão foi apontado mais da metade dos entrevistados (53%) como o principal tipo de dívida.
O cartão é usado principalmente para compra de alimentos. Segundo a pesquisa, 65% dos respondentes usam o cartão de crédito no supermercado para compra de alimentos.
A segunda maior utilização do cartão é para compra de produtos (48%), como roupas, calçados, eletroeletrônicos, entre outros. E a terceira é para compra de medicamentos ou tratamentos médicos, apontado por 41%. Além disso, 22% disseram que compram alimentos por delivery (apps de comida) e o mesmo percentual para pagamento de transporte/combustível.
Dentro os tipos de dívidas, as contraídas a partir do empréstimo do com nome para terceiros é a com maior representatividade. Pelos dados, 85% das dívidas por empréstimo de nome estão atrasadas há mais de um ano e 64% delas há mais de dois anos.
Além do prazo de atraso, os inadimplentes não conhecem os valores das tarifas e juros que são cobrados nos casos de atraso de pagamento. A resposta foi apontada por 59% dos respondentes.
Com as contas em atraso e o nome sujo, 83% disseram que têm insônia causado pelas preocupações com as dívidas.
Para Valéria Meirelles, psicóloga, que participou da apresentação da pesquisa, os aspectos biológicos são uns dos primeiros sintomas de preocupações com as dívidas, especialmente quando estas podem levar à inadimplência.
"A ansiedade vai invadindo a vida da pessoa que busca incansavelmente uma solução para zerar esta situação. Ela passa a viver com pensamentos voltados ao futuro, não consegue relaxar e consequentemente, não dorme também. E quando são dívidas voltadas à escola dos filhos, à faculdade, ao aluguel ou condomínio, contas básicas, os sentimentos se agravam."
Outro problema comum entre os entrevistados é a dificuldade de concentração para realizar tarefas diárias, apontada por 74%. "Os pensamentos negativos costumam ser agravados em um ambiente de trabalho em que os colegas, teoricamente, não têm dívidas e as comparações passam a ser inevitáveis. O foco do indivíduo torna-se a resolução da endividamento, o que compromete diretamente seu desempenho profissional, impedindo ou comprometendo que ela realize até tarefas mais básicas."