Carros: Com a elevação da taxa Selic, foram elevados também os juros dos financiamentos, deixando os consórcios mais atrativos (Justin Sullivan/Getty Images)
Da Redação
Publicado em 14 de janeiro de 2014 às 08h38.
São Paulo – O consórcio é uma boa alternativa para quem quer comprar um carro mas não tem pressa em adquiri-lo e não tem dinheiro suficiente para fazer o pagamento à vista. E neste ano a modalidade de compra ficou ainda mais vantajosa em relação ao financiamento.
Os dois modelos são as principais opções para o consumidor que não tem condições de quitar o veículo de uma vez só. Mas mudanças recentes na indústria automotiva e no cenário econômico trouxeram mais vantagens ao consórcio.
A principal delas é fruto da elevação de preços dos carros no mercado, ocasionada pelo aumento do IPI e pela obrigatoriedade do airbag e do freio ABS, que encareceram carros que antes não traziam os itens de série.
Por oferecer ao consumidor parcelas menores e prazos mais longos, o consórcio passa a ser uma opção mais viável para alguém que não tem dinheiro para arcar com esse aumento.
Além disso, conforme defende Paulo Roberto Rossi, presidente da Associação Brasileira de Administradoras de Consórcios (Abac), com a exigência de entradas e prestações mais altas no financiamento, o consumidor também tende a considerar com mais cautela se precisa comprar o carro agora, ou se pode esperar.
“O aumento dos preços leva o consumidor a refletir mais se ele precisa do bem imediatamente e o consórcio aparece ainda mais como uma boa opção de compra", afirma Rossi.
Aumento da Selic encareceu custo dos financiamentos
Outro ponto que favorece o consórcio é o aumento da taxa Selic. Com os juros básicos da economia mais altos, os financiamentos de veículos também sofreram elevações em suas taxas, ficando mais caros e aumentando a atratividade do consórcio.
De outubro de 2012, quando a Selic caiu para 7,25% ao ano, até dezembro de 2013, quando a Selic estava em 10% ao ano, a taxa média do financiamento de veículos aumentou 10,74%, passando de 1,49% ao mês para 1,65% ao mês, segundo dados da Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac).
Como reflexo dessa mudança, em novembro de 2013, o número de participantes do sistema de consórcios do Brasil foi recorde, chegando a um total de 5,64 milhões de consorciados, um crescimento de 10% sobre o mesmo período de 2012.
Além do aumento da Selic tornar o financiamento mais caro, ele torna o consórcio relativamente mais barato. Isso porque, enquanto no financiamento são cobrados juros e outros encargos, no consórcio não há incidência de juros, cobram-se apenas taxa de administração, taxa de reserva, encargos e a correção das parcelas segundo a alta do valor do bem ou um índice oficial de inflação.
Comprar um Novo Gol pode ser 9 mil reais mais caro com financiamento do que com consórcio
Considerando todos os encargos das duas modalidades de compra, simulações mostram que o consórcio atualmente é uma opção mais barata que o financiamento.
Para mostrar a diferença na prática, vamos tomar como exemplo o parcelamento de 60% do valor de um Novo Gol 1.0 4 portas - que custa 31.377 reais segundo a Tabela Fipe -, em um prazo de 60 meses.
No consórcio mais barato do mercado, segundo o site de simulação de consórcios Avante, para obter uma carta de crédito que cobre 60% do valor do Novo Gol (18.826 reais), o participante paga ao todo 34.478 reais, ou 3.101 reais a mais que o preço original do carro.
Já no financiamento do mesmo valor (18.826 reais) realizado pelo Banco Volkswagen, - cujo Custo Efetivo Total (CET) é de 1,83% ao mês, segundo a assessoria de imprensa do banco - o comprador pagaria ao todo 43.722 reais, ou 12.345 reais a mais que o preço original do carro.
Em resumo, no caso simulado, o consumidor pagaria 9.244 reais a mais no financiamento do que no consórcio.
Demais vantagens
Conforme destaca o presidente da Abac, outra vantagem do consórcio é a possibilidade de comprar um veículo diferente do previsto inicialmente. “A lei determina que o consorciado pode usar a carta de crédito do consórcio de carros para comprar o que bem entender, desde que seja um veículo automotor”, afirma Paulo Roberto Rossi.
Ele comenta que um participante contemplado com uma carta de crédito de 40 mil reais, por exemplo, em vez de comprar um carro por esse valor, poderia negociar com a concessionária a venda do seu carro usado, de 20 mil reais, e comprar um carro de 60 mil reais.
Rossi também destaca que até 10% do valor da carta de crédito pode ser usado para pagar despesas relacionadas ao carro, como o IPVA, cobranças de despachantes e o seguro. “Nesse exemplo de uma carta de 40 mil reais, o participante poderia usar até 4 mil reais para fazer frente às despesas relacionadas à compra de um carro de 36 mil reais”, diz.
E a despeito da demora que o participante pode ter para obter seu carro no consórcio – talvez a principal desvantagem em relação ao financiamento -, Rossi afirma que, com o valor que seria usado como entrada no financiamento, o participante pode dar um lance no consórcio para adiantar a sua contemplação.
“Hoje a maioria dos financiamentos exige uma entrada, então essa entrada que o consumidor daria pode ser transformada em custo de oportunidade. O consumidor pode se planejar para usar o que seria dado de entrada no financiamento como lance no consórcio", diz o presidente da Abac.
Por fim, ele ressalta o benefício do consórcio como um instrumento de planejamento financeiro. “Um exemplo emblemático é de um pai com um filho na faixa de 15, 16 anos. Nesse caso vale a pena entrar em um consórcio para se programar com antecedência e conseguir dar um carro para o filho depois de três anos, quando ele entrar na faculdade”, diz.
Quando não vale a pena
O consórcio é mais indicado para quem não precisa comprar um carro imediatamente e gosta de ter um instrumento que o force a separar mensalmente parte de sua renda para a compra do carro porque não teria disciplina para fazê-lo de outra forma.
Como o próprio presidente da Abac reforça, o consórcio não vale a pena para quem tem dinheiro para quitar o veículo à vista, já que nesse caso é possível obter descontos na compra, não há incidência de juros e o comprador não precisa esperar até ser contemplado.
Além disso, se o comprador tem disciplina para investir todo mês uma parcela de sua renda para a compra do carro, faz mais sentido aplicar o dinheiro em um investimento e comprar o veículo depois do que destinar os recursos ao consórcio. Enquanto no primeiro caso a pessoa é remunerada por disponibilizar seu dinheiro, no segundo ela paga taxas para participar do consórcio.