Saiba quais são as garantias da aplicação em títulos públicos, ações, poupança, CDBs e fundos de investimento (Stock Exchange)
Da Redação
Publicado em 18 de julho de 2011 às 07h21.
São Paulo - Em matéria de aplicação financeira, são muitos os mitos que reforçam o risco dos investimentos. Quem nunca ouviu que a Bolsa é só para tubarões do mercado? Ou temeu que pudesse perder todo o dinheiro investido em um fundo se o banco responsável fosse à lona? Na hora de guardar para o futuro, a poupança ganha a preferência dos investidores conservadores simplesmente por ser familiar. Mas para além da facilidade de aplicação e da previsível rentabilidade, a cobertura oferecida pela caderneta em caso de quebra da instituição financeira é exatamente a mesma daquela ofertada pelos CDBs, títulos privados emitidos pelos bancos. Conheça a seguir com quais garantias o investidor pode contar ao aplicar em diferentes tipos de investimento:
Ações
Nem todo mundo sabe, mas quem investe em ações tem direito à indenização em situações específicas. E o teto desse valor acaba de ser modificado pela Comissão de Valores Mobiliários, passando de 60.000 para 70.000 reais. A lei garante o ressarcimento do prejuízo causado por qualquer ação - ou omissão - de quem agir de má-fé ao operar em nome do investidor.
É o caso da corretora que, sem o devido consentimento, realiza operações em mercados futuros e de opções. Ou da instituição que liquida operações apenas para se enquadrar nos limites estabelecidos pela CVM para conta-margem. Problemas com o funcionamento do home broker e ordens de compra e venda feitas por agentes autônomos de investimento também costumam figurar entre as reclamações mais frequentes.Para conseguir reaver o dinheiro perdido, é preciso encaminhar uma reclamação por escrito ao MRP (Mecanismo de Reparação de Prejuízos), que é administrado por uma divisão da Bovespa. O pedido deve ser feito até um ano e meio depois da data de ocorrência do fato.
Quanto à possibilidade de perder algum recurso caso a corretora venha a quebrar, o investidor pode ficar tranquilo. Estas instituições apenas fazem a intermediação de compra e venda dos ativos, ganhando pelas taxas que cobram nessas operações. O dinheiro investido, contudo, vai para a Companhia Brasileira de Liquidação e Custódia (CBLC), que guarda os registros de propriedade. Logo, se a corretora passar por qualquer problema, a propriedade das ações permanece inalterada, custodiada pela CBLC.
A CVM lembra, contudo, que a performance de um papel jamais deixará margem para ressarcimento. Portanto, quem aplica em ações deve estar ciente que este é um mercado extremamente volátil e que as reviravoltas podem transformar todo o dinheiro investido em pó. “O risco das ações é muito mais em relação ao negócio da empresa da qual você é sócio do que no sistema de compra e venda em si”, lembra o educador financeiro Mauro Calil.
Fundo de investimento
Nos fundos, as decisões de onde alocar o dinheiro conjunto cabem ao gestor. O investidor, por sua vez, paga para terceirizar esse serviço, entregando a um profissional a tarefa de maximizar os lucros obtidos. Independente de serem tocados por grandes bancos de varejo ou por gestoras independentes, os fundos têm CNPJ próprio. Isso significa que seus ativos ficam separados do patrimônio da instituição. Se a ponta responsável pela gestão falir, o administrador do fundo comunicará esse fato aos cotistas e uma nova gestora será escolhida para assumir o fundo.
Assim como acontece com as ações, o risco está ligado antes à política de investimento do que à quebra de um banco ou gestora. Vem daí a importância de conhecer a estratégia do fundo e os ativos que compõem sua carteira. Os resultados do primeiro semestre provam que a variação entre os produtos é grande e depende não apenas do talento do gestor mas também do momento econômico. Enquanto os fundos DI se beneficiaram com a alta da Selic e sofreram uma valorização média de 4,6%, os fundos de ações com livre escolha dos ativos tombaram 1,8% no mesmo período. Nesses seis meses, o desempenho do Ibovespa foi ainda pior, com queda de quase 10%.
Poupança
Popular entre os brasileiros, a tradicional caderneta de poupança vem imediatamente à cabeça quando o propósito é guardar dinheiro. Afinal, a escolha não requer muitos esforços. Geralmente, basta transferir o valor desejado da conta corrente para a conta poupança, operação que costuma ser ofertada nos próprios caixas eletrônicos e através do internet banking. O grande trunfo da aplicação reside na isenção de Imposto de Renda. O rendimento da caderneta é de 6% ao ano acrescido de Taxa Referencial. A TR, como é chamada, depende um intricado cálculo que leva em conta a taxa média dos CDBs. Quando a remuneração dos CDBs se aproxima de 9% ao ano, contudo, esse acréscimo fica muito perto de zero.
Diante de tantos fatores previsíveis, aplicar na poupança envolve algum risco? Para quem tem grandes quantias na caderneta, a resposta é sim. Se o banco responsável pela guarda do dinheiro quebrar, o investidor conseguirá reaver no máximo 70.000 reais dos recursos aplicados. O limite vale para cada instituição bancária e considera também o saldo em conta e a possível aplicação em CDBs. Por isso, se a soma destes produtos exceder 70.000, o investidor só receberá este montante. Quem banca o ressarcimento é o Fundo Garantidor de Crédito, entidade privada que administra a proteção aos correntistas em caso de intervenção, liquidação ou falência. O dinheiro do FGC vem dos próprios bancos, que contribuem regularmente para engordar esse colchão.
Certificados de Depósitos Bancários (CDBs)
A lógica que rege a emissão dos Certificados de Depósitos Bancários é exatamente a mesma que vale para os títulos públicos do governo. A diferença é que os CDBs são papéis da dívida dos bancos. Como o risco das instituições quebrarem é mais alto neste caso - vide Banco Santos - os CDBs costumam oferecer retornos ligeiramente maiores que os ofertados pelos títulos públicos. Da mesma forma, bancos pequenos e médios também pagam juros mais altos. Em geral, a remuneração destes ativos está atrelada ao CDI, taxa média de juro interbancário que acompanha de perto a Selic.
Caso um banco emissor de CDBs feche as portas, o investidor ganhará a restituição de até 70.000 reais, cobertos pelo Fundo Garantidor de Crédito (FGC). Entretanto, este valor vale para todos os tipos de aplicações reunidas em uma mesma instituição, incluindo o montante disponível na conta corrente - a garantia é por CPF, e não por tipo de produto. Portanto, se tiver 70.000 reais na poupança e 70.000 reais em CDBs de um banco que falir, o investidor receberá não 140.000 reais, mas apenas a metade deste valor.
A estratégia para se precaver de riscos, é diversificar. “Esse é afinal o grande apelo dos CDBs. Se você investir menos de 70.000 reais em instituições diferentes, terá no mínimo o seu capital garantido”, aconselha o educador financeiro Mauro Calil.
Títulos da dívida pública
Especialistas em finanças são unânimes em apontar o investimento em títulos públicos como a modalidade mais segura de aplicação. O governo emite esses papéis para financiar a dívida pública, pagando juros para receber o dinheiro dos investidores em troca. O risco de um governo com economia saudável não honrar sua dívida é dois mais baixos do mercado, já que um calote desencadearia um verdadeiro terremoto no sistema financeiro. Mas um calote pode acontecer. A Grécia, por exemplo, terá, segundo um consenso de economistas, de reestruturar suas dívidas. Nesses casos, não há uma garantia formal de que os credores terão algum tipo de compensação. O que costuma ocorrer é uma suspensão temporária no pagamento de juros e, em alguns casos, a troca dos papéis por outros com menor valor de face. O investidor tem prejuízos que podem ser imprevisíveis e representativos, mas dificilmente vai perder tudo.
Vale lembrar que os títulos do governo brasileiro são considerados os de menor risco da economia. O país tem andado na contramão da Europa e melhorado sua classificação de risco constantemente na última década. O governo brasileiro também já se mostrou no passado bem mais disposto a cortar gastos para evitar um calote do que muitos países europeus. Atraídos pelos juros altos, investidores brasileiros e de outros países aplicam nos títulos do governo federal. Pegando empréstimos a juros baixíssimos em seus países de origem, eles investem nos papéis do governo e levam, sem qualquer esforço, retornos que facilmente batem a casa dos dois dígitos.
Para os interessados que moram por aqui, a compra dos títulos é feita via Tesouro Direto, com a possibilidade de investir em papéis prefixados, indexados à inflação ou à taxa Selic. Para se ter uma ideia, nos últimos 12 meses os títulos prefixados renderam uma média de 11,48%. O percentual foi de 11,07% para os papéis indexados à Selic, 13,74% para os que acompanham o IPCA e 18,11% para os atrelados ao IGP-M. Vale lembrar que os horizontes de investimento são muitos e vão de semestres a 35 anos. E a liquidez é garantida pelo Tesouro Nacional, que recompra os títulos todas as quartas-feiras.