Apresentação da Análise do Perfil do Investidor: seleção consciente do fundo
Da Redação
Publicado em 5 de janeiro de 2012 às 21h23.
Escolher o fundo de investimento certo para colocar seu dinheiro não é tarefa simples. Muitos produtos possuem nomes enigmáticos - como fundos referenciados, por exemplo - ou então nomes fantasia que não revelam as reais características do produto - é óbvio que o "fundo diamante" vendido pelo seu banco não foi batizado dessa forma porque investe em pedras preciosas. Pedir ajuda ao gerente tampouco costuma ser produtivo. A maior parte dos responsáveis por uma agência bancária está preparada para gerenciar sua conta corrente, mas não para dar aconselhamento sobre investimentos. O investidor ainda pode recorrer ao prospecto do fundo para obter mais informações, mas nem tudo que estará escrito ali será inteligível.
Cientes das dificuldades dos clientes, os bancos brasileiros deram um passo à frente em 2010 e passaram a oferecer questionários para o investidor avaliar qual a sua tolerância ao risco de investimentos. Conhecido como Análise do Perfil do Investidor (ou API), esse teste foi desenvolvido para mostrar se o cliente do banco tem perfil conservador, moderado ou agressivo - clique aqui, faça o teste e descubra em qual categoria você se enquadra. Ao final do questionário, o banco apresenta uma sugestão da carteira de investimentos mais adequada ao perfil identificado.
"Se o investidor tomar uma decisão contraindicada, estará assumindo os riscos a despeito de todas as orientações", explica Eduardo Dotta, professor de fundos de investimento do Insper. Neste caso, ele assinará um termo se responsabilizando pela escolha. Apesar de parecer aterrador, o efeito no mercado foi contrário. "Sem a ferramenta, quem era rotulado como conservador ficava ressabiado de aplicar parte do patrimônio na renda variável, ainda que isso fizesse sentido pela inexistência de compromissos financeiros mais imediatos", diz Marcos Villanova, coordenador da Comissão de Distribuição de Produtos de Varejo da Anbima (a associação dos bancos de investimento) e diretor de Investimentos do Bradesco.
O teste, no entanto, não dará ao cliente subsídio para encontrar o fundo mais adequado entre todas as opções do mercado. Afinal, um banco não vai recomendar o produto do rival mesmo que ele seja melhor. Com o intuito de facilitar a comparação entre os investimentos de diferentes instituições financeiras, a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) decidiu uniformizar as milhares de opções oferecidas pelos bancos, distribuindo os fundos em sete grandes classes. No Brasil, é possível aplicar em fundos de curto prazo, referenciados, renda fixa, multimercados, ações, cambiais ou de dívida externa. O nome do fundo sempre fará menção à classe em que ele se encontra - mesmo que haja também um nome fantasia. Abaixo o Portal EXAME explica como funcionam esses produtos - e para quem cada um é indicado:
1. Curto Prazo
Os fundos de curto prazo buscam acompanhar as variações das taxas de juros, investindo exclusivamente em títulos públicos federais prefixados ou privados de baixo risco de crédito. As restrições para a compra de ativos com prazo de vencimento longo fazem com que a carteira fique menos sujeita à variações na negociação dos títulos. Em geral, a rentabilidade destes fundos está atrelada à Selic ou à taxa média de empréstimos feitos entre os bancos, conhecida como CDI (Certificado de Depósito Interbancário). Com um prazo máximo de resgate dos papéis de 375 dias e prazo médio de carteira de no mínimo 60 dias, os fundos de curto prazo são considerados investimentos conservadores e de baixíssimo risco.
Indicação: Como é fácil converter os títulos destes fundos em dinheiro, quem opta por esta aplicação quer mesclar a garantia de resgate a curto prazo com a certeza de não se expor aos riscos e oscilações do mercado. Ainda que a margem de rentabilidade seja pequena, o produto é interessante para quem tem planos que devem se concretizar em menos de 12 meses, como o pagamento das últimas parcelas de um carro ou de um apartamento. É importante lembrar que investimentos de prazo mais curto pagam mais impostos. Quem deixar dinheiro aplicado em um fundo por menos de um mês terá de pagar IOF (Imposto sobre Operações Financeiras) - a alíquota varia de acordo com o número de dias. Além disso, o Imposto de Renda sobre aplicações em fundos alcança 22,5% do ganho obtido para aplicações de até 180 dias e 20% para investimentos de 181 a 360 dias. Por esse motivo, o professor Mauro Calil, especialista em finanças pessoais, recomenda que o investidor prefira a caderneta de poupança a um fundo de curto prazo sempre que planejar deixar o dinheiro aplicado por menos de 90 dias.
2. Referenciados
Apontam em seu nome o indicador de desempenhos que a carteira acompanha. Em outras palavras, no mínimo 95% dos ativos devem seguir a variação de um parâmetro específico, o chamado benchmark. O instrumento é usado para comparar a rentabilidade entre diferentes investimentos. Fundos referenciados são considerados seguros por terem um piso de 80% dos investimentos em títulos públicos federais ou em títulos de renda fixa privados na categoria de baixo risco de crédito. É nesta categoria que se enquadram os famosos referenciados DI, que recebem o nome por acompanharem as mudanças das taxas de juros do CDI. Por aplicarem recursos em títulos pós-fixados, isto é, com preço sujeito à flutuação do mercado, os fundos DI registram valorização em momentos de alta nas taxas de juros domésticos.
Indicação: A alta liquidez de um fundo DI vale a pena para todos os perfis de investidor por ter a função de proteger o capital. Assim, os agressivos podem reservar uma fatia mais gorda dos seus recursos em aplicações de renda variável, mas ainda assim destinar 50% do capital em DI. Para os conservadores, a porcentagem investida em fundos referenciados pode chegar a 90%. Os moderados podem optar pelo meio do caminho, destinando entre 60 e 70% do seu patrimônio à aplicação. Vale ressaltar que eventuais aumentos na taxa de juros forjam um cenário propício para ganhos financeiros com os fundos DI.
3. Renda Fixa
Investem no mínimo 80% dos seus recursos em ativos de renda fixa prefixados (que rendem uma taxa de juros previamente acordada), ou pós-fixados. Como não precisam acompanhar o desempenho das taxas de juros, estes fundos buscam retornos adicionais em cenários de recuo nas taxas de juros. Isso acontece porque existe a possibilidade de investimento de parte ou mesmo da totalidade do patrimônio em títulos prefixados, ou seja, que irão render determinada taxa independente das oscilações do mercado.
Indicação: Para quem procura a manutenção do poder de compra em reais, os fundos de renda fixa podem ser uma boa alternativa, já que procuram superar a inflação a longo prazo. Dividem a preferência dos investidores brasileiros com os referenciados DI, e assim como estes, podem constituir boa parte do portfólio de investimentos de quem aplica. A porcentagem de recursos investida neste tipo de fundo varia em conformidade com o perfil do cliente. Conservadores podem aplicar a maior parte do patrimônio nos fundos de renda fixa, moderados entre 60 e 70%, e agressivos de 40 a 50%. A diferença é que, ao contrário dos fundos DI, estes fundos tendem a apresentar valorização em situações de diminuição da taxa de juros.
4. Multimercados
Alocam seus recursos em diversas formas de ativos, combinando investimentos em renda fixa, câmbio, ações e derivativos (operações em que o valor das transações deriva do comportamento futuro de outros mercados, como o de ações ou de juros). O risco neste tipo de investimento varia de médio a alto: depende da natureza dos papéis que compõem a carteira e da estratégia escolhida pelos gestores para a administração do patrimônio. A procura pelas melhores oportunidades para diversificar os ativos do fundo se assenta sobre o talento e experiência desses profissionais, que devem combinar a aplicação do percentual ideal dos recursos em cada um dos mercados e investir o dinheiro no momento mais propício.
Indicação: Para o investidor com horizonte de resgate de médio a longo prazo, o fundo multimercado é uma alternativa interessante e pode funcionar como um bom instrumento de poupança, independente do perfil. Se por um lado as políticas destes fundos pressupõem exposição ao risco, por outro as possibilidades de aumentar significativamente a renda são maiores. Isso porque um multimercado congrega a possibilidade de ganhar mais dinheiro com ações, por exemplo, à segurança de não ficar exclusivamente à mercê do mercado (devido à presença de títulos que pagam juros na carteira). O conservador pode destinar 5% do seu patrimônio à aplicação, o moderado de 10 a 20%, e o agressivo, cerca de 30%.
5. Ações
Com no mínimo 67% da sua carteira alocada em ações negociadas em Bolsa de Valores, estes fundos estão sujeitos às mudanças de preços dos ativos e contam com o potencial de valorização dos papéis na busca por rentabilidade. O risco para o investidor é alto, apoiado na volatilidade e inconstância do mercado acionário. Alguns fundos desta classe buscam seguir a oscilação na composição de um índice do mercado acionário, como o Ibovespa ou IBrX. São os chamados fundos passivos. Já os fundos ativos são aqueles em que o gestor toma decisões de investimento a partir de suas análises para a macroeconomia e para determinados setores e empresas.
Indicação: De uma forma geral, atraem investidores agressivos que querem aumentar a margem de lucro sem a urgência de um retorno imediato. Investir em fundos de ações significa aceitar riscos em troca da chance de aumentar o capital em um prazo maior. Não são indicados para quem precisará do dinheiro no curto prazo nem para investidores avessos ao risco.
6. Cambiais
Mantém no mínimo 80% do seu patrimônio em ativos atrelados, direta ou indiretamente, à variação de preços de uma moeda estrangeira ou à mudanças na taxa de juros (cupom cambial). Esses fundos não refletem apenas a cotação da moeda, pois taxa de administração e imposto de renda são tributos abatidos do patrimônio.
Indicação: São uma alternativa para investidores que buscam preservar o poder de compra do seu patrimônio na moeda estrangeira a longuíssimo prazo. Para viagens ao exterior, pode valer a pena simplesmente comprar dólares ao invés de investir em fundos cambiais. Isso porque as taxas de administração e IR ameaçam minar a rentabilidade do fundo. Com o dólar a 2 reais, por exemplo, o investidor precisaria de 6.000 reais para comprar 3.000 dólares. Caso optasse por aplicar o montante no fundo, o capital ficaria sujeito às variações cambiais. Se o dólar chegasse a 3 reais (aumento de 50%) e a carteira acompanhasse 100% da valorização, o investidor passaria a ter 9.000 reais. Contudo, sobre o retorno de 3.000 reais incidiria uma taxação de 15% de IR, o equivalente a 450 reais. A alíquota corresponde a um resgate feito após dois anos. Na prática, o sujeito teria agora 8.550 reais e seus 3.000 dólares iniciais teriam se transformado em 2.850 dólares.
7. Dívida Externa
Investem no mínimo 80% do seu patrimônio em títulos representativos da dívida externa de responsabilidade da União. O restante pode ser aplicado em outros títulos de crédito transacionados no exterior. A rentabilidade dos fundos de dívida externa é determinada por uma combinação entre a taxa de juros paga pelos ativos, o desempenho dos papéis no mercado internacional e a taxa de câmbio entre o dólar e o real.
Indicação: Caso o cliente queira ter títulos negociados fora da país em sua carteira, fundos de dívida externa podem render lucros a longo prazo. De qualquer forma, o investidor assume o risco de ver a rentabilidade afetada pelas variações do real frente ao dólar. Alguns bancos só oferecem esse tipo de fundos a pessoas jurídicas.