Mulher com sacolas de compras: compra compulsiva leva ao endividamento excessivo e à inadimplência, e acredita-se que atinja mais as mulheres (Getty Images)
Da Redação
Publicado em 12 de março de 2014 às 18h09.
São Paulo – Você não consegue resistir ao impulso de comprar, está sempre se equilibrando em dívidas maiores que a sua renda, compra para se animar e gasta mais tempo e dinheiro com o consumo do que havia planejado inicialmente? Talvez seja hora de avaliar se você é um comprador compulsivo.
O transtorno do comprar compulsivo ou oneomania consiste em uma ansiedade desencadeada pela necessidade do consumo, que só é saciada com a posse do que se compra. Mas o prazer é efêmero e frequentemente dá lugar à culpa ao endividamento excessivo.
A oneomania funciona como um vício, como a dependência química. A pessoa fica obcecada com determinada compra, mas logo após saciar o prazer de adquirir um bem ou serviço, sentimentos ruins como culpa e vergonha aparecem. Más consequências na vida profissional e familiar também costumam assombrar essas pessoas.
Em razão da Semana do Consumidor (de 10 a 16 de março), o birô de crédito Serasa Experian lançou um guia online de Orientação ao Cidadão, a fim de ajudar inadimplentes a renegociar e sanar suas dívidas. Um dos tópicos abordados pelo guia é justamente a oneomania.
É importante frisar que nem todo inadimplente é um comprador compulsivo. Esse mal, aliás, atinge uma parcela bem pequena da população. Nos Estados Unidos, afeta 5% das pessoas, e estima-se que no Brasil, onde ainda não há estatísticas a esse respeito, seja semelhante.
Mas o endividamento excessivo – de um percentual significativo da renda, que pode passar de 50% - e a inadimplência são bastante comuns entre essas pessoas.
E para se livrar das dívidas, nesses casos, não basta apenas fazer um orçamento e planejar os gastos; é preciso também buscar tratamento psicológico.
Sintomas
Segundo a psicóloga Tatiana Filomensky, coordenadora do grupo de tratamento a compradores compulsivos do Hospital das Clínicas, em São Paulo, para saber se você pode ser um comprador compulsivo e buscar tratamento psicológico, é preciso observar se você tem alguns sintomas.
Em palestra no evento de lançamento do guia online da Serasa Experian nesta quarta-feira, a psicóloga deu alguns exemplos de sinais de alerta:
- Preocupação excessiva em relação ao consumo, com pensamentos constantes sobre compras e divagações;
- Perda da noção do tempo quando se está fazendo compras ou gasto maior de tempo do que o planejado inicialmente;
- Consumo para aliviar emoções ruins, se animar, revitalizar a autoestima, aliviar o estresse etc.;
- Hábito de fazer compras sozinho para evitar a repreensão de pessoas próximas ao que se quer comprar;
- Críticas frequentes de familiares a seus hábitos de consumo e gastos.
Outros sintomas também são sinais de alerta, conforme indica um teste desenvolvido por coordenadores do Ambulatório do Jogo Patológico e Outros Transtornos do Impulso (AMJO) do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas. Eles estão listados no guia online da Serasa e a seguir:
- Dificuldade de resistir ao impulso de comprar;
- Gastar mais que o planejado e se prejudicar financeiramente;
- Prejudicar a própria vida e a das pessoas em volta em função dos hábitos de consumo;
- Hábito de pedir dinheiro emprestado e até aplicar golpes para conseguir saldar as dívidas;
- Necessidade de comprar de qualquer maneira, independentemente do produto que será adquirido;
- Hábito de comprar coisas que não serão usadas ou que serão muito pouco usadas;
- Endividar-se acima de cinco vezes o valor de sua renda mensal.
O guia da Serasa traz, ainda, um teste desenvolvido pelo grupo Devedores Anônimos, grupo de apoio para o tratamento da oneomania, que ajuda a pessoa a descobrir se ela pode ser devedora compulsiva.
O diagnóstico da oneomania, porém, deve ser feito por um profissional competente. Identificar os sintomas é apenas o primeiro passo para procurar ajuda.
Mulheres são mais afetadas
Segundo especialistas, embora a oneomania normalmente comece a se manifestar aos 18 anos de idade, ela só costuma ser percebida na faixa dos 30 anos de idade, e a maioria das pessoas só procura ajuda com sua situação financeira familiar já está insustentável.
“A proporção de compradores compulsivos é de quatro mulheres para cada homem, mas uma pesquisa anônima nos Estados Unidos mostrou que essa relação, lá, é de um para um”, diz Tatiana Filomensky.
Segundo a psicóloga, a estatística de que 80% dos compradores compulsivos são mulheres é clínica, então pode ser fortemente afetada pelo fato de que as mulheres têm mais costume de buscar tratamentos psicológicos quando têm algum problema.
Além disso, há fatores culturais envolvidos, como o maior apelo de consumo atrelado à felicidade voltado para as mulheres e o fato de que elas admitem esse tipo de problema mais facilmente. Este segundo fator, diz Tatiana, poderia explicar por que, em uma pesquisa anônima, a proporção entre homens e mulheres foi a mesma.