Para curtir a aposentadoria, mais importante é preservar patrimônio, não arriscar, diz especialista (Stock.xchng)
Da Redação
Publicado em 5 de maio de 2013 às 09h00.
Dúvida da internauta: Acabo de me aposentar e gostaria de orientações para melhor investir o montante de 1,5 milhão de reais que consegui acumular durante os anos trabalhados. Esclareço que o Benefício de INSS e a Pensão relativa ao Plano de Aposentadoria que começo a receber no próximo mês serão suficientes para minhas despesas mensais. O apartamento onde resido é próprio. Minha intenção é que minhas economias não se desvalorizem ao longo dos anos, e que eu possa sempre ter uma boa reserva para trocar de carro, reformar ou trocar de imóvel e viajar. Meu perfil é conservador. Atualmente, o montante acumulado está (mal) distribuído da seguinte forma: 8,66% em imóvel, 0,62% em poupança, 37,44% em CDB, 22,99% em fundos DI, 29,72% em VGBL, 0,15% em Tesouro Direto e 0,42% em ações.
Resposta de Gisele Colombo de Andrade*:
Vou assumir aqui algumas premissas visando a ajudá-la, já que alguns pontos não estão ditos. Provavelmente, o recurso investido em CDB, em VGBL e via Tesouro Direto estão indexados à variação do CDI, assim como o fundo de investimentos. Não sabemos se há herdeiros seus, o que faz bastante diferença quando pensamos em veículos de investimento adequados, mas para efeito de “estudo”, que seja sim, há herdeiros.
Sendo conservadora, não se faz conveniente buscar alternativas com elevado grau de risco, por mais que haja expectativa de retornos expressivos. Além de seu perfil declarado, na fase da aposentadoria não há como se “reconstruir” um patrimônio que possa ser consumido em uma alternativa que dê “errado” no curto prazo. O mais aconselhável é procurar preservar seu capital.
Se realmente você prescinde de suas reservas para o dia a dia, separe uma parte dos recursos para emergências em produtos com liquidez diária (fundos e títulos incentivados como Letras de Crédito do Agronegócio (LCA) e pense em alocar a maior parte do seu dinheiro em prazos mais longos. Letras Financeiras, com prazo de vencimento entre dois e três anos, oferecem uma remuneração superior à dos CDBs, pois não contam com garantia do Fundo Garantidor de Crédito.
Uma parcela dos seus investimentos poderia ser direcionada para ativos cujo retorno seja impactado pela inflação – consiste em uma forma de manter o poder de compra e diversificar um pouco, uma alternativa diferente do CDI. Como produtos, existem fundos de inflação, títulos de bancos (CDBs e Letras Financeiras) e títulos públicos federais (as NTN-B), entre outros que podem se adequar as suas necessidades.
Os fundos multimercados costumam complementar bem uma carteira, mas seria importante contar com a ajuda de um especialista para escolher aqueles com baixo grau de risco. Ainda assim, comporiam um percentual pequeno.
Ações podem compor parte de um portfólio conservador, porém com muita ponderação. Este tipo de ativo sofre fortes oscilações, às vezes os preços caem por períodos prolongados, por isso o horizonte de tempo de investimento se faz tão importante.
Considerando o fato de que realmente sua renda satisfaz seu padrão de vida, se for utilizar ações, procure produtos diferentes entre si, para não ficar sujeita a um único papel ou tipo de fundo. Como exemplo, é possível montar carteiras com ações das empresas tradicionais e grandes, mesclando com empresas mais jovens no mercado.
Para quem não tem familiaridade, pode-se investir em fundos de ações, misturando aqueles que seguem o índice Bovespa, por exemplo, com um fundo que procure montar seu portfólio com ações boas pagadoras de dividendos e um com empresas menores e mais jovens. Feito este “aviso” todo, a palavra para esta classe de ativos é “parcimônia”.
Porque falei da existência de herdeiros? Porque a estratégia para investimentos pode melhorar a sua alocação atual, mas não fará nenhum milagre. A ideia é preservar um recurso que foi conquistado. Entretanto, o veículo de investimento, o produto em si, pode trazer vantagens importantes para o patrimônio familiar.
No caso do VGBL, sob o aspecto investimento, não há incidência de "come-cotas" (imposto de renda semestral obrigatório) e a alíquota de imposto de renda pode ser decrescente conforme o tempo se alonga, chegando a uma mínima de 10% sobre os rendimentos a partir de 10 anos de permanência do investimento (contra uma mínima de 15% nos demais produtos).
Além disso, caso haja herdeiros, pode-se defini-los como beneficiários do VGBL e na sua falta, eles recebem os recursos em curto prazo, sem que fiquem bloqueados sob inventário. Também não há tributação estadual sobre herança (ITCMD), pois os valores recebidos são considerados como seguro. Estima-se uma economia de pelo menos 6% do patrimônio, o que nos dias de hoje equivale a quase um ano de investimento conservador.
Um bom VGBL pode ser uma excelente alternativa de investimento e planejamento patrimonial ao mesmo tempo, um veículo para, inclusive, implantar a diversificação de classes de ativos aqui comentada.
*Gisele Colombo de Andrade, CFP, é planejadora financeira pessoal certificada pelo Instituto Brasileiro de Certificação de Profissionais Financeiros (IBCPF).