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Como o pânico nas bolsas afeta sua aposentadoria

Os fundos brasileiros de previdência privada podem aplicar até 49% do patrimônio em ações; para especialistas, não é hora de sacar os recursos mesmo se houver perdas

Os mais jovens e os mais velhos devem ter sangue frio e paciência - e até ir às compras (Stock.xchng)

Os mais jovens e os mais velhos devem ter sangue frio e paciência - e até ir às compras (Stock.xchng)

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Da Redação

Publicado em 11 de agosto de 2011 às 10h01.

São Paulo – Em meio a tanta turbulência nos mercados, especialistas já se cansaram de afirmar que, para o investidor com visão de longo prazo, a atual crise não deve ser fonte de grandes preocupações. Para quem investe em renda variável com vistas à aposentadoria, então, a tensão deveria ser mínima. Mas não é exatamente isso que acontece. No Brasil, fundos de previdência privada podem investir até 49% do patrimônio em bolsa. Ainda que todos investidores que escolhem esse tipo de aplicação tenham por princípio um perfil de longo prazo, o que se vê em momentos como esse é que as pessoas resgatam recursos dos fundos mais expostos à bolsa porque tomam um susto quando verificam no extrato que houve eventuais perdas no valor da quota de um mês para o outro.

EXAME.com ouviu especialistas para saber o que cada tipo de poupador deve fazer nesse momento de incertezas com a quantia investida em bolsa para a aposentadoria. De maneira geral, todos concordaram que, mesmo para os que estão perto de se aposentar, o melhor é não fazer nada e esperar pela recuperação. Confira algumas dicas do que pode ser feito até lá:

Quem está perto de se aposentar e tem investimentos em Bolsa

Esse investidor, que está às portas da aposentadoria, até pode estar mais preocupado que os mais jovens porque talvez não tenha tempo de recuperar tudo o que tinha há alguns meses até a data em que planeja parar de trabalhar. Mas segundo especialistas em previdência e planejamento financeiro, se ele fez tudo certinho até aqui, deve, assim como os mais jovens, esperar pacientemente a recuperação dos mercados.

A renda variável pode fazer parte da carteira até o fim da vida do investidor, desde que ele tenha apetite por risco e robustas aplicações em renda fixa. Porém, o ideal é que o percentual do patrimônio aplicado em ações diminua com o tempo até ficar bastante reduzido às vésperas da aposentadoria. A composição da carteira também deve ir mudando, dando, aos poucos, preferência para os papéis que pagam bons dividendos.

Quem seguiu essas regras pode, num momento de crise como esse, respirar tranquilo. Primeiro porque o percentual aplicado em Bolsa será mínimo em relação a seu patrimônio total. “Faltando um ou dois anos para se aposentar, se o sujeito tem 5% dos investimentos em renda variável e a bolsa despenca 50%, ele vai comprometer apenas 2,5% do patrimônio, o que é um percentual ínfimo. Mesmo que se aposente, poderá esperar por uma recuperação”, exemplifica Eduardo Castro, superintendente executivo da Santander Asset Management.

Esse é o mesmo conselho de André Massaro, especialista em finanças pessoais da consultoria MoneyFit. Para ele, um investidor próximo da aposentadoria não deveria ter mais do que 15% do patrimônio em renda variável, e deve aguardar a recuperação, ainda que se aposente antes que ela aconteça. “Basta se preparar para mexer nas aplicações em renda variável por último”, afirma.


Em segundo lugar, o investidor que já aplica em renda variável há algum tempo certamente já colheu bons lucros no longo prazo até aqui, independente da desvalorização mais recente. Se esse for o caso e ele estiver satisfeito com sua conquista, já pode até migrar os recursos da Bolsa para a renda fixa ou para ações mais defensivas, boas pagadoras de dividendos.

“Se o sujeito está na Bolsa há 20 ou 10 anos já teve um ganho muito bom, principalmente entre 2003 e 2008. E ainda está no lucro. Essa crise atual apenas consumiu um pouco da ‘gordura’”, diz Wilson Müller, consultor do Vida Investe, programa de educação financeira da Fundação CESP. Veja uma amostra da rentabilidade que cinco ações entregaram em uma década.

O último fator que deve fazer o investidor pensar duas vezes antes de sacar esse tipo de aplicação é que a tributação cai à medida que o tempo passa. Como a alíquota de Imposto de Renda é alta e pode chegar a até 35% para quem fica menos de dois anos, a pessoa pode ser extremamente penalizada se não tiver paciência. É por esse motivo que os próprios gestores de fundos de previdência privada admitem que esse tipo de aplicação só vale a pena se o horizonte de investimentos alcançar ao menos oito anos.

Agora, se o investidor estiver realmente preocupado e resolver sair da Bolsa de qualquer jeito, mesmo realizando prejuízo, André Massaro nem pestaneja: “Tesouro Direto, não tem nem o que discutir”, afirma. Apesar do discurso geral para o investidor manter a calma, o consultor lembra que, se o estresse com o mercado for grande demais, o melhor mesmo é ficar de fora. “A pessoa tem que fazer o que é melhor para ela, mesmo que não seja a melhor decisão financeira”, alerta.

Quem ainda tem um bom tempo de acumulação pela frente

Para quem já está na Bolsa visando o longo prazo, o conselho do consultor André Massaro é categórico: “A melhor coisa que essa pessoa pode fazer é nada. Quem tem perspectiva de longo prazo, e principalmente quem tem ações que pagam bons dividendos, não deve se preocupar. Deve seguir o plano que traçou desde o início.”

Aqueles que tiverem recursos sobrando para investir em renda variável – ou mesmo quem decidir começar a investir para o longo prazo agora – pode ainda aproveitar a baixa para ir às compras, já que muitas ações ficaram baratas com tamanhas desvalorizações (saiba quais são esses papéis). “Mas é preciso ter uma estratégia. Não é simplesmente sair comprando porque está barato”, ressalva Augusto Sabóia, planejador financeiro e palestrante da Expomoney.


O que ele quer dizer é que o princípio de escolher ações baratas e com bons fundamentos continua a valer mesmo em tempos de crise. Para Salomão Santos, diretor de operações da iCash Investimentos, no momento atual pode-se dar preferência aos papéis mais defensivos, de concessionárias de serviços básicos, ou ainda aquelas mais voltadas para o mercado interno.

“Quem tiver bastante tempo para esperar, algo como cinco ou dez anos, pode até comprar ações de blue chips mais atreladas ao mercado externo, como Vale e Petrobras. Passada a turbulência, essas empresas voltarão a ser atrativas”, diz Santos.

Os investidores que acharem que investir em ações ou fundos de ações para a aposentadoria é emoção demais podem optar pelos fundos de pensão das empresas onde trabalham ou fundos de previdência abertos. Essas aplicações possuem incentivos tributários e são capaxes de equilibrar investimentos em renda fixa e variável de forma a não sofrer tanto com as crises. Alguns fundos permitem, inclusive, escolher entre os perfis conservador, moderado e agressivo de acordo com a idade do cotista.

O importante é entrar aos poucos

É difícil precisar quando o mercado vai se recuperar, mas especialistas dão como certo que isso não vai acontecer em menos de um ano. Ao mesmo tempo, também não se sabe qual é o fundo do poço, mas o investidor não deve ficar tentando acertar o que nem os profissionais conseguem fazer. Se agora é um bom momento de comprar ações, o ideal é fazê-lo aos poucos, de modo a aproveitar o período de baixa ao máximo.

O planejador financeiro Augusto Sabóia dá a dica: é melhor comprar ações em datas diversas a preços diferentes. Na hora de realizar os ganhos, vender a que rendeu mais em relação ao preço de compra. Se a ação comprada há dez anos por 10 reais hoje vale 50 reais, ela já rendeu um bom lucro. Porém, se o investidor comprou mais lotes dessa ação há cinco anos por 50 reais o papel, então, para esse montante investido, é melhor esperar pela recuperação. “O investidor escolhe para realizar seus lucros em datas diferentes”, diz Sabóia.

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