Fábrica da Gerdau: setor siderúrgico pode ganhar com a reconstrução do Japão (Miriam Fichtner/Pluf Fotos)
Da Redação
Publicado em 17 de março de 2011 às 09h50.
São Paulo - Em meio às incertezas que recaem sobre a tragédia no Japão e a possibilidade do país ser tomado por um desastre atômico, analistas são unânimes em um ponto: as consequências do tsunami que engoliu o nordeste da ilha ainda são difíceis de mensurar, mas exigirão um grande esforço de reconstrução.
No esteira do rastro nefasto deixado pelas águas, as empresas brasileiras que podem se envolver neste processo devem acabar se beneficiando. “Os números são pouco conclusivos e ainda precipitados, mas o que podemos ver é que haverá sim uma demanda adicional por aço, ajudando o setor siderúrgico”, diz Wagner Salaverry, diretor da Geração Futuro. “O Japão deixará de exportar e os preços devem melhorar em relação aos patamares atuais”, completa.
“Por vender vergalhões, a Gerdau é quem mais deve ganhar no longo prazo”, acredita Eduardo Oliveira, operador da UM Investimentos. Desde o desastre ocorrido na última sexta, os papéis da empresa subiram 5%. No mesmo período, a valorização das ações da CSN foi de 2,7%, enquanto o papel da Usiminas disparou nada menos que 6,5%.
De qualquer forma, Salaverry alerta que o investidor deve ter cautela e calibrar suas expectativas. “A tragédia não deve mudar a cara do setor, que ainda tem margens de lucro muito distantes daquelas conseguidas antes da crise de 2008.”
O próprio ministro do Trabalho, Carlos Lupi, admitiu que a siderurgia pode inclusive enfrentar um momentâneo corte de empregos, com a queda da demanda da indústria japonesa, especialmente a automotiva. Hoje, o aço corresponde a 46% do que o país exporta para o Japão.
As dúvidas também pairam sobre o reflexo da tragédia nos papéis da Vale, que deve 11% da sua receita às importações japonesas. De um lado, a paralisação do parque industrial japonês afeta a demanda por minério de ferro. De outro, as especulações sobre a mudança no comando da empresa e o imbróglio sobre a cobrança de royalties reforçam a chance do papel da mineradora ser penalizado no curto prazo.
Mesmo assim, o envolvimento no esforço de colocar o Japão de pé também deve favorecer a companhia. “A China é uma grande compradora de minério de ferro e pela sua proximidade com o Japão, deve continuar pressionando a demanda para ajudar na reconstrução do país”, relativiza Clodoir Vieira, economista chefe da Souza Barros.
Apesar das perspectivas, otimistas, Flávio Lemos, diretor da Escola de Investidores Trader Brasil, acredita que esta não é a hora de comprar mais papéis. “Não adianta se meter no meio de um vendaval, é preciso esperar a faca cair no chão. Os mercados mundiais estão amanhecendo em um mar de sangue”.
Petrobras
O impacto dos últimos eventos no Japão é mais nebuloso para as ações da Petrobras. Na opinião de Wagner Salaverry, da Geração Futuro, o petróleo ganha destaque diante de um momento de revisão das políticas de energia atômica. “A alternativa imediatamente pensada para suprir essa falta é o combustível fóssil. O mundo ainda não tem capacidade de gerar energia em grande escala de uma outra forma”.
Do dia do terremoto até o fechamento do pregão de terça, os papéis da Petrobras não absorveram essa virtual valorização, embora tenham oscilado muito pouco: as ações preferenciais caíram 0,4%, ao passo que as ordinárias subiram 0,2%.
“O Japão, que é um grande consumidor, está com a demanda reduzida, mas o petróleo deve se recuperar no médio e longo prazo”, diz Salaverry. A contenda na Líbia, que parece longe de uma solução imediata, também pressiona o aumento da commodity. Ainda assim, o mercado mostrou-se mais tranqüilo diante da possibilidade de uma escassez na oferta mundial, expectativa que vinha fazendo o preço do barril galgar degraus cada vez mais altos nas últimas semanas.
“A consequência para as ações da Petrobras será mais neutra”, avalia Eduardo Oliveira, da UM Investimentos. Segundo ele, empresas de energia renovável, ambientalmente corretas e que oferecem menos riscos à população podem ganhar mais destaque em decorrência dos eventos no Japão. “Talvez seja o caso da Ecodiesel no Brasil, mas ainda é muito cedo para afirmar.”
Alimentos e bancos
Com mais de 380.000 toneladas de frango brasileiro compradas em 2010, o Japão ganhou o título de segundo maior consumidor do alimento exportado pelo Brasil. “Em um momento de tragédia, é possível que esse movimento cresça ainda mais”, afirma Osmar Camilo, analista da Socopa. Na visão dos analistas, as vendas da BR Foods podem crescer caso a previsão seja confirmada. Por ora, o reflexo sobre os papéis da empresa segue tímido, com uma subida de apenas 0,9% desde o terremoto no Japão.
“É bom não olhar apenas para as companhias que vão ter alguma oportunidade com os problemas japoneses, mas para os papéis que foram muito prejudicados embora não tivessem ligação direta com os últimos acontecimentos”, diz Wagner Salaverry, da Geração Futuro.
Para ele, o investimento em bancos traduz essa opção. É verdade que o governo já anunciou que deve implementar novas medidas macroprudenciais para esfriar o consumo e a escalada de preços. Ainda assim, Salaverry acredita que o setor não apresentou desempenho de ponta no ano passado e já foi prejudicado em excesso pela leitura pessimista da situação macroeconômica. “Banco do Brasil, Itaú e Bradesco estão com múltiplos muito baixos, sendo que este é um setor protegido, que não fala em recuar no crescimento e que já foi bastante penalizado por conta da inflação”, diz.
Mauricio Rosal, analista da empresa americana de serviços financeiros Raymond James, também chama a atenção para o setor, principalmente se a recuperação do Japão, dono de quase 900 bilhões de dólares da dívida pública americana, infligir danos mais graves à economia mundial. “Neste caso, pode haver diminuição das exportações e no preço das commodities. O movimento favoreceria novo afrouxamento do crédito no Brasil, aquecendo o mercado doméstico e beneficiando os bancos”, escreve em relatório aos investidores.