Momento é propício para pôr um pouco de molho na carteira de renda fixa (Dreamstime.com)
Da Redação
Publicado em 3 de maio de 2012 às 08h00.
São Paulo – Com as sucessivas quedas na taxa Selic e a iminente mudança nas regras de rentabilidade da poupança, tem se tornado cada vez mais difícil ganhar dinheiro sem tomar algum risco. Não apenas o risco de mercado da renda variável, mas até mesmo risco dentro do próprio universo da renda fixa. Afinal, ainda é boa a hora para dar atenção aos investimentos prefixados e, principalmente, àqueles atrelados à inflação?
Ao lado da poupança, as aplicações que flutuam ao sabor da Selic são as menos arriscadas que existem. É o caso dos fundos DI e dos títulos públicos atrelados à taxa básica de juros, as LFTs. Eles se beneficiam da alta dos juros, o que não deve acontecer tão cedo no que depender do governo Dilma. Atualmente, com a Selic relativamente baixa, os fundos DI com altas taxas de administração já estão mais desvantajosos que a poupança. E com eventuais mudanças na rentabilidade da caderneta, os investidores terão que se contentar com retornos mais modestos nessas aplicações mais conservadoras.
Já as aplicações prefixadas – as NTN-Fs e as LTNs – e aquelas atreladas à inflação – as NTN-Bs – se beneficiam quando a perspectiva é de queda na taxa de juros. Por exemplo, desde o início do atual ciclo de queda de juros, as LTNs vem apresentando bons resultados. Nos últimos 12 meses, um papel com vencimento em janeiro de 2013 teve alta de quase 16%, enquanto que a LFT com vencimento em março de 2013 rendeu 11,34% no mesmo período. Além de fixar previamente uma taxa de juros, os papéis prefixados ou ligados à inflação também se valorizam quando a conjuntura lhes é favorável.
A escolha dos títulos vai depender muito do objetivo do investidor. Especialistas em finanças pessoais são unânimes ao dizer que a porção do patrimônio voltada para emergências e objetivos de curto prazo deve estar em aplicações muito líquidas – como a poupança – ou pós-fixadas, como os fundos DI e as LFTs.
Aplicar em outros tipos de títulos, porém, pode ser mais interessante quando o investidor busca maiores ganhos no longo prazo, ou pelo menos uma proteção, seja contra uma queda maior de juros, seja contra a queda de juros e contra a inflação simultaneamente. Tais papéis, portanto, são especulativos. Sua negociação se baseia em expectativas em relação à taxa de juros. E, por isso mesmo, são mais arriscados quando o investidor pensa em vendê-los antes do vencimento.
Ou seja, apenas uma parte das aplicações em renda fixa – e esse percentual depende do objetivo e do perfil de risco de cada um – deve ser voltada para aplicações prefixadas e atreladas à inflação. É aconselhável que todo investidor, até o mais arrojado, mantenha uma porção de seu patrimônio na renda fixa mais conservadora. “Agora, se você quer dormir tranquilo, sem ficar olhando para a grama mais verde do vizinho e pensando nos ganhos que você deixou de ter, fique apenas no CDI”, diz o economista Beto Veiga, especialista em renda fixa. Veja a seguir os riscos dos investimentos mais apimentados do Tesouro:
Prefixados: mais risco e incertezas
O governo quer continuar reduzindo a Selic, e a perspectiva de mudança na rentabilidade da poupança abre espaço para tal ao eliminar o piso que o rendimento fixo da caderneta representa para um corte maior nos juros. O último Boletim Focus, divulgado em 27 de abril, ainda mostrava o mercado a espera de uma Selic a 9% no fim do ano, com uma alta para 10% ao final de 2013. Porém, a negociação de juros futuros na BM&F vem mostrando contratos negociados a taxas de juros cada vez mais baixas. No pregão desta quarta-feira, os contratos com vencimento em janeiro de 2013 foram negociados a uma taxa de 8,16%, enquanto que aqueles que vencem em janeiro de 2014 fecharam em 8,57%.
Ainda é incerto se os títulos públicos prefixados terão grandes ganhos com novos cortes de juros. Afinal, esses papéis geraram bons lucros nos últimos meses, e o mercado já precifica as possíveis novas reduções na Selic: as LTNs com vencimento em janeiro de 2015 estão pagando 9,30% de juro prefixado nominal para quem as adquirir agora. Acima, portanto, da Selic atual, mas que só vai gerar ganhos em relação aos pós-fixados se a taxa de juros se mantiver menor que este patamar. Se a presidente Dilma Rousseff conseguir seu intento de levar o juro real par 2% até o final do seu mandato em 2014, e se a inflação se mantiver em patamares semelhantes aos atuais, a remuneração de 9,30% não terá sido nada má.
Por serem totalmente prefixadas, as LTNs e as NTN-Fs são os títulos públicos mais arriscados. Isso porque, se houver uma alta sustentada de juros, ou se a Selic não ficar abaixo da taxa prefixada, o papel tende a desvalorizar. Quem o vender antes do vencimento, nesses casos, vai perder dinheiro, pois terá que aceitar um bom desconto. Levar o título até o vencimento poderá ser a saída para garantir a rentabilidade prefixada, ainda que esta pudesse ter sido mais alta se o dinheiro estivesse investido em títulos pós-fixados.
Indexados à inflação: melhor custo benefício
Pode ser bem difícil para o pequeno investidor vislumbrar se a queda da Selic continuará sendo longa e sustentada, ainda que uma mudança na poupança tenha aberto essa perspectiva. Nesse sentido, as aplicações indexadas à inflação surgem como uma alternativa de risco intermediário entre as pós e prefixadas. Além de uma parte prefixada, a remuneração conta com uma fatia pós-fixada ao IPCA.
“A inflação é o melhor investimento. Porque se você apenas fixa a Selic, não está protegendo seu poder de compra. Já a aplicação pós-fixada em inflação protege você contra as altas de preços. Eu recomendo sempre esse tipo de investimento. A NTN-B é minha aplicação favorita”, diz Samy Dana, professor de finanças da FGV-SP. Por seu perfil, a NTN-B vai ao encontro da visão do professor sobre o mercado financeiro: “O mercado serve para manter valor, não para enriquecer”, conclui.
As NTN-Bs pagam uma taxa de juro real mais a inflação do período. A porção prefixada da remuneração, porém, tende a precificar uma Selic menor do que a taxa prefixada das LTNs de vencimentos próximos. Isso porque a garantia da variação da inflação é uma vantagem da NTN-B sobre as LTNs, que contam apenas com o juro prefixado. “Se você aplica em um papel prefixado, você trava o juro e também a inflação. Ou seja, tem que prever duas variáveis. Com uma NTN-B, você só tem que tentar prever o juro real”, diz Beto Veiga.
Por exemplo, se a LTN com vencimento para janeiro de 2015 paga um juro nominal de 9,30%, a NTN-B com vencimento semelhante – 15 de maio de 2015 – paga um juro real de 3,51%, fora o IPCA. Esse juro real corresponderia a um juro nominal de 8,16% ao ano se considerada uma inflação na meta, de 4,5%. Considerada a inflação atual, mais próxima de 5% ao ano, a remuneração equivaleria a um juro nominal de 8,68%.
Ou seja, essa NTN-B apresentaria ganhos mais robustos apenas se a Selic cair a algo como 8% ao ano, no mínimo, supondo-se que a inflação se manterá mais ou menos estável. Ao acabar com a remuneração fixa da poupança, o governo terá mais liberdade de reduzir os juros até abaixo desse patamar. Novamente, se o governo atingir o objetivo de levar a taxa de juro real a 2% ao ano até o final de 2014, um juro real fixado em 3,51% será vantajoso. Fora o fato de que, no caso das NTN-Bs, não será preciso sequer se preocupar com a inflação. Se o juro real ficar acima dessa taxa prefixada, porém, vender o título antes do vencimento encerra riscos próximos aos de um título prefixado puro.
A vantagem das NTN-Bs, portanto, está na indexação à inflação. Na pior das hipóteses, o poder de compra do investidor está completamente garantido. Assim, se ele decidir levar o título até o vencimento – que é o caminho de menor risco – ao menos a correção pelo IPCA é certa. Aí, mesmo se houver um surto inflacionário, o investidor está protegido. Isso é interessante especialmente para os títulos de prazo mais longo. A NTN-B mais longa negociada atualmente vence em 2045, e paga um juro real de 4,60%.
Mas atenção: o aumento da inflação não significa valorização das NTN-Bs. O poder de compra estará de todo modo garantido, mas o aumento de incertezas em torno do futuro dos índices de inflação pode levar o título a se desvalorizar. “Nesses casos, o mercado tende a pedir um prêmio mais alto do que a taxa já fixada para aquele título”, explica Silvio Samuel, coordenador da comissão de benchmarks da Anbima. Ou seja, ao se desfazer de uma NTN-B quando crescem as expectativas de aumento da inflação, o investidor abrirá mão ao menos de parte da rentabilidade alcançada até então.
O cenário para esses títulos é mais favorável, portanto, quando a inflação está controlada, ainda que um pouco elevada. Pelo menos para o final deste e do próximo ano, a expectativa do mercado é de uma inflação que fique entre 5% e 5,5% ao ano. De todo modo, quem optar por levar o título até o vencimento não corre o risco de perder sua rentabilidade, garantirá seu poder de compra e terá uma proteção contra maiores quedas da Selic no período.
Fundos de investimento: gestão profissional
Quem não tem tempo ou segurança para investir por conta própria no Tesouro Direto pode recorrer a um fundo de investimento em renda fixa – que pode aplicar em qualquer tipo de título público – ou a um fundo atrelado ao IMA-B, índice que mede o desempenho de uma cesta de NTN-Bs de diferentes vencimentos. Em 2011, estes últimos foram os fundos de renda fixa mais rentáveis do ano.
Esses fundos têm a vantagem da gestão profissional, que busca replicar ou até superar o índice – nos últimos 12 meses, o IMA-B acumulou alta de 19,25%. Há no mercado opções de fundos acessíveis a qualquer investidor e com taxa de administração abaixo de 0,5% ao mês. O custo rivaliza com o do Tesouro Direto, cuja taxa mínima (se consideradas as corretoras que não cobram taxa de administração) é de 0,3% ao ano referente à custódia, mais 0,1% a cada negociação.
Um cuidado especial em relação aos fundos que seguem o IMA-B é em relação à volatilidade. A volatilidade pode ser grande, como acontece com os títulos prefixados e as NTN-Bs, principalmente os de prazos mais longos. Por isso, é fundamental observar o momento do resgate. Se feito em um momento de incertezas em relação à inflação ou de alta da taxa de juros, o resgate das cotas sofrerá uma redução na rentabilidade.
Fundos de investimento em geral, contudo, são menos transparentes. Por isso, é preciso verificar, no prospecto, se o fundo pode investir em crédito privado, fazer operações com derivativos, fazer day trade ou operar alavancado. Se sim, certamente o risco será maior do que operar apenas títulos públicos. “Fundos são uma grande caixa preta. Cuidado com aqueles que têm remunerações muito altas. Eles podem estar, por exemplo, emprestando dinheiro para empresas de muito risco e baixa liquidez”, alerta o professor Samy Dana.