Minhas Finanças

Como investir em renda fixa pelo home broker

Além do Tesouro Direto, títulos de crédito privado já estão disponíveis na plataforma online

Carvalho: Investidor consegue liquidez praticamente diária. (Divulgação)

Carvalho: Investidor consegue liquidez praticamente diária. (Divulgação)

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Da Redação

Publicado em 12 de abril de 2011 às 07h12.

São Paulo - A corretora carioca XP Investimentos lançou, neste ano, o primeiro home broker de renda fixa do país. Além disso, analistas da área emitem relatórios periódicos com recomendações de títulos de dívida, nos moldes das análises de ações. O modelo se diferencia da forma como o restante do mercado trabalha, e pode ser considerado uma prévia do que está por vir nos próximos anos: uma maior presença do investidor pessoa física no mercado de crédito privado.

Pelo menos é isso que esperam o governo e as entidades que apoiam a criação do Novo Mercado de Renda Fixa, lançado na semana passada pela Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima) em parceria com o BNDES. Pulverização, maior liquidez, transparência e regras mais claras podem atrair o pequeno investidor a esse mercado atualmente dominado por investidores como bancos e fundos.

De 2009 para cá, uma série de emissões de títulos de renda fixa a valores unitários mais acessíveis começou a conquistar o investidor pessoa física. Sua participação nesse mercado, contudo, ainda é bastante tímida, não chegando nem a 1%. Falta de liquidez e de padronização para as emissões e negociações acabam restringindo um pouco a participação do varejo.

Como funciona o Home Broker

Foi nesse cenário de mudança lenta, mas esperada, que surgiu o home broker de renda fixa da XP. O objetivo foi reunir, numa mesma plataforma, diversos papéis da dívida privada negociados atualmente de forma dispersa. Os Certificados de Depósito Bancário (CDBs) e os títulos lastreados em crédito imobiliário, por exemplo, geralmente requerem que o investidor tenha uma conta na instituição que os negocia.

O caso das debêntures então é emblemático. Mesmo com a emissão de séries de valores unitários de até 1.000 reais, sua negociação só costuma se dar via mesa de operações, sendo que algumas instituições restringem o serviço a clientes de private banking.

A intenção da XP, por outro lado, foi permitir que seus clientes pudessem aplicar em alguns desses títulos de renda fixa usando uma mesma plataforma online, assim como fazem com ações e opções. Além de distribuir títulos públicos pelo Tesouro Direto, como já acontece com os home brokers da maioria das corretoras, o sistema da XP também dá acesso a debêntures e Certificados de Recebíveis Imobiliários (CRIs).


A corretora distribui também CDBs de diversos bancos, Letras de Crédito Imobiliário (LCIs) e Letras de Crédito do Agronegócio (LCAs), mas apenas via mesa de operações. Porém, a ideia é que esses ativos sejam, em breve, incorporados à plataforma eletrônica. “O próximo passo é incluir os CDBs. Até o fim do semestre pretendemos ter todos esses papéis disponíveis no home broker”, diz Bruno Carvalho, especialista em renda fixa da XP.

O sistema online da XP se assemelha ao de um home broker, mas não funciona da mesma maneira que a plataforma de negociação de ativos de renda variável. Isso porque no mercado de renda fixa não existe um pregão eletrônico ao qual os home brokers possam ser conectados. No home broker de renda fixa, portanto, não há negociação direta. O investidor compra e vende os ativos disponíveis na carteira da corretora.

“No caso das debêntures, nós deixamos os ativos à disposição com um preço de compra e um preço de venda. O cliente solicita a operação via internet e o negócio é fechado com intervenção humana”, explica Bruno Carvalho. É como fazer o pedido via mesa, mas com a comodidade do acesso online e da disponibilidade do ativo na corretora. “Se o cliente quiser um ativo que não esteja na carteira, aí tem que ser pela mesa”, esclarece Carvalho.

Da mesma forma, se quiser se desfazer do papel, o cliente consegue revendê-lo à XP, o que neutraliza, de certa forma, o problema de falta de liquidez. “A pessoa física consegue liquidez praticamente diária”, diz o economista. Outra vantagem é a ausência de taxas de corretagem, presentes na negociação de ações, ou de administração, como acontece nos fundos. A compra de CDBs não tem custo algum para o investidor, e a única taxa presente na negociação dos demais títulos privados é a de custódia, de 0,30% ao ano em média.

Em paralelo a isso, a XP também emite, para todos os seus clientes, relatórios periódicos com análises sobre cada produto de renda fixa, recomendações de investimento e desempenho da carteira. Essa prática já é adotada mesmo por outras instituições financeiras, como o BTG Pactual.

Os papéis

Para os pequenos investidores, estão disponíveis CDBs de diversos bancos e diferentes datas de vencimento com aplicação mínima de 5.000 reais. As debêntures, todas com baixo risco de crédito, costumam ter valor unitário de 1.000 a 10.0000 reais, podendo ser pré ou pós-fixadas. Finalmente, as LCIs, embora isentas de IR, têm preços mais salgados, exigindo uma aplicação mínima de 30.000 reais. Mas esse valor ainda é menor que o das LCIs distribuídas pela Caixa, com mínimo de 50.000 reais.


Também isentas de IR, as CRIs são voltadas apenas para investidores qualificados, aqueles que têm pelo menos 300.000 reais em aplicações financeiras. O papel, no entanto, já está disponível para o pequeno investidor na Caixa, não sendo a alta renda uma exigência universal. Comprar uma LCA também exige que o investidor seja qualificado, e possa aplicar no mínimo 100.000 reais.

Modalidade engatinha

Atualmente, a XP tem 200 milhões de reais custodiados para seus clientes pessoa física, valor pequeno perto dos quase 4 bilhões de reais custodiados em Bolsa. A disparidade entre o número de clientes também é grande. Frente aos quase 80.000 investidores que utilizam o home broker para operar ações apenas 2.500 já utilizam a plataforma destinada à renda fixa.

A corretora, porém, aposta nesse mercado, visando chegar a meio bilhão de reais em custódia e 10.000 clientes de home broker de renda fixa até o final do primeiro semestre deste ano. Mas só o tempo dirá se o investidor de varejo vai considerar que a nova modalidade vale a pena.

Afinal, adquirir papéis por conta própria significa concentrar o risco, ainda que baixo, que poderia estar diluído se o dinheiro fosse aplicado em um fundo de investimentos. Isso porque dificilmente um investidor de varejo terá bala na agulha para replicar a carteira de um fundo. Por outro lado, fundos de renda fixa voltados para pequenos investidores costumam cobrar taxas de administração um tanto salgadas em relação à módica taxa de custódia dos títulos.

O investidor também deve ter em mente que papéis que rendam menos que 100% do CDI podem não ser muito vantajosos frente ao Tesouro Direto. Além disso, títulos de crédito privado devem ser vistos como aplicações de longo prazo. Ainda que numa instituição como a XP seja possível ter liquidez quase diária, o preço de venda pode ser bastante arbitrário e corroer muito da lucratividade do negócio.

Por ora, o Novo Mercado de Renda Fixa é apenas um projeto, que prevê títulos de valores unitários mais baixos, padronização dos papéis e das negociações, pulverização do mercado, formadores de mercado para garantir liquidez, entre outras medidas que devem facilitar a entrada do investidor de varejo nesse universo. “O investidor só tem a ganhar. As companhias vão estar mais transparentes e liquidez é bom para todo mundo”, afirma Bruno Carvalho, da XP.

Mesmo assim, por enquanto, home brokers que facilitam a operação de renda fixa pelos investidores de varejo ainda não devem se disseminar, dada a inexistência de meios de negociação que permitam esse acesso eletrônico. “Mas se houver essa possibilidade, é lógico que a corretora pretende disponibilizar uma plataforma desse tipo para os seus clientes”, diz Robson Queiroz, diretor operacional da SLW, corretora que tradicionalmente opera CDBs e debêntures, além de títulos públicos.

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