Seguro de carro: para evitar prejuízos o melhor é consultar quem entende do assunto (Minerva Studio/Thinkstock)
Da Redação
Publicado em 1 de abril de 2016 às 14h57.
Na teoria, seguro de carro é um negócio simples: você paga um valor anual e recebe a garantia de que terá as despesas ressarcidas em caso de acidente ou roubo.
Na prática, saber qual o melhor negócio para você e, principalmente, como funciona o seu seguro é bem mais complicado.
Há uma falta de conhecimento crônica dos motoristas sobre o que suas apólices contemplam, além de uma opacidade das seguradoras sobre condições de uso e cálculo dos prêmios.
Para evitar prejuízos, portanto, o melhor é consultar quem entende do assunto. Foi o que fizemos: o diretor-executivo da Federação Nacional de Seguros Gerais (FenSeg), Neival Freitas, nos ajudou a entender como funcionam bônus, prêmios, franquias reduzidas e ampliadas para saber a melhor maneira de agir em caso de sinistro.
Veja a seguir situações hipotéticas que dão uma boa dimensão de como é possível gastar menos com seguro.
Pago a franquia ou o conserto?
Bônus é um desconto que você ganha na renovação do seguro caso ele não tenha sido utilizado no ano anterior.
E esse desconto é progressivo: quanto mais tempo você passar sem incidentes, maior será sua recompensa, ou sua “classe”, para usar o termo das apólices.
Essa é a parte que todo mundo entende. O problema é: se você usar o seguro, qual o tamanho do desconto que você perderá na sua próxima apólice? Vale a pena, por exemplo, não acionar o seguro só para não baixar de classe?
A resposta exata é que o bônus varia caso a caso – e as seguradoras não gostam muito de mostrar como o cálculo da renovação será feito.
Mas dá para estimar, segundo Neival Freitas, que cada classe de bônus corresponde a cerca de 5% da apólice, podendo superar esse valor.
Na classe máxima, que é a 10, o desconto chega a 50%. Em caso de sinistro, você desce um degrau na classe do seu desconto. Degrau que você voltará a subir no ano seguinte, caso não acione a seguradora.
Pense na seguinte situação: José tem um carro de R$ 75.000. Seu seguro custa 8% do valor do carro, ou R$ 3.000. Mas ele tem a classe máxima de bônus, e por isso paga apenas R$ 1.500.
José bobeou no estacionamento e pegou uma pilastra.O conserto foi estimado em R$ 2.100. A franquia é de R$ 2.000.
Em uma análise superficial, o que parece dar menos despesa é pagar a franquia, mas não é bem assim. Usar o seguro para o conserto tira uma classe de bônus do segurado.
Cada classe de bônus corresponde a pelo menos 5% do valor da apólice, ouR$ 150 de desconto.
Desse modo, o conserto pelo seguro vai custar cerca de R$ 2.150 – soma da franquia, mais a perda de bônus. E pode até ser mais.
“O objetivo da franquia é reduzir os gastos da seguradora com pequenos consertos – que, além do reparo em si, incluem guincho, técnicos de avaliação e por aí afora. A ideia é criar um valor mínimo para que essa estrutura seja acionada”, diz Freitas.
Quando precisar consertar o carro, não deixe de levar o bônus em consideração. Ele é parte da despesa. Ou da economia.
Causei um acidente. Aciono o seguro para terceiros?
João não viu o carro que estava atrás de seu jipe enquanto dava ré. O para-choque não foi afetado, mas a lateral do outro carro foi danificada.
Correto, João procurou o dono do carro e se dispôs a pagar o conserto, orçado em R$ 500.
O seguro do jipe de João custa R$ 10.000 e ele tem classe de bônus 4, o que reduz o preço para R$ 8.000. Entre as coberturas está a de responsabilidade civil.
O valor dessa cobertura, opcional, varia de acordo com a proteção. Normalmente, ela equivale a cerca de 25% do custo total do seguro.
A cobertura a terceiros, neste caso específico, responderia por aproximadamente R$ 2.500 dos R$ 10.000.
Também há bônus para essa cobertura. No caso do seguro de João, ela também é de classe 4. Isso faz seu valor cair para R$ 2.000.
Se acionar o seguro para terceiros, João não terá custos diretos, já que não existe franquia nesses casos, mas perderá uma classe de bônus, equivalente a R$ 125.
Compensa. Só não compensará no caso de uma cobertura muito alta, na qual a perda do bônus ultrapasse o valor do conserto.
Ou seja: quase nunca. De todo modo, lembre-se de calcular quanto de bônus e quanto de conserto você terá de pagar. Se precisar, peça a ajuda de seu corretor na tarefa.
Franquia reduzida é sempre vantajosa?
Ao contratar um seguro, você vai receber ofertas de comprar franquia reduzida e ampliada. Na primeira, o seguro é mais caro, mas a franquia para consertos é menor.
Na segunda, é o contrário: ela derruba o preço de contratação, mas aumenta a parte que você cobrirá sozinho em caso de acidentes. Pense no seguinte caso: Joaquim precisa contratar o seguro de seu carro novo, que custa R$ 150.000.
Custaria R$ 12.000 se ele não tivesse classe de bônus 10. Com isso, o seguro sai por R$ 6.000.
A franquia é deR$ 3.000, mas ele pode optar pela versão reduzida de R$ 1.500, que por sua vez aumenta o valor do seguro para R$ 7.500. Bom negócio?
A resposta é um efusivo não. Joaquim não tem perfil de risco para acidentes, ou seja, dificilmente terá que pagar franquia. Já o seguro, ele paga todo ano.
Talvez fosse vantagem contratar a franquia ampliada, que reduz o valor do seguro. Mas não é bem assim.
Enquanto a franquia reduzida aumenta o valor do seguro absurdamente, a aumentada diminui o custo muito pouco. Imaginemos que ele amplie a franquia para R$ 6.000.
O valor do seguro será de R$ 5.800, em média. R$ 200 de economia por ano podem fazer diferença, mas não o suficiente para compensar o prejuízo deR$ 3.000 que ele teria ao ter de pagar a franquia mais cara por um eventual acidente que provoque.
Como reduzir o seguro
Seguro é coisa que só pode ser reduzida com pesquisa, correto? Na maior parte dos casos, sim.
Escolher a seguradora que ofereça os melhores preços é o melhor caminho para economizar, desde que você contrate uma empresa que não faça jogo duro para pagar indenizações.
“Os preços variam muito. Um carro com seguro alto em uma empresa pode ter um valor de contratação bem mais baixo em outra. Tudo depende da experiência de cada seguradora com sua carteira”, diz Freitas.
Em outras palavras, um carro que dá prejuízo para uma empresa, e tem seguro alto, pode ser aceitável para outra.
Outra opção, que vale para todas as seguradoras, é o uso de rastreador. “Há empresas que oferecem o rastreador na própria contratação do seguro, mas se o carro já dispuser de um, certamente haverá desconto”, diz Freitas.