"Carro-bomba": a fala macia e o excesso de qualidades anunciadas podem esconder algumas artimanhas utilizadas por vendedores inescrupulosos para disfarçar imperfeições (Stefan/ Quatro Rodas)
Da Redação
Publicado em 11 de abril de 2016 às 11h56.
"Esse aqui está 10, patrão. A dona só usava para ir ao supermercado. E o motor ainda está amaciando.” Esse é um tipo de discurso fácil de ser ouvido numa loja de carros usados.
Mas a fala macia e o excesso de qualidades anunciadas podem esconder algumas artimanhas utilizadas por vendedores inescrupulosos para disfarçar imperfeições ou defeitos graves no automóvel à venda.
Por isso, o ideal é sempre que possível levar um mecânico de sua confiança para inspecionar o veículo no momento da compra.
Descubra a seguir alguns truques que lojistas de má-fé utilizam para empurrar o automóvel que só depois o dono vai descobrir se tratar de uma bomba-relógio.
Adesivo? Essa não cola!
Atenção com carroceria com adesivos ou totalmente envelopada. Esse é um truque recente, mas que já é usado na periferia das grandes cidades.
A moda dos carros cobertos por películas foscas tem um efeito colateral: o material pode estar lá para esconder arranhões na lataria, desgaste na pintura ou até marcas de ferrugem. Pior ainda são os chamados “bomber sticks”, adesivos colados em apenas uma parte do carro.
Como são multicoloridos, tornam-se um pesadelo para quem procura ondulações e vincos numa carroceria.
Quanto mais rodado o automóvel, maior a possibilidade de a adesivação ser utilizada para disfarçar defeitos.
Esse recurso lembra um truque usado nos anos 70, quando o teto de vinil era oferecido como opcional no Chevrolet Opala.
Muitos aplicavam depois esse vinil como forma de disfarçar veículos que tinham sofrido um capotamento.
Pó mágico
Câmbio que arranha nas trocas de marchas em geral requer conserto caro, já que a caixa precisará ser desmontada até para fazer o diagnóstico exato.
Antes de passar o carro adiante, alguns vendedores colocam pó de serragem para ajudar a mascarar os ruídos.
O câmbio ficará um pouco mais duro, porém vai sumir a maior parte dos rangidos na hora de fazer as mudanças de marcha.
Frito no óleo
Quando o motor começa a perder compressão, a ponto de exigir uma retífica, ou mesmo quando há alguns sinais de vazamento, há lojistas que utilizam um recurso difícil de descobrir.
Eles colocam no motor óleo lubrificante bem mais viscoso do que o previsto no manual do proprietário.
Às vezes até óleo de caminhão é usado com essa finalidade. O objetivo é preencher as folgas internas e evitar que o lubrificante suba para a câmara de combustão, o que geraria uma fumaça preta ou azulada.
Aqui, o comprador precisaria ter ouvido de maestro para tentar detectar pequenas batidas diferentes no motor, que lembram levemente um tec-tec-tec de motores diesel.
Passa a borracha
Até a década de 80, o interior do porta-malas dos automóveis era revestido de uma tinta emborrachada, chamada quantil. O material era aplicado no interior como revestimento fonoabsorvente.
Hoje, se você encontrar um veículo com essa tinta, desconfie, pois alguns a utilizam para mascarar marcas de solda ou outros consertos na parte interna da lataria.
Retoque na maquiagem
Carro velho com pintura muito brilhante e lisa pode esconder um truque, que é o uso de ceras coloridas.
Elas ajudam a disfarçar pequenas diferenças causadas por repinturas malfeitas. Muitas vezes, o motorista só percebe depois que manda lavar o carro na próxima vez.
Para descobrir a artimanha é preciso verificar com atenção a carroceria em busca de riscos que podem estar encobertos pela cera. Ao passar um lenço de papel por cima, ela sai e revela o defeito na tinta.
Lavou, tá novo!
Mais um recurso para disfarçar vazamentos: mandar lavar o motor para dar a aparência de estar em perfeito estado.
Cuidado. O fato de ele não apresentar marcas de vazamentos não significa que eles não existam.
É até preferível comprar um carro cujo motor esteja sujo de poeira e terra, pois mostra que ele provavelmente nunca foi aberto.
Além disso, nenhuma fábrica hoje recomenda lavar o motor periodicamente, a não ser em caso de enchentes ou uso severo fora da estrada, pois sempre há o risco de a água danificar componentes eletrônicos.
Detetor de mentiras
Pesquisas das seguradoras indicam que os brasileiros rodam, em média, de 12 000 a 15 000 km por ano. Automóvel com quatro anos que registre menos de 50 000 km é para se desconfiar.
A propósito, os hodômetros digitais, ao contrário do que as fábricas indicam, são facilmente adulteráveis.
A ferramenta usada é a mesma que ladrões levam para furtar carros: uma espécie de laptop apelidado pela polícia de “chupa-cabra”, que engana o módulo da injeção eletrônica.
A melhor maneira para descobrir o truque é checar no manual se as revisões estão carimbadas com as quilometragens corretas ou levar a uma autorizada e convencer um funcionário a conectá-lo num scanner oficial da marca, que pode revelar a quilometragem real do veículo.
Mas é bom saber que esse procedimento não é endossado pela fábrica e, portanto, é mais um favor do que um serviço obrigatório da concessionária.
Debaixo do tapete
Para disfarçar rangidos da suspensão, alguns lojistas pulverizam a parte inferior da carroceria com fluido de transmissão automática ou algum outro tipo de óleo.
Antes de fechar negócio, peça para colocar o veículo em um elevador de posto de combustível, por exemplo.
Manchas de óleo no assoalho são sempre um mau sinal, já que esses fluidos contaminam todas as borrachas e podem atacar as buchas e as mangueiras de freio.
Levou um couro
Você entrou no carro e adorou o volante e a alavanca revestidos de couro que parece novos em folha?
Cuidado: num automóvel com mais de três ou quatro anos de uso essas peças não podem parecer que acabaram de sair da loja, pois o couro se desgasta com certa facilidade no contato constante da mão com essas peças.
Isso pode ser uma estratégia para esconder que as duas peças estão desgastadas demais, indicando que o veículo tem quilometragem muito maior do que parece.
Às vezes o volante original era de plástico, mas ganhou o couro só para disfarçar o excesso de uso, o que nesse caso geralmente passa dos 60 000 km.