Para evitar gastos compulsivos, é preciso se conhecer, para descobrir o motivo deles. (LightFieldStudios/Getty Images)
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Publicado em 9 de agosto de 2024 às 16h00.
Mais de 66 milhões de brasileiros estão endividados. Quem afirma isso é a Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL) e o Serviço de Proteção ao Crédito (SPC) com base em um levantamento feito em conjunto e divulgado em março deste ano. Significa que quatro em cada dez brasileiros adultos estavam negativados no mês anterior, o que pode ter a ver com gastos compulsivos.
O patamar apurado representa um salto de 2,79% em relação a fevereiro de 2023. Na época do levantamento deste ano, cada consumidor negativado devia, em média, R$ 4.399,90 na soma de todas as dívidas.
Outra pesquisa elaborada em conjunto pelas duas instituições ajuda a entender as causas do problema. Ela constatou que 35% dos inadimplentes residentes nas capitais do país não fazem a gestão do que entra e sai do bolso.
As principais razões apontadas para a falta de controle orçamentário: 18% alegaram que já fizeram algum tipo de gestão de gastos e ganhos, mas que ela não serviu para nada; 15% disseram que não têm disciplina para controlar despesas; 15% afirmaram que não têm tempo para isso; 15% disseram acreditar que “controlar de cabeça” já é o suficiente; e 13% alegaram que não sabem fazer esse tipo de controle.
“É preocupante que um percentual tão expressivo da população não utilize um método sistemático para organizar as próprias contas e gastos”, afirmou o presidente da CNDL, José César da Costa, quando esse levantamento foi divulgado, agora em julho. “Não importa a ferramenta, o importante é que o consumidor não se desorganize financeiramente.
Algumas pessoas têm facilidade com planilhas ou aplicativos, mas outras não. O fundamental é sempre registrar tudo o que se ganha e se gasta, e jamais confiar na memória porque ela falha”.
As despesas mais controladas, constatou o mesmo estudo, envolvem gastos recorrentes — com energia elétrica, água, aluguel, condomínio, mensalidade escolar e por aí vai.
Do total de inadimplentes, 40% consideram bom ou ótimo o próprio conhecimento sobre gestão financeira. Quantos admitem que gastam mais dinheiro do que o orçamento permite? Mais da metade (53%). E 46% disseram que quase sempre cedem aos próprios impulsos consumistas. Mais: 40% confessaram que se endividaram porque o prazer de comprar é maior do que o controle financeiro.
“As emoções são um fator determinante de como o dinheiro é usado”, declarou o presidente da CNDL. “Percebe-se, pela pesquisa, que a falta de controle financeiro está muitas vezes ligada à situação emocional e a crenças sobre o dinheiro do consumidor, sobretudo no que diz respeito ao consumo por impulso”. Não por acaso, 38% dos respondentes admitiram que já fizeram compras não planejadas para se sentirem melhores e se valorizarem.
A solução, afirma a psiquiatra Karine Higa, passa pelo autoconhecimento. “Para evitar gastos compulsivos, é preciso se conhecer, para descobrir o motivo deles”, argumenta.
“As compulsões estão associadas a sentimentos como tristeza, ansiedade ou estresse. É para aliviá-los, geralmente, que fazemos compras por impulso. Há mulheres, por exemplo, que, quando não estão se sentindo bem com a própria aparência, correm para o shopping, na esperança de que o desconforto vá passar com uma tarde de compras”.
Não se resolve uma compulsão com um passe de mágica, alerta a psiquiatra. Algumas dicas, no entanto, podem ajudar a diminuir o problema. “Recomendo que pessoas que fazem gastos compulsivos tentem não comprar por impulso”, Higa aconselha. “Sentiu vontade de adquirir algo? Espere 24 horas antes de efetuar a compra. Pode ser que o interesse deixe de existir depois desse tempo”.
Outra dica valiosa é tentar aplacar de outra forma os anseios que motivam os gastos compulsivos. “Atividades que proporcionam alívio e prazer, como exercícios físicos, costumam ser bem mais efetivas”, conclui a psiquiatra. Faz sentido: ninguém se sente culpado depois de queimar calorias. Já quem gasta além do que pode…