Minhas Finanças

ETF é ruim para quem tem pouco dinheiro

Apesar da diversificação e do baixo custo de administração, despesas com a corretora podem inviabilizar o investimento

ETFs têm cotas negociadas em Bolsa e dependem de conta em corretora (Nilton Fukuda/AGÊNCIA ESTADO)

ETFs têm cotas negociadas em Bolsa e dependem de conta em corretora (Nilton Fukuda/AGÊNCIA ESTADO)

DR

Da Redação

Publicado em 30 de dezembro de 2013 às 09h54.

São Paulo – Quem gosta de ter uma parte de seu patrimônio atrelada a índices da Bolsa, a fim de surfar a tendência nas épocas de euforia dos mercados, encontra nos ETFs uma opção geralmente barata, com taxas de administração muito inferiores às dos fundos passivos comercializados por bancos e gestoras. Porém, ao contrário do que pode parecer, essa diferença de custos nem sempre se reflete em rentabilidade líquida maior para os ETFs em relação aos demais fundos indexados; e os custos adicionais com corretagem e custódia podem minar ainda mais os rendimentos.

Um estudo da FGV-SP mostra que, embora “de maneira geral” os ETFs apresentem “rentabilidade superior às rentabilidades dos fundos indexados ao mesmo índice”, nem sempre seu retorno líquido fica em primeiro lugar em relação a seus pares. O levantamento da pesquisadora Elaine Cristina Borges e do professor William Eid Júnior, ambos do Centro de Estudos em Finanças da FGV-SP, comparou fundos indexados ao Ibovespa, ao IBrX e ao índice Small Caps aos seus respectivos ETFs nos últimos dois ou três anos.

O ETF BOVA11, que acompanha o índice Bovespa, ficou apenas em 10º lugar em rentabilidade em 2009, numa comparação com mais 19 fundos e o Ibovespa. Enquanto o 1º colocado rendeu 71,1% e o Ibovespa acumulou alta de 70,4%, a rentabilidade líquida do BOVA11 foi de 67,2%. Nos dois anos seguintes, porém, o BOVA11 apresentou a mais alta rentabilidade líquida de todos os fundos comparados, superando inclusive o Ibovespa: 1,9% em 2010, superando a queda de 1,1% do Ibovespa, e -18,2% em 2011, queda menor que a retração de 18,9% do Ibovespa.

O ETF BRAX11, cujo desempenho foi avaliado nos anos de 2010 e 2011, teve bons resultados, mas também não foi o primeiro colocado em nenhum dos dois anos. Em 2010, o ETF ficou em quarto em comparação com outros 15 fundos e o IBrX, com rentabilidade de 6,2%. O primeiro colocado rendeu 6,7% e o benchmark teve alta de 6,6%. Já em 2011, o ETF só perdeu para um fundo e para o próprio índice, ficando em terceiro lugar. Enquanto o BRAX11 teve queda de 12,3%, o IBrX caiu 12,2% e o primeiro colocado caiu 11,8%.

Finalmente, o ETF SMAL11 foi, dos três ETFs estudados, o que apresentou os piores desempenhos dentro de seu grupo. No ano de 2009, o SMAL11 ficou em sétimo lugar, face a outros 22 fundos e ao índice Small Caps. A rentabilidade foi de 129,6%, um pouco acima do benchmark, que subiu 128,5%; o primeiro colocado rendeu 150,2%. Em 2010, o SMAL11 ficou em 10º lugar, com rentabilidade de 23,1%, novamente à frente dos 21,8% do índice Small Caps, mas bem atrás do rendimento de 43,2% do primeiro colocado. Em 2011, o desempenho do ETF caiu novamente, para 18º lugar, com queda de 17,6%. Naquele ano, o índice Small Caps retraiu 17,2%, e o fundo mais bem sucedido da amostra rendeu 3,1%.

Outros custos pesam para ETFs

O estudo da FGV considerou todos os fundos já líquidos de taxas de administração, mas não levou em conta outros custos envolvidos na negociação de ETFs que podem prejudicar ainda mais a rentabilidade. Embora sejam fundos indexados, os ETFs têm suas cotas negociadas em Bolsa como se fossem ações. Portanto, estão sujeitos à cobrança das taxas de corretagem, de custódia e dos emolumentos pagos à Bolsa, assim como outros ativos de renda variável.


As taxas de administração dos ETFs são bem baixas em comparação às dos demais fundos de investimentos em ações. Para o BOVA11 e o BRAX11 é cobrada uma taxa de 0,54% ao ano, enquanto que para o SMAL11, o percentual é de 0,69% ao ano. Na outra ponta, a média das taxas dos fundos de ações costuma girar em torno de 2% ao ano, sendo normalmente um pouco mais baixa para os fundos indexados, algo como 1,5% ao ano. Mesmo assim, dependendo do valor investido e dos custos de corretagem e custódia, pode valer mais a pena aplicar num fundo passivo comum, de taxa mais alta.

De modo geral, quanto maior o valor aplicado, mais vale a pena o ETF, pois o volume é capaz de diluir os custos com corretagem e custódia, restando pouco impacto sobre a rentabilidade. Se o valor de aplicação for baixo ou se a frequência dos aportes for alta – o que acarretaria repetidas cobranças de corretagem – o fundo passivo comum é melhor. Se o tempo de aplicação for longo e a corretora cobrar taxa de custódia, certamente a rentabilidade do ETF será corroída.

Por exemplo, 1.000 reais aplicados no ETF BOVA11 em 2009 teriam rendido 67,2% líquidos de taxa. Considerando uma aplicação de 12 meses, com um único aporte de recursos, e uma corretagem de 5 reais por ordem sem cobrança de taxa de custódia, essa rentabilidade anual cairia para 66,7%, um impacto relativamente pequeno. Já se fosse cobrada uma corretagem de 12,50 por ordem e uma custódia de 25 reais (um custo total de 312,50 reais), a rentabilidade cairia para 35,95%.

Se a aplicação fosse de 100.000 reais, porém, em ambos os casos os custos ficariam tão diluídos que praticamente não fariam diferença. No primeiro caso, o gasto com corretagem é tão baixo que a rentabilidade permaneceria a mesma, 67,2%; no segundo caso, cairia apenas para 66,88%.

O professor de finanças do Insper Liao Yu Chieh fez um cálculo que mostra até que valores de aporte o fundo passivo vale mais a pena do que o ETF. Chieh comparou um BOVA11 a um fundo passivo de taxa de 2% ao ano, ambos com rentabilidade bruta de 20% em um ano, para um aporte único que permaneça aplicado por 12 meses. No cenário mais barato – corretagem de 5 reais e sem custódia – a aplicação no ETF já vale a pena a partir de um aporte inicial de 311 reais. Já no cenário mais caro – corretagem de 12,50 e custódia de 25 reais – o fundo passivo vale mais a pena até um aporte inicial de 19.458 reais.

É claro que esses valores mudam de acordo com os parâmetros, e não há como adivinhar qual será a rentabilidade em um determinado ano. Ainda assim, vale a regra de preferir os baixos custos, tanto para um bom fundo passivo quanto para as taxas das corretoras onde se pretende aplicar em um ETF. Prefira a corretagem barata – principalmente se a ideia for fazer aportes regulares – e as corretoras que não cobram taxa de custódia, certamente a despesa mais pesada para quem segura ativos de renda variável.

Acompanhe tudo sobre:aplicacoes-financeirasCustódiaETFsFundos de investimentofundos-de-acoesGuia de AçõesMercado financeirorenda-variavelTaxas

Mais de Minhas Finanças

Nova portaria do INSS suspende por seis meses bloqueio de benefícios por falta de prova de vida

Governo anuncia cancelamento do Bolsa Família para 1.199 candidatos eleitos em 2024

Nota Fiscal Paulista libera R$ 39 milhões em crédito; veja como transferir o dinheiro

Mega-Sena concurso 2.816: aposta de Indaiatuba (SP) ganha prêmio de R$ 37,3 milhões